O uso terapêutico de compostos da Cannabis, como o canabidiol (CBD), tem conquistado espaço em várias áreas da medicina — inclusive na oftalmologia. No entanto, um dos principais desafios é a sua baixa biodisponibilidade ocular.
Por ter afinidade com gorduras, o CBD encontra dificuldade para atravessar a córnea, formada principalmente por água. Isso dificulta a chegada do canabinoide à retina — local onde o composto poderia atuar de forma terapêutica.
Essa barreira representa um dos maiores obstáculos para o desenvolvimento de medicamentos oftalmológicos à base de CBD.
Uma pesquisa, porém, aponta uma solução inovadora: o uso de niossomas carregados com CBD para administração intraocular. Essa abordagem pode abrir caminho para o uso mais eficaz do CBD na oftalmologia e no tratamento de doenças como glaucoma, isquemia retiniana, degeneração macular e inflamações oculares.
Niossomas: tecnologia microscópica que facilita a ação do CBD
Os niossomas são estruturas microscópicas, medidas em escala nanométrica. Eles atuam como “carregadores” do CBD, protegendo-o da degradação e facilitando sua penetração nas camadas internas do olho.
Cientistas de vários países já exploram a nanotecnologia para aumentar a biodisponibilidade dos medicamentos à base de Cannabis, especialmente os de uso oral. Agora, essa tecnologia começa a ser aplicada também em formulações oftalmológicas.
No estudo, os niossomas com CBD foram administrados por injeção intravínea — ou seja, diretamente dentro do olho — em ratos submetidos a um modelo de isquemia retiniana. A lesão foi induzida por um aumento repentino da pressão intraocular (PIO), condição que simula o que ocorre em diversas doenças oculares.
CBD protegeu a retina e nervos ópticos

Os pesquisadores usaram exames de eletrorretinografia (ERG) para avaliar o funcionamento da retina após a lesão isquêmica. Os animais que receberam niossomas com CBD apresentaram maiores amplitudes da onda b — um indicador da atividade elétrica da retina — em comparação com os animais do grupo controle.
Além disso, as análises também revelaram que a estrutura da retina permaneceu mais preservada nos animais tratados com CBD, mesmo após a lesão. Isso indica que a formulação teve um efeito neuroprotetor, evitando a morte de células sensíveis à falta de oxigênio e nutrientes.
A formulação também demonstrou boa tolerância nos animais e estabilidade nas análises laboratoriais, reforçando seu potencial como base para futuros medicamentos oftalmológicos com CBD.
Como o CBD protege a visão
De acordo com o estudo, o CBD protege a retina principalmente por combater o estresse oxidativo, que ocorre quando há interrupção do fluxo sanguíneo ocular, como na isquemia.
Esse estresse leva à liberação de radicais livres, inflamação e morte de células nervosas da retina. O CBD age como um antioxidante e anti-inflamatório, ajudando a proteger essas células e preservar a função visual. Além disso, o composto parece modular a atividade de receptores envolvidos na sobrevivência celular, reforçando seu efeito neuroprotetor direto.
Esses efeitos fazem o CBD um forte candidato para proteger a retina em casos de glaucoma, retinopatias, lesões de córnea e inflamações oculares.
CBD na oftalmologia: cenário atual e perspectivas
Apesar do grande potencial demonstrado pelo estudo, ainda não existem medicamentos específicos à base de CBD aprovados para uso na oftalmologia. O oftalmologista Tiago Vita explica que, atualmente, o uso de canabinoides em doenças oculares acontece de forma off-label — ou seja, para finalidades diferentes das descritas na bula — principalmente com produtos orais.

“Ainda não temos formulações tópicas em colírios ou pomadas oftalmológicas. Por isso, quando optamos pelo uso compassivo e off-label, a via mais usada ainda é a sublingual, especialmente com CBD, THC e CBG, juntos ou isolados a depender de cada necessidade”, destacou.
Dr. Tiago Vita ressaltou que, com a possibilidade de desenvolver colírios ou outras formulações tópicas com CBD para uso na oftalmologia, diversas condições de saúde passariam a contar com um aliado importante no tratamento.
“Pelo potencial já documentado dos canabinoides como anti-inflamatórios, antioxidantes, neuroprotetores, analgésicos e imunomoduladores, as indicações podem ser variadas”, completa o médico. “Isso inclui doenças neurodegenerativas do nervo óptico e inflamações como uveíte.”
O estudo com niossomas carregados com CBD representa um passo importante rumo a terapias oftalmológicas mais eficazes com canabinoides. A tecnologia conseguiu contornar o obstáculo da biodisponibilidade e ofereceu proteção comprovada à retina em modelo experimental.
Para os próximos anos, a expectativa é que novas pesquisas avancem no desenvolvimento de formulações seguras e eficazes de CBD para os olhos, oferecendo alternativas terapêuticas inovadoras para doenças que hoje ainda têm tratamento limitado.
Como incluir medicamentos à base de Cannabis em um tratamento
Atualmente, os medicamentos à base de Cannabis de uso oral são indicados para o tratamento de diversas condições de saúde, como dores, insônia, ansiedade e doenças neurodegenerativas. Se você quer experimentar os benefícios dos canabinoides, o acompanhamento médico é parte fundamental.
Além de ser uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para adquirir os produtos, o profissional deve avaliar o histórico médico e os tratamentos em andamento para recomendar o melhor caminho.
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