A professora e pesquisadora Maíra Assunção Bicca, colaboradora do laboratório do Dr. Francisney Nascimento, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), é uma das vozes que ajudam a dar sustentação científica ao perfil @alzheimerebook, fundado por Lino Piñon, carioca que criou o projeto a partir da experiência pessoal de acompanhar a mãe com Alzheimer.
“O Lino viu a mãe sofrer muito com Alzheimer, sem ajuda, sem apoio. Ele estava sozinho, não sabia nada. A maior parte dos filhos e parentes próximos que acabam virando cuidadores se sentem sozinhos, sem informação. E foi assim que ele decidiu fundar o Alzheimer eBook para ajudar outras pessoas na mesma situação”, explica Maíra, em conversa exclusiva com o Portal Cannabis & Saúde. Atualmente, Maíra reside nos Estados Unidos. É de lá que ela contribui com pesquisas e também com a página, que já ultrapassa 38 mil seguidores.
“O Alzheimer eBook é uma porta da academia para a sociedade. É uma ponte. A gente desenvolve ótimas pesquisas nas universidades, mas as pessoas têm pouco acesso ao que fazemos. O perfil serve justamente para traduzir esse conhecimento em algo compreensível para todos”, reflete.
Da pesquisa à comunicação: traduzir ciência em empatia
Com doutorado premiado pela Sociedade Brasileira de Bioquímica, Maíra entrou para o projeto em 2016, quando Lino buscava dar uma nova dimensão científica ao perfil. “Ele queria trazer mais dados da literatura, mais embasamento. Existem muitas pessoas vendendo falsas promessas na internet, e o nosso propósito sempre foi fugir disso. Queremos levar informação de forma acessível”, conta.
Durante a pandemia, Maíra e Lino promoveram uma série de lives com médicos, cientistas e cuidadores, consolidando o perfil como um espaço de educação, acolhimento e divulgação científica confiável.
“O que mais me motiva é esse papel de ponte. Eu passei boa parte da minha vida traduzindo artigos científicos para uma linguagem acessível. O Alzheimer eBook é isso: uma forma de mostrar o que é feito dentro dos laboratórios, mas de maneira simples, humana e próxima das famílias.”
Explicar a ciência: o papel do sistema endocanabinoide
O sistema endocanabinoide (SEC), descoberto recentemente, é uma complexa rede de receptores e de moléculas produzidas naturalmente pelo corpo, conhecidas como endocanabinoides. Juntas, elas ajudam a regular funções vitais como sono, humor, dor, memória, apetite e imunidade, atuando como um verdadeiro sistema de equilíbrio interno.
Porém, segundo o neurologista americano Dr. Ethan Russo, pesquisador e referência internacional em canabinoides, quando esse sistema não funciona adequadamente, podem surgir condições como enxaqueca, fibromialgia, depressão, ansiedade e doenças neurodegenerativas, entre elas o Alzheimer. Essa hipótese ficou conhecida como a “Teoria do Déficit Endocanabinoide Clínico”, ou Clinical Endocannabinoid Deficiency (CECD).
Traduzir esse tipo de conhecimento é, segundo Maíra, um dos papéis centrais da comunicação científica contemporânea. Sabe-se que muita gente ainda associa a Cannabis a preconceitos ou usos adultos, e esquece que estamos falando de ciência, de fisiologia humana. Já que a Cannabis pode ajudar a restaurar um equilíbrio natural.
É justamente nessa explicação — aproximar o público da base científica da Cannabis medicinal — que o Alzheimer eBook se diferencia: uma página que fala de ciência com sensibilidade, desmistificando o Alzheimer e trazendo informações de tratamentos.
A ciência da Cannabis e o Alzheimer: uma nova esperança
Maíra também é uma das pesquisadoras envolvidas no primeiro estudo clínico randomizado duplo-cego do mundo sobre o uso de fitocanabinoides no tratamento de pacientes com Alzheimer, conduzido pela UNILA, sob coordenação do Dr. Francisney Nascimento.
“A gente viu, por exemplo, estabilização e melhora da memória com seis meses de tratamento. Isso é de duas a três vezes melhor do que os fármacos disponíveis no mercado atualmente”, explica Maíra, destacando que os resultados foram obtidos com baixas doses de canabinoides e mínimos efeitos adversos.
O estudo, publicado recentemente, acompanhou 28 pacientes — metade recebeu placebo e a outra metade foi tratada com extrato de Cannabis medicinal. “Enquanto os medicamentos mais inovadores, recentemente aprovados pelo FDA, que são anticorpos anti-amilóide, podem custar até 26 mil dólares por ano e oferecer alto risco de efeitos adversos, o óleo de Cannabis é acessível, seguro e promove benefícios adicionais, como melhora do sono, do apetite e da dor”, completa.
Para a pesquisadora, o uso da Cannabis medicinal representa uma revolução silenciosa na neurociência do envelhecimento.
“Nada é veneno, tudo é veneno — depende da dose. O que fazemos é uma reposição endocanabinoide. Com o envelhecimento, há um declínio natural desse sistema no cérebro, e pequenas doses de canabinoides podem ajudar a restaurar o equilíbrio fisiológico. É uma questão de saúde e de dignidade”, pontua.
Cannabis em baixas doses melhora memória no Alzheimer, diz estudo da UNILA
Novas fronteiras: prevenção e acompanhamento de longo prazo
Após os resultados positivos do estudo clínico, o grupo da UNILA iniciou uma nova linha de pesquisa voltada à prevenção do Alzheimer, acompanhando pessoas com histórico familiar da doença, mas ainda sem diagnóstico.
“Sabemos que a doença pode levar até 20 anos para manifestar os primeiros sintomas. Então, estamos estudando o uso preventivo da Cannabis em pessoas acima de 65 anos, com ou sem predisposição genética”, explica Maíra.
Os próximos passos incluem um acompanhamento longitudinal de até 20 anos, avaliando a relação entre o uso contínuo de canabinoides e a preservação das funções cognitivas. “Nada impede que uma pessoa saudável comece o tratamento preventivo, principalmente se busca qualidade de vida, sono, memória e bem-estar. A Cannabis pode ser uma aliada nesse processo”, finaliza.
Leia mais:
- Setembro Lilás: informação, cuidado e novas fronteiras terapêuticas para o Alzheimer
- Estudo: CBD é neuroprotetor em pessoas com Alzheimer
O uso medicinal da Cannabis no Brasil
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autoriza que médicos devidamente habilitados por seu Conselho Regional prescrevam medicamentos à base de Cannabis para seus pacientes de forma legal. Os benefícios do uso de canabinoides são amplamente reconhecidos para de condições de saúde, como dor crônica, epilepsia, esclerose múltipla e efeitos colaterais de quimioterapia.
Portanto, se você deseja experimentar os efeitos terapêuticos dos compostos da Cannabis, acesse nossa plataforma de agendamento. Lá, você pode marcar uma consulta com especialistas experientes nesse tipo de prescrição. Inicie um tratamento com segurança e responsabilidade.













