A máxima “não fume perto de crianças” se confirma com o recente estudo intitulado “Home Cannabis Smoke Leaves Traces in Children’s Urine Tests”. A pesquisa foi conduzida por instituições da Califórnia e sugeriu que as chances de encontrar THC na urina das crianças são cinco vezes maiores em famílias que consomem Cannabis em casa.
Os pesquisadores destacam a importância de investigar os riscos à saúde a longo prazo da fumaça passiva e reconhecem limitações do estudo, como o percentual relativamente baixo de famílias que relataram fumar em casa.
Entenda o estudo com crianças expostas à fumaça de Cannabis em San Diego, Califórnia
O estudo analisou 275 crianças menores de 14 anos e encontrou que 27,3% delas tinham canabinoides detectáveis na urina. Além disso, a pesquisa indica que eventos diários adicionais de fumo de cannabis pelos pais estão associados a um aumento nas chances de detecção de biomarcadores de Cannabis nas crianças
A pesquisa utilizou relatos de pais, monitoramento de partículas no ar e eventos de fumo
O estudo identificou que 29 lares (10,6%) com pais que relataram fumar maconha em casa observou-se como resultado 75 crianças (27,3%) com canabinoides detectáveis.
No entanto, o aumento nos eventos de fumos diários pelos pais em crianças com canabinoides detectáveis não mostrou uma tendência significativa em aumentar os níveis de THC.
Mais pesquisas sobre a fumaça da Cannabis ainda são necessárias
O estudo também observa que a pesquisa sobre Cannabis está mais de 50 anos atrasada em relação à do tabaco, “devido a políticas e regulamentações restritivas” em torno da pesquisa sobre a planta. Portanto, existem poucos dados que avaliam os efeitos à saúde da exposição à fumaça de Cannabis.
Igualmente, o estudo observa que “à medida que as evidências sobre os efeitos da Cannabis na saúde aumentam, os autores do estudo sugerem que adotar estratégias do controle do tabaco — como leis e políticas abrangentes de ambientes livres de fumaça para casas, veículos, locais de trabalho e espaços públicos que proíbam o uso interno em todos os momentos — poderia proteger a saúde das crianças”.
Por fim, a pesquisa destaca a necessidade de investigar mais sobre o impacto do fumo passivo de Cannabis nas crianças, que pode resultar em efeitos semelhantes aos do fumo passivo de tabaco, como problemas respiratórios e desenvolvimento prejudicado.
Riscos no uso adulto da maconha
É imperativo reconhecer que os riscos associados ao uso de Cannabis não se limitam à exposição de crianças à fumaça. O consumo por adultos, longe de ser uma prática inofensiva, comporta uma gama considerável de potenciais efeitos adversos. A evidência disponível demonstra que o uso adulto de Cannabis não é benigno, e essa realidade deve ser amplamente divulgada e debatida. Quem também esclarece sobre os riscos do uso adulto é o neurocientista Sidarta Ribeiro em entrevista à Kaya Mind:
“Quando as pessoas fazem uso precoce abusivo da Cannabis elas se expõem a um risco, que tem a ver com motivação, desempenho acadêmico, questões cognitivas… em vários estudos, foi possível perceber a síndrome amotivacional ligada ao consumo abusivo precoce de Cannabis em adolescentes. Isso não quer dizer que todos os adolescentes que usam Cannabis vão se dar mal, até porque depende do adolescente, da Cannabis e de como o uso acontece, mas isso quer dizer que, a nível populacional, se uma pessoa não conhece nada, ela corre risco. Quando falamos de pessoas individualmente, tudo existe, agora quando você olha para isso epidemiologicamente, é um grupo de risco. A explicação que a ciência tentava utilizar para fazer a sua advertência é a que maconha mata neurônio e vai fazer você ficar uma pessoa cognitivamente piorada. Essa piora cognitiva não acontece para todo mundo, mas acontece a nível populacional – existe um debate sobre se é reversível ou não.
Mas por que pode desempenhar esse papel deletério? Não é porque mata neurônio, a maconha promove neurogênese e as conexões entre os neurônios de novas sinapses. O THC em particular faz isso, que é muito demonizado pelos proibicionistas, mas é uma substância muito terapêutica e poderosa quando combinada com outras, como o CBD e os terpenos. Mas qual a questão aqui sobre neurogênese e sinaptogênese? Se essas substâncias induzem isso, por que é ruim para os jovens? Eles já têm muitos neurônios e sinapses, mais do que os adultos e as pessoas longevas, e, portanto, um excesso de neurônios e sinapses pode ser deletério. Em biologia, quase sempre o equilíbrio é bom, os extremos são ruins. A gente poderia até dizer que na sociedade também”.
Aqui no Brasil o uso medicinal da Cannabis é autorizado. Então se você quer começar o seu tratamento com canabinoides, saiba que é imprescindível o acompanhamento médico. E aqui na nossa plataforma de agendamento do portal Cannabis & Saúde, você encontra mais de 300 médicos prescritores, com diversas especialidades.
Educação é um fator fundamental para o uso adulto da Cannabis
A regulamentação do uso adulto da Cannabis, como observada em algumas regiões dos Estados Unidos, impõe a necessidade urgente de uma educação adequada que informe a sociedade sobre os riscos e cuidados associados a seu consumo. Este fator se torna ainda mais relevante em um contexto onde substâncias como álcool e tabaco são amplamente consumidas, apesar de suas conhecidas consequências prejudiciais à saúde.
Atualmente, o Brasil enfrenta um cenário alarmante, sendo considerado o país com o maior índice de uso do medicamento Rivotril, juntamente com uma cultura de consumo de álcool acessível e disseminada. Surpreendentemente, tanto o álcool quanto o tabacco são considerados menos dependentes que a Cannabis, o que suscita várias questões éticas e sociais sobre a regulamentação e educação em relação a estas substâncias.
A conscientização sobre o uso responsável da Cannabis requer não apenas uma abordagem informativa, mas também um acompanhamento médico especializado. A população deve ser orientada sobre os benefícios terapêuticos da planta, evitando o uso recreativo sem supervisão. Além disso, a defesa da procedência dos produtos à base de Cannabis é fundamental, uma vez que a qualidade e a concentração de compostos como THC e CBD podem influenciar diretamente na segurança e eficácia do tratamento.
Portanto, ao se debater a regulamentação da Cannabis no Brasil e em outros países, é imperativo integrar uma estratégia educacional eficaz que empodere os cidadãos com informações adequadas, promovendo um uso seguro e responsável.