Início

“O peso emocional diminui. As coisas ficam mais fáceis de lidar”

“O peso emocional diminui. As coisas ficam mais fáceis de lidar”

Em 1989, Jennifer Besse veio ao mundo com HIV, em um país que ainda não sabia evitar a transmissão vertical, e construiu, entre perdas e retomadas, um caminho que hoje se materializa em um estágio em um laboratório de Cannabis medicinal na Suíça

Publicado em

16 de dezembro de 2025

• Revisado por

Jornalista e pós-graduada em Filosofia e Literatura, com 13 anos de experiência em comunicação, conteúdo e estratégias digitais. Atuou como repórter, redatora, roteirista, ghost writer e head de conteúdo. Especialista em Thought Leadership e storytelling, acredita no poder das narrativas para conectar pessoas e ideias.

Em 1989, Jennifer Besse nasceu com HIV, em um período em que a transmissão vertical — quando o vírus passa da mãe para o bebê durante a gestação, o parto ou a amamentação — ainda fazia parte da realidade brasileira. Em meados da década de 1990, após a morte da mãe, o diagnóstico passou a ocupar o centro da sua história. Agora, em dezembro, o país foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o maior do mundo a eliminar a transmissão vertical do HIV como problema de saúde pública, marco sustentado pelo fortalecimento do SUS e pelo acesso amplo a diagnóstico e tratamento capazes de tornar o vírus indetectável e intransmissível.

A trajetória de Jennifer atravessa essa virada histórica: entre um tempo marcado pela perda precoce e pela escassez de recursos terapêuticos, e outro em que viver com HIV passou a significar diagnóstico precoce, controle viral e a chance de escrever novos capítulos de sua própria história.

Infância, adolescência e os desafios da adesão ao tratamento

Professora de francês e hoje vivendo em Genebra, na Suíça, Jennifer reúne uma história marcada por interrupções e retomadas, atravessada pela busca constante de aderir ao próprio cuidado em um contexto de estigma, perdas precoces e exaustão emocional. A morte da mãe, ainda na infância, coincidiu com o período em que o diagnóstico passou a fazer parte da sua vida. Durante a adolescência, a relação com a medicação foi instável, uma dificuldade que ela reconhece como recorrente entre pessoas que vivem com HIV desde o nascimento.

Existe uma questão social enorme. Eu passei a adolescência inteira sem aceitar direito a medicação”, conta. A não adesão acabou comprometendo sucessivos esquemas terapêuticos ao longo dos anos.

Aos 23 anos, veio um dos momentos mais críticos da sua trajetória. Após perder diferentes opções de tratamento por uso irregular, a carga viral subiu de forma expressiva e a imunidade despencou.

“Cheguei a quatro milhões de cópias do vírus. Isso é o que a gente chama de estágio de Aids, porque o CD4, conjunto de células responsáveis pela defesa do organismo, fica muito baixo”, explica. À época, a sensação era de esgotamento das possibilidades disponíveis.

Uma nova possibilidade terapêutica

O ponto de virada surgiu com a chance de acesso a um novo protocolo de tratamento. “Minha sorte foi que abriu um estudo com uma medicação específica para casos como o meu. Fiz os exames, deu certo e comecei a tomar”, relembra. Cerca de um ano e meio depois, os resultados apareceram: a carga viral voltou a ficar indetectável. “Saí do quadro de AIDS e voltei a ser uma pessoa que vive com HIV.”

Foi nesse momento de retomada do controle da saúde que a Cannabis entrou na sua trajetória — não como substituição, mas como suporte. A indicação veio de pessoas próximas, em um período em que os efeitos colaterais dos antirretrovirais dificultavam a continuidade do tratamento. “O enjoo, a náusea, aquela sensação ruim quando você está ingerindo os remédios… isso atrapalha muito”, relata.

Segundo Jennifer, a Cannabis ajudou justamente a sustentar o que era essencial: a adesão ao tratamento. No Brasil, Jennifer contou com uma rede de apoio atenta que possibilitou a integração da Cannabis ao seu cuidado. A condução médica do processo ficou a cargo do Dr. Jimmy Fardin Rocha, médico do portal Cannabis & Saúde, que orientou o uso de forma integrada ao tratamento convencional.

Com o tempo, a experiência despertou um interesse mais profundo pela planta e seus usos terapêuticos. Essa aproximação influenciou escolhas pessoais e profissionais, levando Jennifer a buscar formação e a se aproximar de iniciativas ligadas à saúde.

