Não há como negar: cuidar da saúde mental é o grande desafio em dias atuais. Eu, que escrevo, leio e pesquiso sobre o tema já senti meu corpo trazendo sinais de que algo não ia bem. Sono atrapalhado, preocupações, dor de cabeça, prisão de ventre. A saúde mental, de fato, abalou todo meu corpo em um puerpério que parecia nunca se encerrar.
Não pensei duas vezes, busquei e consultei com um psiquiatra. E, nada novo aqui, minha experiência nem sempre é a realidade da maioria das pessoas.
Apesar dos avanços médicos, o estigma em torno dos transtornos mentais e o medo de medicamentos voltados para a saúde mental ainda são barreiras do cuidado. Muitos pacientes podem resistir a iniciar ou manter o tratamento por preconceitos.
“Principalmente os nossos pais, avós, não conviviam com a questão de falta de saúde mental da população de forma tão intensa como hoje. É uma questão cultural de que quem vai no psiquiatra são pacientes que são anormais ou que estão fora do padrão normal da sociedade. Mas tenho visto a psiquiatria ter muito espaço mesmo e uma maior aceitação. Pois pacientes realmente têm adoecido mais mentalmente. E esses profissionais são protagonistas no cenário em que a saúde mental está deficitária”, avalia a médica Dra. Lorena Abrão Silva, que participará de uma live sobre o tema na próxima quarta-feira.
A saúde mental é um dos maiores desafios de saúde pública do século XXI
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1 em cada 8 pessoas no mundo vive com algum transtorno mental. No Brasil, os números também impressionam: dados da Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE, 2019) mostram que 10,2% da população adulta já recebeu diagnóstico de depressão, e estima-se que cerca de 18,6 milhões de brasileiros convivam com transtornos de ansiedade.
Esses quadros impactam não apenas a vida individual, mas também a produtividade, os vínculos sociais e a economia, representando custos elevados para os sistemas de saúde e para as famílias.
E o tratamento adequado é fundamental para reduzir sintomas, prevenir agravamentos e garantir qualidade de vida. Evidências científicas demonstram que o uso correto de medicamentos psiquiátricos, quando indicado, pode reduzir significativamente crises, hospitalizações e, até mesmo, risco de suicídio.
Estigma e medo dos medicamentos psiquiátricos
Portanto, apesar dos avanços médicos, o estigma em torno dos transtornos mentais e o medo dos psicofármacos ainda são barreiras poderosas ao cuidado. Mas qual é a razão de quem ainda resiste a iniciar ou manter um tratamento? Quais pontos ainda são necessários para tomar uma decisão em benefício próprio? A resposta é: desconhecimento e preconceito.
“Penso que o medo ainda existe por conta de todos aqueles abuso relativos a remédio psiquiátrico causar dependência, de que se eu começar a tomar remédio psiquiátrico, nunca vou parar”, opina Dra. Lorena.
Outro ponto é a desinformação. O medo nasce tanto de informações distorcidas sobre efeitos colaterais quanto da associação cultural negativa entre uso de psicotrópicos e “loucura”. Já o estigma se perpetua pelo silêncio social e pela falta de campanhas educativas robustas, reforçando tabus.
Um dos grandes fantasmas que rondam a psiquiatria é a ideia de que “remédios viciam”. Essa visão, alimentada por décadas de desinformação, impede muitos pacientes de iniciar ou manter o tratamento. Segundo a profissional, a resistência pode agravar quadros clínicos.
“Penso que o medo ainda existe por conta de todos aqueles abusos relativos a remédio psiquiátrico causar dependência, de que se eu começar a tomar remédio psiquiátrico eu nunca vou parar”, observa Dra. Lorena.
Neste sentido, o psiquiatra Dr. Alexandre Peixoto salienta que a chave é explicar com clareza a diferença entre conceitos frequentemente confundidos:
“A primeira coisa que eu faço é explicar a diferença entre dependência física (que chamamos também de tolerância) e vício de verdade (adicção). (…) O vício (adicção), por outro lado, é quando a pessoa sente uma fissura incontrolável, perde o controle e continua usando a substância mesmo que faça mal à vida dela”.
