Após o diagnóstico da filha Maiara com Transtorno do Espectro Autista, Lucinete Ferreira, fundou em Brasília, a ABRACI-DF, Associação Brasileira de Autismo, Comportamento e Intervenção. Ela notou que precisou se capacitar para proporcionar o desenvolvimento da própria filha. Diferente de hoje, as terapias ainda eram de difícil acesso e não eram tão conhecidas como, por exemplo, a técnica ABA (Applied Behaviour Analysis) e a Cannabis medicinal.
Atualmente, a instituição atende 125 crianças presencialmente e recebeu uma importante parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia para desenvolver um projeto de Capacitação em Comunicação Aumentativa e Alternativa. Esta iniciativa reflete um reconhecimento da necessidade de políticas públicas que apoiem o desenvolvimento de pessoas com TEA, especialmente considerando que, no Brasil, cerca de 2 milhões de indivíduos estão nessa condição, com cerca de 13 mil residindo no Distrito Federal. A falta de dados precisos ainda complica a elaboração dessas políticas, reforçando a importância do trabalho da ABRACI-DF.
“A nossa associação é voltada para apoiar famílias e promover terapias acessíveis, como a ABA. A iniciativa surgiu da necessidade de melhorar o suporte para pessoas com autismo e abordamos a importância da comunicação e a necessidade de um acompanhamento familiar efetivo”, disse Lucinete em uma entrevista para o portal Cannabis & Saúde. Essa proatividade na busca por soluções reflete um movimento mais amplo onde os pais se tornam defensores da saúde e bem-estar dos seus filhos.
“Nossa associação é voltada para apoiar famílias e promover terapias acessíveis. Começamos a atender para chamar atenção e que o Estado invista em terapia específica para autistas”, pontuou Lucinete em uma entrevista exclusiva com o portal Cannabis & Saúde.
“A gente pensou na Abraci em 2010 porque quando eu entrei em uma pesquisa da UNB precisei fazer teoria e prática sobre ABA para trabalhar com a Maiara, minha filha. E aí eu comecei a ser multiplicadora de ABA para as famílias e entendi que era uma terapêutica bastante cara. E eu falava assim ao grupo de estudo e falo às pessoas que podem adequar em casa, que você pode treinar”, pontua.
O crescimento da ABA no atendimento de crianças autistas
A ABA é uma terapia respeitada e validada, reconhecida por sua eficácia no desenvolvimento de habilidades sociais, comunicativas e acadêmicas em indivíduos com autismo. Ao empregar técnicas baseadas em princípios de aprendizado, a ABA oferece intervenções personalizadas que visam melhorar comportamentos desafiadores e fomentar o aprendizado em ambientes estruturados.
Com o suporte da Abraci, muitas famílias estão não apenas acessando essa terapia, mas também aprendendo a aplicar seus princípios no cotidiano, promovendo um ambiente mais inclusivo e comunicativo para seus filhos.
“No dia a dia estamos tentando ampliar as terapias que oferecemos aos autistas. E o que a gente faz hoje é buscar emenda parlamentar para tentar executar outros projetos dentro da ABRACI para ampliar para ter muitas disciplinas como TO, Fono, porque hoje eu tenho um psicólogo aplica a ABA e e nós temos esses projetos como o projeto de comunicação aumentativa ou alternativa, que é uma outra ferramenta super importante para a pessoa com autismo”, explica.
Segundo a ABRACI, O uso da ABA voltada para o autismo baseia-se nos seguintes passos:
- Avaliação Inicial: Avaliação cuidadosa e aprofundada para determinar as competências que a criança possui e as que estão ausentes.
- Definição dos objetivos: A definição é feita baseada na avaliação inicial, no currículo base e na sequência de aquisição de competências em todos os domínios.
- Elaboração de programas: Vários procedimentos analítico-comportamentais são usados para reforçar competências existentes e construir as não existentes.
- Ensino intensivo: É dada muita ênfase em tornar o ensino agradável e envolver a criança numa interação social positiva.
- Avaliação do progresso: Ao final de cada sessão, o aplicador deve registrar o que foi feito e as respostas da pessoa, para que o progresso possa ser contabilizado.
Além da Análise do Comportamento Aplicada (ABA), Lucinete Ferreira destaca a importância da Comunicação Alternativa Aumentativa (CAA), que é um conjunto de intervenções destinadas a aprimorar a comunicação dos indivíduos. Essa abordagem utiliza sistemas de comunicação que vão além da linguagem falada, incorporando recursos que podem ser tanto de alta quanto de baixa tecnologia.
O projeto da ABRACI-DF é inovador, pois combina essas duas abordagens tecnológicas, utilizando desde tablets com aplicativos sofisticados até métodos mais simples. Para indivíduos com autismo e complexidade na comunicação — alguns dos quais podem nunca desenvolver a fala — a CAA se torna uma ferramenta essencial. Essa comunicação alternativa pode incluir sinais, Libras e, especialmente, o uso de figuras para facilitar a interação.