Na Suíça, Jennifer iniciou nesta semana, na segunda-feira (15), um estágio em um laboratório que atua com derivados da Cannabis voltados à área da saúde. O início do trabalho representa a materialização de um percurso construído com persistência: a chance de transformar experiência em caminho e história pessoal em possibilidade concreta de futuro.

 

Quando o cuidado se amplia

Entre os desafios mais recentes, Jennifer enfrentou um quadro de burnout e depressão, passando por acompanhamento psiquiátrico e psicológico. O diagnóstico de TDAH ajudou a reorganizar sua compreensão sobre dificuldades antigas, especialmente relacionadas à constância.

“Isso explica muita coisa na minha vida”, afirma. Nesse contexto, a Cannabis voltou a aparecer como ferramenta de suporte, integrada a outros cuidados, sem ocupar um lugar isolado ou central.

Ao longo da sua trajetória, Jennifer observa que os benefícios associados ao uso da Cannabis vão além de um único aspecto. Ela cita a redução de efeitos colaterais comuns aos tratamentos de longo prazo, como náuseas, mal-estar e perda de apetite, além de questões frequentemente relatadas por pessoas que vivem com HIV, como dores de cabeça e desgaste físico. “Isso reduz bastante”, diz. Em fases mais delicadas, esses fatores podem fazer diferença direta na capacidade de seguir o tratamento.

Mas há também uma dimensão menos mensurável, que ela considera decisiva: o alívio emocional. Para Jennifer, a Cannabis contribuiu para tornar o cotidiano mais leve, ajudando a atravessar períodos de sobrecarga mental e exaustão. “O peso emocional diminui. As coisas ficam mais fáceis de lidar”, resume, ao falar sobre a sensação de alívio que a ajudou a seguir avançando.

Hoje, indetectável, Jennifer fala sobre viver com HIV a partir de um lugar mais estável. Sua história não se constrói sobre exceções ou promessas fáceis, mas sobre continuidade, acesso e escuta qualificada. Ao longo dos anos, a Cannabis não foi o eixo da sua vida. Ajudou a sustentar o que permitiu seguir.

Entre perdas, retomadas e escolhas possíveis, sua trajetória evidencia como diferentes formas de cuidado podem contribuir para a reconstrução da saúde e dos projetos de vida de quem convive com uma condição crônica desde o nascimento.

Importante! 

No Brasil, a inclusão de derivados da planta no cuidado em saúde deve ocorrer de forma integrada ao tratamento convencional, com orientação profissional e dentro das normas estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Mais do que acesso ao produto, o que sustenta resultados consistentes é a construção de um cuidado contínuo, individualizado e responsável. Em trajetórias marcadas por condições crônicas, como o HIV, esse acompanhamento é fundamental para garantir segurança, avaliar benefícios reais e evitar substituições inadequadas de terapias já consolidadas.

Compartilhe:

Jornalista e pós-graduada em Filosofia e Literatura, com 13 anos de experiência em comunicação, conteúdo e estratégias digitais. Atuou como repórter, redatora, roteirista, ghost writer e head de conteúdo. Especialista em Thought Leadership e storytelling, acredita no poder das narrativas para conectar pessoas e ideias.

O Cannabis& Saúde é um portal de jornalismo, que fornece conteúdos sobre Cannabis para uso medicinal, e, preza pelo cumprimento legal de todas as suas obrigações, em especial a previsão Constitucional Federal de 1988, dos seguintes artigos. Artigo 220, que estabelece que a liberdade de expressão, criação, informação e manifestação do pensamento não pode ser restringida, desde que respeitados os demais dispositivos da Constituição.
Os artigos seguintes, até o 224, tratam de temas como a liberdade de imprensa, a censura, a propriedade de empresas jornalísticas e a livre concorrência.

Agende agora uma consulta com um médico prescritor de Cannabis medicinal

Consultas a partir de R$ 200,00

Agende agora uma consulta com um médico prescritor de Cannabis medicinal

Consultas a partir de R$ 200,00

Posts relacionados

Colunas em destaque

Inscreva-se para não perder nenhuma atualização do portal Cannabis e Saúde

Posts relacionados

Agende agora uma consulta com um médico prescritor de Cannabis medicinal

Consultas a partir de R$ 200,00

Você também pode gostar destes posts:

Próxima Live:

O uso da Cannabis Medicinal para Epilepsia

Dia 10/07 às 20h00