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Cannabis em Portugal: produtos não correspondem ao rótulo

Cannabis em Portugal: produtos não correspondem ao rótulo

Análise dos produtos com Cannabis disponíveis em lojas de CBD e de produtos naturais e dietéticos, em Portugal, destacou diferenças consideráveis entre o que está no rótulo e o que está no conteúdo.

Publicado em

17 de julho de 2024

• Revisado por

Jornalista e editor especializado em Comunicação e Saúde, pós-graduando em Drogas, Sociedade e Práticas Educativas. Escreve sobre ciência e sobre o uso da Cannabis na saúde humana e animal. É também fundador da Editora Vista Chinesa, onde publicou livros como “A História da Cannabis em Quadrinhos” e “Mila”.

Uma análise sobre produtos com Cannabis comercializados em lojas de CBD e de produtos naturais e dietéticos, em Portugal, revelou grandes diferenças entre o que os rótulos prometem e o que realmente está na composição destes produtos. Esses achados levantaram preocupações em pessoas que utilizam canabinoides em diversos formatos com fins terapêuticos.

De acordo com os resultados revelados pelo estudo, a diferença entre o anunciado e o conteúdo é uma “discrepância significativa” que pode ser extremamente prejudicial. Informações imprecisas podem levar os pacientes a tomarem decisões com resultados frustrantes, escolhendo produtos sem ação farmacológica que não vão desencadear o efeito esperado.

Para entender melhor essa situação, conversamos com a Carla Dias, presidente do Observatório Português de Canábis Medicinal (OPCM).

Observando os produtos com Cannabis disponíveis em Portugal

Os resultados dessa análise sobre os produtos disponíveis para os consumidores portugueses foram compilados no artigo Characterisation of Cannabis-Based Products Marketed for Medical and Non-Medical Use Purchased in Portugal e publicados no periódico científico Molecules. Os pesquisadores observaram que muitos dos produtos com Cannabis disponíveis em Portugal não passam por controles rigorosos para verificar a quantidade de canabinoides que eles realmente contêm.

Essa situação pode ser problemática porque algumas pessoas que buscam a Cannabis para tratamentos para a saúde podem estar consumindo produtos que não funcionam como deveriam.

Os produtos que foram alvo da análise são diferentes dos de grau farmacêutico encontrados em drogarias. São bebidas (refrigerantes, cerveja e chás), flores in natura, óleos e produtos cosméticos vendidos sem receita em locais como lojas de produtos naturais, de produtos dietéticos, de suplementos alimentares e de produtos com CBD.

Pelo método da cromatografia líquida de alta eficiência, observaram minuciosamente o conteúdo dos produtos para checar se encontravam as mesmas informações que estavam nos rótulos.

De uma forma geral, o conteúdo era menor do que o anunciado. Além disso, surpreendentemente, nenhuma das bebidas continha canabinoides a níveis detectáveis. Nesses casos, a presença de Cannabis era somente no rótulo.

Os pesquisadores concluíram que é urgente o estabelecimento de padrões de qualidade mais eficientes para proteger os consumidores.

“São evidentes discrepâncias significativas na precisão da rotulagem em uma ampla variedade de produtos. Na maioria das amostras analisadas, as concentrações estavam abaixo do indicado no rótulo. Há uma necessidade urgente de regulamentos padronizados e protocolos robustos de garantia de qualidade.

Para além de meras imprecisões na rotulagem, a implementação de mecanismos de controle de qualidade permite salvaguardar a segurança do consumidor e garantir a eficácia do produto na florescente indústria da Cannabis.”

Suplementos e não medicamentos

Todas as análises laboratoriais do estudo que mencionamos anteriormente aconteceram na Universidade da Beira Interior, que é uma instituição parceira do OPCM. A preocupação dos integrantes de ambas as organizações recai sobre os pacientes que recorrem à Cannabis para lidar com alguma condição de saúde.

No entanto, a situação dos produtos com Cannabis em Portugal pode estar induzindo alguns desses pacientes ao erro. Carla Dias nos contou que os produtos analisados não são os mais indicados para uso medicinal, pois estão enquadrados na categoria de suplementos alimentares.

