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Cannabis, HIV/Aids e a construção do bem-estar: a voz potente de Marina Vergueiro

Cannabis, HIV/Aids e a construção do bem-estar: a voz potente de Marina Vergueiro

A história de Marina Vergueiro revela como arte, coragem e Cannabis podem transformar o estigma em potência e devolver dignidade, voz e bem-estar a quem vive com HIV/Aids.

Publicado em

11 de dezembro de 2025

• Revisado por

Fala, escreve e pesquisa sobre Cannabis, saúde e bem-estar. Mestre em Comunicação e Cultura, com passagem pela Unesco, já produziu milhares de histórias e conversas que mostram como a Cannabis transforma vidas. Mãe de dois, acredita em um mundo onde conhecimento e consciência caminham junto da planta.

Há alguns anos, a atriz Bruna Linzmeyer leu um poema da escritora Marina Vergueiro em dezembro para falar sobre o Dezembro Vermelho e a importância da conscientização e da luta de quem tem HIV/Aids. De lá para cá, Marina se consolidou no Brasil, e também no mundo, como uma das vozes mais potentes desta mobilização. Mulher, cineasta, escritora, poeta, ativista. Esta matéria poderia ser uma tentativa de definir Marina, e que seria facilmente uma grande gafe. Pois, confesso, me declaro incompetente. 

A história da Marina traz esta riqueza de ser multi, onde definir, já dizia outro poeta, seria limitar. Marina traz no DNA o diálogo. Seja entre sexualidade, Cannabis, saúde mental e HIV/Aids. Ela transforma sua vivência em arte, denúncia e acolhimento. HIV+, Marina carrega uma força narrativa que emociona e que ajuda a desfazer o silêncio que, segundo ela, adoece.

“Quando a gente fala, a gente sobrevive”, Marina Vergueiro e a cura pela palavra

Marina atende a ligação desta entrevista no saguão de um aeroporto, prestes a embarcar para o Chile, onde apresentará o projeto do seu novo longa no festival Chile Conecta. Entre ensaios de pitch em inglês e portões de embarque, ela abre o coração sobre o impacto do HIV em sua vida. E sobre como encontrou, na Cannabis e na arte, uma ponte para a cura interior.

“Uma das coisas que aprendi com o HIV é que, quando a gente fala, a gente consegue sobreviver literalmente”, diz Marina. Para ela, o estigma é tão devastador quanto o vírus: isola, rompe vínculos, interrompe sonhos. “A maioria das mortes hoje não é por falta de acesso ao medicamento, mas por depressão. As pessoas têm medo de serem discriminadas.”

Foi dessa necessidade que nasceram seus filmes e poemas. Obras como Indetectável e Cartas pra Mim transformam trauma em linguagem, vulnerabilidade em conexão. “Quando eu falo, eu me convenço de novo de que está tudo bem. Falar é autocuidado”.

Cannabis como aliada: dor, ansiedade, fibromialgia e o resgate da autonomia

Marina conta que fez uso adulto da Cannabis por muitos anos. Porém, só mais tarde buscou orientação médica para testar o uso terapêutico com acompanhamento. Realizou um tratamento com CBD, aliado à sertralina, para sintomas de ansiedade e depressão. O Canabidiol (CBD) tem emergido como uma das moléculas mais promissoras para o cuidado da saúde mental, justamente em quadros de ansiedade, estresse e transtornos relacionados ao trauma.

Evidências clínicas mostram que o CBD exerce efeito ansiolítico ao modular receptores serotoninérgicos, como demonstrado em um estudo da Universidade de São Paulo que identificou redução significativa da ansiedade em voluntários durante um teste de fala pública. Em outra linha de pesquisa, o National Center for PTSD encontrou resultados positivos na regulação do sono e na redução de sintomas pós-traumáticos, indicando papel terapêutico importante para o CBD em transtorno de ansiedade generalizada e TEPT. Revisões sistemáticas recentes também reforçam que o composto apresenta baixo risco de efeitos adversos, perfil seguro e potencial para melhorar humor, ansiedade e qualidade do sono, como discutido em publicação no Neurotherapeutics,

Os achados terminam com dúvidas e consolidam o CBD como um recurso relevante em abordagens integradas de saúde mental, principalmente para pessoas que buscam alternativas com menor impacto colateral em comparação a psicotrópicos tradicionais. É o caso da Marina, que planeja retomar a terapia canabinoide com o acompanhamento médico, ainda mais devido ao diagnóstico recente de fibromialgia.

