A busca por tratamentos mais eficazes e seguros para o alívio da dor pode ganhar um reforço promissor vindo da planta Cannabis. Um extrato de com alto teor de canabigerol (CBG) apresentou efeitos analgésicos significativos em um estudo tanto em dor crônica quanto aguda.
Em entrevista, o farmacêutico Bismarck Rezende, responsável pela pesquisa, explicou que o CBG tem potencial para tornar os tratamentos contra dores crônicas mais eficazes.
Uma busca por melhor qualidade de vida
A dor, embora essencial como alerta para o corpo, se torna um problema grave quando é constante ou muito intensa, como no caso das dores crônicas e neuropáticas. Os tratamentos mais comuns hoje incluem anti-inflamatórios e analgésicos, que podem causar efeitos colaterais severos, como problemas estomacais, dependência e até risco de morte.
Diante desse desafio, Bismarck e outros pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) utilizaram extratos de Cannabis com alto teor de CBG em testes laboratoriais para analisar seu potencial terapêutico. O objetivo era proporcionar alívio para aqueles pacientes já sem perspectiva de melhora.
“Algumas pessoas precisam usar antidepressivos, antipsicóticos e a gente sabe que isso causa efeitos adversos muito grandes. Às vezes até o próprio medicamento te torna incapacitado de exercer certas funções. Então, pensamos que se o CBG não tem efeitos adversos tão grandes e tem propriedades boas para amenizar essa dor, ele seria promissor”, destacou Bismarck.
CBG e um potencial ainda pouco explorado
O CBG é um fitocanabinoide, ou seja, um composto natural presente na Cannabis. Ele funciona como precursor de outros canabinoides, como o CBD e o THC, mas também possui propriedades terapêuticas próprias que vêm sendo estudadas por cientistas em todo o mundo.
Segundo Bismarck, a Cannabis é “uma farmácia em uma planta só” e a escolha por um composto pouco estudado veio após analisar pesquisas anteriores.
“Tem poucos estudos com o CBG, mas ele também tem propriedades que nós buscávamos. A literatura relata que ele pode ajudar tanto na dor quanto na inflamação e tem até um efeito neuroprotetor”, lembrou o pesquisador.
Como o canabigerol age contra a dor
O estudo Cannabigerol Reduces Acute and Chronic Hypernociception in Animals Exposed to Prenatal Hypoxia-Ischemia, publicado na revista Scientia Pharmaceutica, analisou o comportamento de animais expostos a diferentes situações de dor.
Em todos os cenários testados, o CBG apresentou resultados positivos:
- Reduziu significativamente os comportamentos ligados à dor, em animais machos e fêmeas.
- Não comprometeu os movimentos nem causou sedação excessiva nesses animais.
No artigo, os autores destacaram que são necessários mais estudos para compreender os mecanismos de ação do CBG, a dosagem ideal e como ele interage com outros medicamentos.
“Esses achados corroboram o potencial do CBG como agente terapêutico para o manejo da dor, enfatizando a necessidade de mais pesquisas para elucidar seus mecanismos e otimizar seu uso clínico.
Dado o cenário regulatório no Brasil, a continuidade da investigação científica é crucial para garantir que terapias seguras e eficazes à base de Cannabis estejam disponíveis para os pacientes.”
O CBG atua em diferentes regiões do sistema nervoso e pode causar efeitos anti-inflamatórios e antinociceptivos potentes. No estudo, os pesquisadores observaram que o CBG diminui a produção de proteínas ligadas à inflamação, como a TNFα, e o Nav1.7, canal de sódio do tipo 1.7 envolvido na percepção da dor.
Esses dados indicam que o CBG atua regulando os processos que causam dor, não apenas mascarando-a.
O papel das Ligas Acadêmicas nas universidades
O estudo sobre os efeitos do canabigerol para melhora da dor foi possível graças ao projeto de extensão da UERJ chamado Liga Acadêmica de Ciências Canábicas (Lacican), fundado pelo professor Guilherme Carneiro.
A Lacican também está no Instagram (@lacican_uerj), onde divulga informações sobre o uso medicinal da Cannabis. Além disso, Carneiro explicou que a Lacican desenvolve um trabalho com jovens para desfazer mitos que cercam a planta e compartilhar informações sobre o tema.
“Dentro da Lacican, também procuro fazer palestras dentro de escolas para falar da história da Cannabis no Brasil e da regulamentação, porque a gente tem que falar com jovens sobre isso. O interessante é a gente jogar a sementinha para as pessoas mais jovens para que elas possam começar a debater Cannabis baseados em dados científicos”, explicou o professor.
Além da UERJ, outras instituições de ensino superior possuem iniciativas semelhantes:
- Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ): Lacam (Liga Acadêmica de Cannabis Medicinal)
- Universidade Estadual Paulista de Botucatu (Unesp): Neicann (Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Cannabis sativa)
- Universidade Federal da Bahia (UFBA): Lamec (Liga Acadêmica Multidisciplinar de Estudos Canábicos)
Essas Ligas atuam como importantes espaços de formação e difusão do conhecimento sobre a Cannabis. Embora poucas universidades ofereçam disciplinas sobre o sistema endocanabinoide, as ligas ajudam a preencher essa lacuna no ensino superior.
Como iniciar um tratamento com medicamentos à base de Cannabis
Muitos estudos apontam os benefícios terapêuticos do CBG para diversas condições de saúde, como:
Há medicamentos à base de Cannabis contendo canabigerol disponíveis para pacientes brasileiros pela via da importação, regulamentada pela RDC 660 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). De acordo com as regras do órgão, é necessário ter uma prescrição médica para adquirir os produtos.
Então, se você deseja experimentar os benefícios do uso medicinal do CBG ou de qualquer outro composto da Cannabis, busque orientação médica na nossa plataforma de agendamento. Lá, você encontra centenas de profissionais de diferentes especialidades, todos experientes na indicação de canabinoides.
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