Cannabis como alternativa diante dos tratamentos alopáticos
Se há pacientes que rejeitam os medicamentos convencionais, seja por medo ou experiências negativas, a Cannabis medicinal surge como uma alternativa que pode viabilizar o início de um tratamento, como explica o médico Dr. Peixoto:
“Essa é uma questão que a gente vê muito no consultório, e é uma dor real para muitos pacientes. Existem pessoas que têm um receio muito grande dos medicamentos alopáticos tradicionais, seja pelos efeitos colaterais que podem acontecer, seja por experiências negativas de amigos ou familiares, ou mesmo por uma aversão à ideia de depender de um ‘remédio químico’. Esse medo, infelizmente, pode fazer com que a pessoa adie ou até mesmo desista de buscar qualquer tratamento, o que é um risco enorme para a saúde mental dela. É aí que a Cannabis Medicinal pode surgir como uma excelente alternativa e, em alguns casos, sim, até como uma primeira opção de tratamento. Para esses pacientes que têm receio dos alopáticos, a Cannabis pode ser uma porta de entrada para o cuidado da saúde mental, oferecendo uma terapêutica que, muitas vezes, é percebida como mais natural ou com um perfil de efeitos colaterais mais manejável e menos assustador para eles”.
Esse ponto tem sido cada vez mais observado nos consultórios, como também indica Dra. Lorena: “Vejo que tem alguns pacientes que me perguntam quando eu vou prescrever se vão ficar viciados em Cannabis e eu que prescrevo Cannabis há 5 anos, posso te dizer que eu tenho zero pacientes dependentes do óleo de Cannabis, zero mesmo”.
A importância da adesão e da confiança
Nenhum tratamento é eficaz sem adesão. A resistência inicial pode comprometer todo o processo terapêutico. Nesse contexto, a Cannabis também aparece como um caminho para aproximar pacientes que, de outra forma, ficariam sem cuidado.
“A verdade é que, se o paciente rejeita a medicação alopática de partida, não adianta a gente insistir num tratamento que ele não vai aderir. O tratamento só funciona se o paciente o aceita e segue. Nesses casos, onde há essa barreira com os medicamentos convencionais, a Cannabis Medicinal aparece como uma solução viável e muito promissora. Ela oferece a chance de iniciar um acompanhamento, aliviar os sintomas e, quem sabe, até abrir caminho para outras abordagens no futuro, quando a confiança no processo terapêutico já estiver estabelecida.”
Um cenário regulatório em transformação
No Brasil, a regulamentação da Cannabis medicinal já é autorizado com acompanhamento médico ou odontológico. E a realidade de consultórios e pacientes, indica que a planta mostra potencial terapêutico relevante.
“É claro que, no Brasil, a regulamentação ainda coloca a Cannabis Medicinal, para muitas condições, em um status de ‘uso compassivo’ ou como uma alternativa quando outros tratamentos falharam. Mas, como médicos, a gente precisa sempre buscar o melhor para o paciente, e isso inclui oferecer um tratamento que seja possível para ele. Se o medo dos alopáticos é uma barreira intransponível, e a Cannabis pode ser essa ponte para o cuidado, então ela se torna uma opção terapêutica fundamental, até mesmo de primeira linha em contextos específicos, sempre com acompanhamento e personalização, claro. Ela é uma ferramenta a mais para a gente ajudar essas pessoas a encontrarem alívio e bem-estar”, pontua Dr. Peixoto.
Informação como antídoto contra o estigma
O consenso entre os especialistas é claro: vencer o estigma e derrubar os mitos é tão importante quanto disponibilizar tratamentos. Para isso, a informação clara e acessível é fundamental.
“Pra combater esse estigma de que ‘remédio psiquiátrico vicia’, a gente precisa conversar de um jeito bem claro e fácil de entender com o paciente”, resume Dr. Peixoto.
Num país onde milhões ainda sofrem em silêncio, abrir o debate sobre saúde mental — incluindo o papel dos medicamentos e das terapias complementares, como a Cannabis medicinal — pode ser o primeiro passo para garantir dignidade, adesão ao tratamento e qualidade de vida.
A importância do acompanhamento profissional no tratamento com Cannabis
É importante destacar que no Brasil, o acompanhamento médico, além de trazer segurança para o tratamento, é uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para adquirir os produtos com segurança.
Portanto, se você deseja experimentar os benefícios de medicamentos à base de Cannabis para o tratamento da saúde mental, acesse nossa plataforma de agendamento e marque uma consulta. São centenas de profissionais de diferentes especialidades disponíveis para consultas presenciais ou por telemedicina. Inicie essa jornada de forma responsável: busque orientação profissional.