Para dor, quero muito testar de novo a Cannabis. Tomo muitos medicamentos alopáticos — inclusive para o HIV — e quero reduzir”.

Estigma duplo: HIV e Cannabis: quando o preconceito adoece mais que a doença

Marina não hesita ao afirmar: os estigmas do HIV e da Cannabis se cruzam. “Dentro da minha própria família ainda existe preconceito”. A cineasta explica que essa reação revela um moralismo profundamente enraizado na sociedade brasileira, que normaliza substâncias com alto potencial de dano, como o álcool, enquanto demoniza a Cannabis mesmo quando utilizada de forma terapêutica e com acompanhamento médico.

Para Marina, essa contradição expõe não só desinformação, mas também a dificuldade das pessoas em revisitar crenças antigas e compreender a planta para além do estereótipo que marcou décadas de políticas proibicionistas.

O que diz a ciência sobre Cannabis, HIV e saúde mental

As evidências científicas mais recentes mostram que a Cannabis pode desempenhar um papel importante no bem-estar de pessoas vivendo com HIV, tanto no controle de sintomas físicos quanto na saúde mental. Um dos estudos mais citados, conduzido pela University of California, San Diego, demonstrou que o uso da Cannabis reduziu significativamente a dor neuropática em pessoas com HIV, quando comparado ao placebo.

Na saúde mental, estudos apontam que o CBD apresenta impacto significativo na redução da ansiedade e melhora do sono, como evidenciado por ensaios clínicos e análises revisadas por pares. Já estudos observacionais em pessoas vivendo com HIV mostram que a Cannabis pode auxiliar na melhora de náuseas, apetite, humor e adesão ao tratamento antirretroviral, contribuindo para maior qualidade de vida e estabilidade emocional. Esse conjunto de pesquisas reforça que, embora não substitua a TARV, a Cannabis medicinal pode ser um recurso complementar valioso no cuidado integrado da saúde física e mental.

Leia mais:

Cannabis medicinal e HIV/Aids: um caminho para mais qualidade de vida?

HIV, depressão e a urgência do cuidado emocional

Marina fala com força sobre a centralidade da saúde mental:

Se a saúde mental está ruim, a imunidade cai. E aí o vírus encontra terreno. Cuidar da mente é prioridade absoluta.

Ela lembra que, após a pandemia de COVID-19, vivemos outra pandemia silenciosa: a de transtornos emocionais. E é nesse vazio que muitas pessoas têm buscado a Cannabis como alternativa mais natural e menos agressiva para ansiedade, dores, insônia e estresse pós-traumático.

Transformar dor em arte, estigma em existência

Ao encerrar a entrevista, Marina dividiu um pensamento que resume sua trajetória e que me emocionou:

Ao falar sobre HIV, eu ajudo os outros — mas também me curo. Porque cada vez que eu falo, eu quebro um pouquinho do medo. E isso me salva.

No final, sua luta é sobre romper silêncios. Sobre devolver humanidade ao que foi reduzido a números, a riscos, a desinformação. Sobre mostrar que ninguém deveria ter vergonha de existir. A Cannabis, nesse caminho, funciona como mais uma ferramenta para reconstruir vida, prazer, saúde e autonomia. Não uma promessa milagrosa, mas um apoio real comprovado, acessível e profundamente humano.

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Fala, escreve e pesquisa sobre Cannabis, saúde e bem-estar. Mestre em Comunicação e Cultura, com passagem pela Unesco, já produziu milhares de histórias e conversas que mostram como a Cannabis transforma vidas. Mãe de dois, acredita em um mundo onde conhecimento e consciência caminham junto da planta.

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