A Cannabis medicinal tem ganhado cada vez mais espaço nos consultórios odontológicos, não apenas como uma alternativa no controle da dor, mas como parte de uma abordagem terapêutica mais ampla. Distúrbios como a disfunção temporomandibular (DTM), lesões inflamatórias, ansiedade pré-consulta e até síndromes de difícil manejo, como a ardência bucal, estão entre as condições que vêm sendo tratadas com fitocanabinoides por dentistas devidamente capacitados.
Dra. Ketsia Bezerra Medeiros, dentista e professora da Vigo Academy, tem acompanhado essa transformação de perto e aponta uma série de indicações clínicas que vão além do que se costuma imaginar.
“Hoje, as indicações são inúmeras. Muito se fala em dor e DTM, que são as disfunções temporomandibulares, mas também há aplicações em inflamações, lesões orais, traumas e no pós-cirúrgico. A Cannabis ajuda a diminuir a dor, aumentar a cicatrização e reduzir o desconforto do pós-operatório”, afirma.
Do alívio da dor à odontologia do sono: onde a Cannabis atua
As possibilidades terapêuticas da Cannabis se expandem a áreas que vão desde a periodontia até o atendimento de pacientes com necessidades especiais. “Tem sido estudado o uso de alguns canabinoides como antimicrobianos, diminuindo inflamações orais. E uma indicação que está em evidência é o uso em pacientes com necessidades especiais, como autistismo, que geralmente têm uma resistência muito grande ao atendimento odontológico”, explica.
O ambiente do consultório, cheio de estímulos visuais e sonoros, pode ser desafiador para esse público. Para eles — e para pessoas com fobia ou ansiedade intensa — a Cannabis tem sido uma aliada. “A gente tem utilizado com muito sucesso também em pacientes que têm fobia, ansiedade pré-atendimento e até em casos como a síndrome do ardor bucal, que é muito difícil de tratar”, completa.
Nos casos de DTM e bruxismo, a ação dos canabinoides no sistema nervoso central traz uma abordagem mais profunda. “A gente passou a vida ‘emplacando’ os pacientes — ou seja, colocando placas de mordida — para que eles não quebrassem os dentes. Mas isso não trata a raiz do problema. O bruxismo é um fator de risco importante para a DTM e tem origem no sistema nervoso central, que a Cannabis pode modular.”
CBD e THC: como atuam na prática odontológica
A Cannabis atua como um tratamento sistêmico — mesmo que a queixa seja localizada. Por isso, a avaliação criteriosa do paciente é fundamental. “A primeira coisa é uma boa anamnese. Apesar de prescrevermos para uma condição oral, a Cannabis age no corpo inteiro. Então precisamos avaliar outros medicamentos em uso, doenças pré-existentes e o perfil do paciente”, alerta a dentista.
Na prática clínica, os dois principais compostos — CBD e THC — atuam em conjunto, com diferentes funções. “Quando a gente pensa no CBD, o uso é principalmente como ansiolítico, anti-inflamatório e para melhora do sono. Já o THC funciona muito bem como analgésico e também como relaxante muscular — embora também tenha ação anti-inflamatória e melhore o sono. Para casos de DTM, por exemplo, a gente sempre precisa usar um pouco de THC. Normalmente, escolhemos um óleo que já contenha esses canabinoides combinados, e ajustamos a proporção de acordo com a condição de cada paciente”
Síndrome da ardência bucal
Uma condição de difícil manejo na Odontologia, segundo a Dra. Ketsia, é a síndrome da ardência bucal. “O paciente se queixa de ardor, de queimação na boca, na língua, nas mucosas, e a gente não consegue achar nenhuma lesão ou alteração visível que justifique esses sintomas. É uma situação crônica, que acomete muito mais mulheres. A gente tem utilizado principalmente o canabidiol, sem THC, porque o THC pode causar xerostomia, a sensação de boca seca. E temos visto melhora nesses pacientes.”
Prescrição legal e segura: o que o dentista pode fazer hoje
Hoje, os dentistas brasileiros estão amparados pela RDC 660 da Anvisa, que autoriza a prescrição de produtos de Cannabis importados. “A RDC 327 permite apenas médicos prescreverem os produtos disponíveis em farmácia. Mas a RDC 660 resguarda os dentistas para prescreverem os produtos importados, com receita branca simples”, explica Ketsia.
O processo é legal e bem definido: “A receita é emitida pelo dentista, o paciente envia o pedido para a Anvisa e, com a autorização em mãos, ele faz a compra direto com uma importadora. O produto chega na casa do paciente.”
Formação profissional: o que falta aos dentistas?
A ausência do tema nas graduações é um dos principais entraves para o avanço do uso clínico da Cannabis na Odontologia.
“Praticamente nenhuma faculdade ensina o Sistema Endocanabinoide na disciplina de fisiologia. E sem conhecer esse sistema, o profissional de saúde não tem nem como se interessar pelo tratamento com Cannabis”, afirma a Dra. Ketsia Bezerra Medeiros. Professora do curso da Vigo Academy, ela contribui para preparar dentistas a atuarem com segurança e respaldo científico, preenchendo essa importante lacuna na formação profissional.
Curso ao vivo: como aplicar a Cannabis na prática odontológica
Para formar profissionais prontos para atuar com segurança, a Vigo Academy lança as inscrições para o curso “Medicina Canabinoide na Prática: Da Teoria à Prescrição Segura”, voltado exclusivamente para dentistas. O curso será realizado nos dias 1, 2 e 3 de julho, ao vivo e online, das 19h às 22h.
Com duração de três dias, o programa oferece uma abordagem completa — da teoria à legislação — com espaço para discussão de casos clínicos reais. É uma oportunidade de aprofundamento, troca entre profissionais e aplicação prática com base em evidência científica.
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