A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou recentemente um marco histórico: a Estratégia Global para Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas (MTCI), válida para o período de 2025 a 2034. A iniciativa foi aprovada por 170 países durante a 78ª Assembleia Mundial da Saúde, realizada em maio deste ano, em Genebra, Suíça.
O documento representa um reconhecimento oficial do valor dos sistemas médicos tradicionais — muitos deles de origem ancestral — na promoção da saúde global. Isso desde que respaldados por evidências científicas rigorosas e integrados de forma segura aos sistemas nacionais de saúde.
Entre as práticas destacadas estão a acupuntura, fitoterapia, medicina ayurvédica, medicina tradicional chinesa e medicina antroposófica. A estratégia propõe ampliar a produção científica sobre essas abordagens, fortalecer a regulação e estimular sua incorporação aos serviços públicos de saúde.
Cannabis medicinal: entre tradição e ciência moderna
Embora a Cannabis medicinal não seja citada diretamente, ela compartilha com essas práticas o vínculo com o uso tradicional de plantas e uma base crescente de comprovação científica.
Segundo o Dr. Vinicius Mesquita, a Cannabis pode — e deve — ser considerada parte das práticas integrativas e tradicionais defendidas pela OMS. “A Cannabis é uma planta com uso terapêutico milenar em diversas culturas — da medicina chinesa à ayurvédica — e hoje conta com dezenas de ensaios clínicos modernos”, destaca.
Para o médico, a planta atende aos principais critérios estabelecidos pela organização. Entre eles: a tradição de uso, evidências científicas crescentes e potencial terapêutico já comprovado.
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Segundo o médico, o reconhecimento oficial da Cannabis como uma terapia baseada em evidências no Sistema Público de Saúde é um passo necessário — e estratégico. “Esse reconhecimento traz três ganhos claros: criação de protocolos clínicos padronizados, que aumentam a segurança do paciente; possibilidade de inclusão em compras públicas e convênios, facilitando o acesso; e redução do estigma social. Quando o Estado chancela um tratamento, a sociedade o enxerga como uma opção legítima”, explica.
Além disso, o especialista ressalta que já existem indicadores objetivos para mensurar o impacto dessa inclusão: número de pacientes beneficiados, redução no uso de opioides, diminuição de internações hospitalares e economia gerada ao sistema de saúde. “Esses dados alimentam o ciclo entre eficácia clínica, farmacovigilância e formulação de políticas públicas baseadas em evidências”, completa.
3º Congresso Mundial de Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa
O Brasil será sede do 3º Congresso Mundial de Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa, em outubro de 2025 — um encontro que reunirá representantes dos 170 países signatários da estratégia da OMS. O evento marcará o pré-lançamento da Global Traditional Medicine Library, biblioteca com mais de 1,5 milhão de publicações científicas, e a criação da Aliança Global de Consórcios em MTCI.
Para Dr. Mesquita, essa seria uma vitrine estratégica para inserir a Cannabis nas discussões globais, promovendo sua integração nas agendas oficiais. “Se aproveitarmos esse momento, a próxima estratégia decenal da OMS poderá incluir a Cannabis sativa em destaque, com o Brasil mostrando a lição aprendida”, projeta.
Com um histórico sólido de incorporação das MTCI ao SUS, o Brasil tem a oportunidade de ampliar ainda mais seu protagonismo internacional. A nova estratégia e o congresso abrem espaço para atualizar políticas públicas, fortalecer a produção científica no campo das terapias integrativas e ampliar o intercâmbio técnico com centros de excelência de outros países.
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O papel da Cannabis na saúde integrativa do futuro
A estratégia da OMS valoriza o cuidado integral — centrado no paciente e que considera dimensões físicas, emocionais, sociais e culturais — além de reconhecer o papel dos saberes tradicionais na promoção da saúde e na humanização do atendimento.
Nesse cenário, a Cannabis medicinal se destaca como uma terapia com grande potencial de contribuição, desde que regulada, pesquisada e ofertada com segurança e responsabilidade.
“Estamos sobre os ombros de gigantes — uma herança milenar que, com respeito e ciência, pode construir um sistema de saúde mais sustentável, eficaz e humanizado para o século 21”, conclui Vinicius Mesquita.