Assim como a Cannabis, falar abertamente sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é essencial para combater o estigma, promover o diagnóstico precoce e ampliar o acesso a tratamentos eficazes. Em uma sociedade que ainda confunde sintomas com “preguiça” ou “falta de foco”, dar visibilidade ao tema é revolucionário e uma forma poderosa de educação e acolhimento. Além disso, a popularização de informações corretas pode impactar diretamente a qualidade de vida de milhares de pessoas que convivem com o TDAH sem saber.
Neste contexto, conversamos com exclusividade com Yuri Maia, fundador do @TDAH Descomplicado, que soma mais de 290 mil seguidores engajados na luta por informação e acolhimento. Yuri foi diagnosticado com TDAH entre os 7 e 8 anos, mas, surpreendentemente, esse laudo inicialmente não teve muito impacto em sua vida.
“O laudo do TDAH surgiu muito cedo na minha vida, mas as medidas de apoio foram tomadas de maneira gradual a ponto de que este laudo do TDAH, que eu recebi entre os 7 e 8 anos, foi um pouco ignorado. Ele perdeu um pouco a sua importância na minha vida até o início da fase adulta”, explicou.
Ele recorda que sua mãe enfrentou um dilema comum entre pais: a pressão externa para manter uma disciplina rígida. Comentários de outras mães, como “você não dá limites para seu filho”, contribuíram para um ciclo de cobranças que apenas piorava sua situação.
“A questão é que meu cérebro respondia muito mal a ambientes onde não me sentia acolhido e estimulado. Quando tudo se tornava desinteressante, ficava impossível prestar atenção”, explicou Yuri. Esse padrão de comportamento levou a dificuldades sérias na escola e no trabalho, refletindo como a falta de suporte e compreensão poderia impactar drasticamente a vida de uma pessoa com TDAH.
A compreensão e o suporte
Yuri destacou a importância de um ambiente acolhedor e estimulante para o desenvolvimento de quem tem TDAH. Passou por diversas experiências educacionais, incluindo apoio psicológico e professor particular, o que ajudou a superar algumas das barreiras enfrentadas. Após anos de luta, entrou na universidade, mas não sem dificuldades. “Demorei quatro anos para conseguir ingressar na Universidade de Brasília e oito anos para me formar”.
Apesar das diversas dificuldades que se apresentaram ao longo do caminho, Yuri salientou que o diagnóstico de TDAH foi imprescindível. “Ter o laudo é o início de tudo. Ele é fundamental para entender como melhorar sua vida, mesmo sabendo que os sintomas nunca vão desaparecer”, disse.
Somando a sua realidade e experiência, Yuri compartilha conhecimentos sobre TDAH através de seu canal no YouTube e no Instagram, onde desmistifica o TDAH e oferece ferramentas práticas para melhorar o cotidiano.
Mitos sobre o TDAH
Durante a conversa, Yuri abordou muitos dos mitos que ainda cercam o TDAH, como a ideia de que se trata apenas de preguiça ou falta de limites.
“A crença de que todos têm um pouco de TDAH é enganosa. Os sintomas de TDAH não tornam alguém um super-herói, são questões reais que impactam a vida de forma significativa”, enfatizou.
Ele também chamou atenção para o fato de que muitos profissionais de saúde não estão adequadamente equipados para diagnosticar e tratar o TDAH, levando a confusões que prejudicam ainda mais a compreensão pública sobre o transtorno.
Cannabis Medicinal e TDAH
Questionado sobre o uso da cannabis medicinal para tratar o TDAH, Yuri foi cauteloso. Ele destacou que, embora existam estudos em andamento, ainda não há evidências científicas robustas que comprovem a eficácia do uso da cannabis como tratamento padrão. Em sua experiência pessoal, ele já utilizou CBD e sentiu uma leve redução nos meus pensamentos acelerados.
De acordo com Yuri, o tratamento do TDAH envolve uma abordagem holística, onde cada aspecto da vida do indivíduo deve ser considerado, incluindo o gerenciamento da ansiedade, que muitas vezes acompanha o transtorno.

Olhar positivo para o futuro
Apesar dos desafios, Yuri mantém uma visão positiva sobre o futuro e a crescente pesquisa na área da Cannabis medicinal. “Todo tratamento deve ser estudado e avaliado. A ciência evolui constantemente e o que não faz sentido hoje pode ser diferente amanhã,” concluiu.
Estudo pioneiro do King’s College aponta Cannabis como aliada no tratamento do TDAH
Em 2017, um estudo inovador realizado pelo Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência (IPPN) do King’s College London trouxe esperança para adultos que lutam contra o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). A pesquisa, considerada a primeira do tipo a ser randomizada e controlada por placebo, avaliou os efeitos de um medicamento à base de Cannabis, conhecido como Sativex (ou Mevatyl), e os resultados apontaram para uma melhora significativa dos sintomas sem comprometer a cognição.
O estudo contou com 30 participantes adultos com TDAH, divididos em dois grupos: 15 receberam placebo e 15 foram tratados com Sativex. Este medicamento, administrado em spray oral, contém uma combinação específica de canabinoides: 2,7 mg de THC e 2,5 mg de Canabidiol (CBD). Em média, os participantes usaram seis doses do spray durante a pesquisa.
Os cientistas focaram em dois desfechos principais: cognição e sintomas de TDAH. Surpreendentemente, o grupo tratado com Sativex não apresentou prejuízos cognitivos em comparação ao grupo placebo. Além disso, os resultados mostraram que o medicamento foi associado a uma melhora clinicamente significativa nos dois principais eixos do TDAH: hiperatividade/impulsividade e desatenção.
Esses achados representam um passo importante na busca por tratamentos alternativos para o TDAH, especialmente para pacientes que não respondem bem aos medicamentos tradicionais ou que sofrem com seus efeitos colaterais. E embora sejam necessários mais estudos com maior número de participantes, a pesquisa do King’s College London abre portas para uma nova perspectiva no tratamento do transtorno. A cannabis medicinal, quando administrada na dosagem e composição adequadas, pode se tornar um aliado valioso na melhora da qualidade de vida de milhões de pessoas ao redor do mundo.
: O acesso legal à Cannabis medicinal no Brasil é permitido mediante indicação e prescrição de um profissional de saúde habilitado. Caso você tenha interesse em iniciar um tratamento com canabinoides, consulte um profissional com experiência nessa abordagem terapêutica.
Visite nossa plataforma com mais de 300 profissionais prescritores de Cannabis medicinal e agende uma consulta.