Carla Dias, diretora do OPCM

Carla Dias, presidente do OPCM

“Embora as pessoas atribuam à Cannabis medicinal, isso não é Cannabis medicinal. Estes produtos que foram avaliados e que saíram neste estudo são suplementos alimentares que são de venda livre, comercializados em lojas de produtos naturais, dietéticas ou em lojas de produtos de CBD. Isto é uma situação que nós já alertamos em 2019. Ou seja, todos os suplementos, óleos e extratos vêm do cânhamo industrial que tem alguma quantidade de CBD.

Estes produtos de cânhamo não são regulados em Portugal, não são legais em Portugal. Porque eles estão ao abrigo da DGAV, a Direção-Geral da Alimentação e Veterinária, e não do Infarmed que é a nossa entidade do medicamento, como vocês têm a Anvisa no Brasil.”

Suplementos alimentares não passam pelos mesmos testes laboratoriais e boas práticas de produção como passam os medicamentos. Assim, a concentração de canabinoides divulgada nos rótulos não passa por uma checagem independente, ficando sob responsabilidade dos produtores. O resultado dessa soma de fatores é a presença de produtos que dizem ter canabinoides, mas não têm.

Como o paciente pode se proteger

Nesse contexto, Carla Dias fez recomendações para os pacientes que se tratam com produtos à base de Cannabis e moram em Portugal. Para ela, é fundamental contornar essa situação com o auxílio de um médico que compreenda bem o uso medicinal da planta.

“O perigo está aí: as pessoas generalizarem e acharem que o que está na farmácia, que é sob prescrição médica, não vale nada. Há de se distinguir e nós no Observatório temos esse objetivo: esclarecer e informar as pessoas que são coisas distintas.

Acho que os pacientes devem chegar ao seu médico e pedir uma opinião. Pode ser que um dos produtos farmacêuticos que estão à venda agora em Portugal possa servir para tratar.”

Recentemente, no mês de julho de 2024, a Infarmed aprovou outros dois produtos farmacêuticos com Cannabis para a venda sob receita médica em Portugal. Com a inclusão desses medicamentos, agora são seis alternativas para os portugueses que desejam se tratar com a planta.

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A orientação de um profissional de saúde é importante também por outro motivo: a interação medicamentosa. Quando tomado pela via oral, o princípio ativo do produto com Cannabis é processado pelo fígado no nosso corpo, o mesmo local que outros medicamentos que esse paciente possa estar tomando.

Desse modo, as medicações podem interagir no nosso corpo e os resultados podem ser muitos, indo de aumentar os efeitos ou diminuí-los. Portanto, principalmente em pessoas na terceira idade ou com doenças graves, essa medida de cautela é importante para o sucesso do tratamento.

Orientação médica para tratamentos com Cannabis

Quando acompanhado por um profissional da saúde, o uso terapêutico da Cannabis tem potencial para trazer qualidade de vida e bem-estar para pessoas com dezenas de condições de saúde. Um médico ou dentista pode recomendar os produtos mais adequados e a dosagem que vai trazer os melhores resultados.

Assim, para iniciar um tratamento com Cannabis de forma segura e dentro da legalidade, o primeiro passo é se consultar com um profissional da saúde. A forma mais fácil de encontrar esses profissionais é pela nossa plataforma de agendamento. Lá você pode escolher entre mais de 300 médicos e dentistas experientes na prescrição desse tipo de tratamento. Marque já sua consulta!

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O Cannabis& Saúde é um portal de jornalismo, que fornece conteúdos sobre Cannabis para uso medicinal, e, preza pelo cumprimento legal de todas as suas obrigações, em especial a previsão Constitucional Federal de 1988, dos seguintes artigos. Artigo 220, que estabelece que a liberdade de expressão, criação, informação e manifestação do pensamento não pode ser restringida, desde que respeitados os demais dispositivos da Constituição.
Os artigos seguintes, até o 224, tratam de temas como a liberdade de imprensa, a censura, a propriedade de empresas jornalísticas e a livre concorrência.

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