Lucinete enfatizou que a proposta da associação chamou a atenção do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) devido à sua eficácia. O aplicativo desenvolvido permite que o usuário selecione figuras e associe a voz de alguém próximo, criando um ambiente familiar e encorajador. Por exemplo, quando a criança toca a figura de um copo de água, ouvirá a palavra “água”, reforçando a associação entre o símbolo e o objeto real. Dessa forma, não apenas a comunicação é facilitada, mas também se oferece uma oportunidade para o desenvolvimento gradual das habilidades comunicativas do indivíduo. O principal objetivo do projeto é proporcionar treinamento em tecnologia assistiva, ampliando o acesso e as possibilidades de comunicação para pessoas com autismo.
“Nosso projeto chamou a atenção do Ministério de Ciência e Tecnologia. Pois nós já temos em tablets o aplicativo onde você coloca as figuras e você vai colocar a voz de quem mais comunica com essa pessoa. Então assim, ele vai estar o tempo todo ouvindo alguém, quando ele toca pedindo água, ele vai saber que a palavra que que é água. Então é uma forma também da pessoa até se é é se for o caso desenvolver ou aumentar a comunicação”, explica Lucinete.
Quais os benefícios da comunicação alternativa aumentativa?
Portanto, a CAA possibilita para as pessoas com múltiplas dificuldades de comunicação o desenvolvimento de mais autonomia. Esse método pode beneficiar uma vasta gama de pessoas, desde aqueles que necessitam iniciar estratégias para se comunicar, como os que já obtém comunicação, mas necessita ampliar repertório.
Cannabis e autismo
Além da ABA, a discussão sobre o uso de Cannabis medicinal no tratamento do autismo tem ganhado destaque.
“Muitas famílias têm reportado melhorias na qualidade de vida de seus filhos com autismo, minha filha utiliza mensalmente óleos de Cannabis durante o periodo pré-menstrual”, relata.
Porém, apesar dos benefícios relatados, Lucinete avalia que o acesso à cannabis medicinal ainda pode ser desafiante. Hoje no país, pelo menos 672 mil pessoas utilizam a terapia canabinoide nos seus tratamentos para a saúde através de diferentes vias de acesso.
Neste sentido, a Abraci incentiva um debate consciente e fundamentado sobre as alternativas terapêuticas como a Cannabis medicinal. Em um mundo que busca cada vez mais soluções eficazes e seguras para o autismo, a luta da Abraci é um farol de esperança para muitas famílias.
Veja nossa live sobre Cannabis e autismo
Cannabis no tratamento do autismo
Uma esperança e uma melhor qualidade de vida. É assim que muitos familiares definem a terapia canabinoide no tratamento do autismo. E, assim, a Cannabis medicinal tem se destacado como uma alternativa promissora no tratamento de sintomas associados ao autismo, despertando interesse tanto entre famílias quanto entre profissionais de saúde.
Pesquisas preliminares sugerem que compostos da planta, especialmente o Canabidiol (CBD), podem ajudar a atenuar sintomas como ansiedade, hiperatividade e comportamentos repetitivos, frequentemente observados em indivíduos do espectro autista. Esses achados estão alinhados com relatos de famílias que, ao introduzirem a Cannabis em suas rotinas, notaram melhorias significativas na qualidade de vida de suas crianças, promovendo um ambiente mais tranquilo e favorável ao desenvolvimento.
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Além disso, estudos científicos têm contribuído para essa narrativa positiva, evidenciando os efeitos terapêuticos da Cannabis. Uma revisão publicada no Journal of Autism and Developmental Disorders analisou várias investigações acerca do uso do CBD e seus impactos na redução de comportamentos desafiadores em crianças autistas. Os resultados indicaram que, em muitos casos, houve uma diminuição significativa da frequência de crises, comportamentos agressivos e níveis de estresse, proporcionando uma melhor interação social e uma maior capacidade de aprendizado. De qualquer modo, existe a importância de uma consulta médica rigorosa e uma abordagem personalizada no uso da cannabis, garantindo um tratamento seguro e eficaz.
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Além da pesquisa clínica, a crescente aceitação social da Cannabis medicinal também reflete uma mudança no paradigma em relação ao tratamento do autismo. Iniciativas como a da Associação Brasileira de Autismo Comportamento e Intervenção (ABRACI-DF) têm promovido o debate sobre a necessidade de alternativas eficazes, juntamente com terapias tradicionais, como a Análise do Comportamento Aplicada (ABA). Uma abordagem integrada, que considera a ciência e as experiências vivenciais de famílias, pode oferecer um caminho mais esperançoso para muitos no espectro autista, alavancando o potencial terapêutico da Cannabis no aprimoramento da comunicação e das relações sociais. Juntos, todos evoluímos.
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