Depois dos trinta não tem escapatória, e depois dos cinquentas fica ainda pior. Estou falando da perda de massa muscular, ou seja, diminuição dos nossos músculos. Fato que acontece, inevitavelmente, com o avanço da idade. E esta perda, traz impactos para nossa saúde. E você sabia que o sistema endocanabinoide também atua no nosso sistema muscular?
Para entender esta relação, uma pesquisa brasileira explorou o papel do sistema endocanabinoide na saúde muscular e, consequentemente, em condições como a diabetes. As conclusões da pesquisa podem abrir novas perspectivas para o tratamento e a prevenção de condições relacionadas à perda muscular e ao metabolismo, confirmando a relevância do sistema endocanabinoide na saúde geral.
“Somos uma sociedade sedentária ainda. E isso impacta em uma menor quantidade de músculos. Mas os músculos não servem apenas para força. Eles são extremamente importantes para o metabolismo da glicose, que está envolvido com a diabetes. Então estamos no laboratório tentando entender o papel do sistema endocanabinoide no sistema muscular”, explicou em entrevista exclusiva para o portal Cannabis & Saúde, o coordenador da pesquisa, professor Aderbal Aguiar, pós-doutor em Bioquímica e em Neurociências.
Entenda o estudo brasileiro sobre Sistema Endocanabinoide, músculo e diabetes
O grupo de cientistas do Laboratório Biologia do Exercício, o Labioex, da UFSC, investigou como o antagonismo do receptor CB1 pode melhorar o metabolismo da glicose e a hipertrofia muscular, contribuindo para a prevenção de disfunções metabólicas. A pesquisa resultou no artigo Impacto do antagonismo do receptor CB1 na hipertrofia do músculo esquelético e na saúde metabólica: uma revisão sistemática de estudos pré-clínicos na Revista Hormonas, publicado recentemente.
O sistema endocanabinoide, que inclui os receptores canabinoides como o CB1, desempenha um papel imprescindível na regulação de processos metabólicos e na função muscular. A pesquisa focou em como o antagonismo do receptor CB1 pode melhorar o metabolismo da glicose e promover a hipertrofia muscular.
E os resultados sugerem que bloquear esse receptor pode aumentar a sensibilidade à insulina e a tolerância à glicose, além de reduzir a gordura corporal e estimular o crescimento muscular por meio de vias metabólicas importantes, como as que envolvem PI3K/Akt e mTOR.
O professor Aguiar destaca que o estudo propõe que o antagonismo do receptor CB1 representa uma abordagem promissora para melhorar a saúde muscular e prevenir disfunções metabólicas, como a diabetes tipo 2.
“Em 15 a 20 anos, metade da população mundial pode ter diabetes tipo 2, uma condição ligada à falta de saúde muscular. Os músculos são essenciais para absorver glicose e manter a sensibilidade à insulina”, pontua.
Além disso, o estudo sugere que a hiperatividade desse receptor está associada a distúrbios metabólicos e inflamação, sugerindo que bloqueá-lo pode aumentar a sensibilidade à insulina, promover crescimento muscular e melhorar a autofagia e a função mitocondrial.
Entenda o papel do receptor CB1 na hipertrofia do músculo esquelético e na saúde metabólica
O receptor CB1 do sistema endocanabinoide é um componente crucial que desempenha um papel fundamental em várias funções fisiológicas e patológicas no corpo humano. Ele é um receptor acoplado à proteína G, amplamente encontrado no sistema nervoso central (SNC), incluindo o cérebro e a medula espinhal. Porém, sua expressão também se estende a órgãos periféricos, como fígado, e, os músculos, foco da pesquisa brasileira.
Segundo Aguiar, é de grande importância desenvolver moléculas que atuem no receptor CB1 dos músculos sem afetar o cérebro para evitar efeitos colaterais adversos. As pesquisas sobre fitocanabinoides podem oferecer alternativas seguras e eficazes para o emagrecimento.
“O receptor CB1 foi alvo de tratamentos para obesidade, mas o medicamento foi retirado devido a riscos. Isso destaca a necessidade de segurança na pesquisa farmacológica. E fitocanabinoides como o CBG e o THCV estão sendo estudados por suas propriedades que podem ajudar na diminuição de gordura. E no fortalecimento muscular em modelos animais”, pontua.
Portanto, o estudo tem potencial para ajudar no combate ao diabetes tipo 2, uma condição associada à falta de massa muscular e à resistência à insulina.
“A falta de músculo é um problema de saúde pública e algumas pessoas desenvolvem diabetes por isso. Coletamos dados sobre que inibindo o papel do receptor CB1 nos músculos melhora o metabolismo da glicose. E também acaba sendo muito bom pois acaba melhorando o tamanho do músculo. Pontos que se relacionam com a diabetes”, finaliza o cientista.
𝗜𝗺𝗽𝗼𝗿𝘁𝗮𝗻𝘁𝗲: O acesso legal à Cannabis medicinal no Brasil é permito mediante indicação e prescrição de um profissional de saúde habilitado. Caso você tenha interesse em iniciar um tratamento com canabinoides, consulte um profissional com experiência nessa abordagem terapêutica.