O transtorno por uso de álcool, também chamado de alcoolismo, é um problema de saúde pública que atinge milhões de pessoas no mundo. Apesar da gravidade da condição, os medicamentos disponíveis hoje ainda têm eficácia limitada.
Nesse contexto, pesquisadores têm investigado alternativas, e um estudo indica que o canabidiol (CBD) pode ter potencial no tratamento do alcoolismo.
A pesquisa, publicada na revista Neuropsychopharmacology, trouxe resultados animadores: o CBD foi capaz de reduzir sintomas de abstinência, diminuir a vontade de beber e proteger regiões do cérebro de danos provocados pelo consumo excessivo de álcool.
Um dos pontos mais relevantes do estudo foi entender como o CBD exerce esses efeitos.
CBD e o potencial contra o transtorno por uso de álcool
O canabidiol é um dos compostos mais abundantes na planta Cannabis e tem sido estudado por suas propriedades ansiolíticas, anti-inflamatórias e neuroprotetoras. No caso do alcoolismo, o CBD tem despertado a atenção pela capacidade de complementar os tratamentos convencionais para combater o alcoolismo.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Diego, utilizaram o CBD em modelos animais de alcoolismo. Os experimentos simularam tanto a dependência física ao álcool quanto o consumo voluntário e progressivo, mais próximo da realidade humana.
Para entender melhor como o CBD pode atuar no tratamento do alcoolismo, os pesquisadores realizaram seis experimentos diferentes. Cada um explorou um aspecto do transtorno e como o canabinoide poderia interferir.
- Redução do consumo e da abstinência – Os animais foram expostos ao álcool de forma crônica até desenvolver dependência. Depois, receberam CBD diariamente. O tratamento diminuiu a ingestão de álcool, reduziu sinais de abstinência (como tremores e ansiedade) e reduziu a motivação para beber.
- Segurança e níveis de CBD no sangue – Para garantir que os efeitos não eram apenas resultado de sedação, os cientistas mediram os níveis de CBD no sangue e observaram se o composto potencializava os efeitos do álcool. O resultado: o CBD atingiu concentrações seguras e não aumentou os efeitos sedativos da bebida.
- Prevenção da recaída induzida por estresse – Um dos maiores desafios no tratamento do alcoolismo é evitar recaídas. Nesse teste, os animais foram expostos a situações de estresse que normalmente fariam com que voltassem a beber. O CBD bloqueou esse comportamento, mostrando potencial para reduzir o risco de recaída.
- Efeitos no cérebro: amígdala basolateral – Usando técnicas eletrofisiológicas, os cientistas analisaram como o álcool afeta os neurônios dessa ligada à ansiedade e ao vício. O álcool reduziu a atividade elétrica, mas o CBD conseguiu normalizar essa atividade, restaurando o funcionamento normal.
- Autoadministração voluntária de álcool – O CBD reduziu a “autoaplicação” de álcool, mas sem afetar a busca por recompensas naturais. Isso mostra que o efeito do composto pode ser específico para o tratamento do alcoolismo, e não um inibidor geral do prazer.
- Proteção contra danos cerebrais – O CBD preveniu parte da neurodegeneração em áreas ligadas à motivação e à formação de hábitos, preservando a saúde dos neurônios.
Juntos, esses resultados mostram que o CBD tem múltiplas ações no tratamento do alcoolismo: reduz sintomas de abstinência, diminui o consumo, previne recaídas e ainda protege o cérebro de danos. Embora ainda seja cedo para aplicar diretamente em humanos, os dados indicam um forte potencial terapêutico.
Como o CBD age no cérebro durante tratamento para alcoolismo
O diferencial do estudo foi observar o mecanismo que explica por que o CBD ajuda no tratamento do alcoolismo. Durante a dependência, regiões como a amígdala basolateral sofrem alterações que prejudicam a comunicação entre neurônios, o que aumenta a compulsão e a ansiedade.
No estudo, o CBD conseguiu normalizar a excitabilidade dos neurônios, restaurando o equilíbrio dessas redes cerebrais. Além disso, protegeu o estriado dorsomedial e o núcleo accumbens, estruturas envolvidas na motivação e formação de hábitos, que são fortemente impactadas pelo consumo crônico de álcool.
Portanto, o CBD atua tanto nos sintomas comportamentais quanto na prevenção de danos cerebrais — aspectos fundamentais para novas abordagens para o transtorno por uso de álcool.
Segurança do tratamento
Outro ponto relevante foi que o CBD não aumentou os efeitos sedativos do álcool nem alterou seu metabolismo, indicando um bom perfil de segurança.
No artigo, os autores destacaram o potencial do CBD como parte do tratamento do alcoolismo.
“A administração crônica de CBD atenuou as principais características comportamentais e neurobiológicas da dependência de álcool, reduzindo os sintomas de abstinência, diminuindo o risco de recaída, restaurando a excitabilidade neuronal da amígdala basolateral e prevenindo a neurodegeneração em regiões estriatais.
Em conjunto, essas descobertas destacam a capacidade do CBD de preservar a integridade funcional dos circuitos neurais subjacentes à regulação emocional, ao processamento de recompensas e à formação de hábitos.”
Estudo em humanos: pacientes britânicos
Além dos experimentos em animais, um estudo trouxe resultados encorajadores sobre o uso do CBD no tratamento do alcoolismo em humanos.
Os pesquisadores acompanharam pacientes do UK Medical Cannabis Registry (registro britânicos de pacientes com prescrição Cannabis) que receberam canabidiol para tratar o transtorno por uso de álcool.
Os resultados mostraram que o uso diário de CBD durante seis meses foi bem tolerado e seguro, sem efeitos adversos graves. Houve também redução significativa no consumo de álcool ao longo do tratamento. Muitos participantes relataram ainda menos sintomas de ansiedade e melhora no sono, fatores diretamente ligados ao risco de recaída.
Tire suas dúvidas sobre o tratamento com CBD
Embora ainda haja muito a ser pesquisado, os estudos em animais e humanos já indicam que o CBD pode ajudar a transformar o futuro do tratamento do alcoolismo.
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Quando: quarta-feira, 20 de agosto, às 19h
Convidado: Dr. Gilberto Pannunzio, especialista em medicina de família e comunidade
Tema: evidências científicas, experiências clínicas e o uso dos canabinoides na recuperação e no cuidado integral
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