A perimenopausa, também chamada de climatério, é a fase conhecida como pré-menopausa, caracterizada por mudanças hormonais significativas. O tema tem ganhado cada vez mais visibilidade, não apenas nas discussões científicas, mas também na literatura e na mídia.
Uma matéria recente do O Globo destacou, com base em dados da Timelens, o aumento significativo no interesse por tópicos relacionados ao assunto nos últimos 12 meses.
As buscas no Google e nas redes sociais cresceram 45%, e os comentários sobre o tema se mostraram majoritariamente positivos (45%), com apenas 20% negativos. Isso sugere uma mudança importante na percepção pública. A menopausa, antes vista como um marco de fim de ciclo, começa a ser encarada como o início de uma nova jornada, repleta de desafios, mas também de possibilidades.
Uma nova perspectiva
Essa narrativa é também explorada de maneira visceral por Miranda July em seu romance “De Quatro”, indicado ao National Book Award 2024 e aclamado pela crítica. Com um olhar sensível, a autora coloca a perimenopausa no centro do enredo. Na obra, a protagonista de 45 anos passa por uma reinvenção íntima e física, redescobrindo sua sexualidade e identidade.
O livro, que tem sido amplamente discutido, traz à tona a ideia de que essa fase da vida está longe de ser um ponto de ruptura. Ao contrário, pode ser um campo fértil para novas descobertas e ressignificações. A obra reflete uma mudança cultural que coloca a perimenopausa como uma etapa de renovação, ao invés de declínio.
Para aprofundar nossa compreensão sobre o tema, conversamos com o Dr. Marconi de Souza Tavares, médico especializado no uso de Cannabis medicinal, para discutir os sintomas frequentemente associados à perimenopausa. Entre eles, as ondas de calor, alterações de humor, ressecamento vaginal e distúrbios do sono, que costumam causar grande desconforto às mulheres nesse período.
Dr. Marconi explica que, geralmente, a perimenopausa ocorre em mulheres com idades entre 40 e 55 anos. “Algumas literaturas mencionam que pode começar a partir dos 40, 42 anos. Existem também aquelas pacientes que entram nesse período de forma precoce, o que é mais raro”, esclarece o médico.
Perimenopausa e alterações hormonais
“A paciente começa a apresentar algumas manifestações, como ressecamento vaginal, maior indisposição e irregularidade no ciclo menstrual devido às alterações nos níveis de LH (hormônio luteinizante), FSH (hormônio folículo-estimulante), estrogênio e andrógenos, como a testosterona. Tudo isso acaba ocorrendo, causando desconforto não só no humor, mas também na vida sexual”, diz o médico.
Ele explica ainda que os hormônios femininos, especialmente o estrogênio, têm um efeito protetor sobre o coração, ajudando a prevenir doenças cardíacas. Quando a mulher entra na perimenopausa ou na menopausa e começa a perder a produção desses hormônios, essa proteção diminui.
“Há um aumento no risco de patologias cardíacas, pois os hormônios femininos protegem o coração. Com a perda dessa proteção, o risco de doenças cardíacas se eleva”, revela.
De acordo com o IBGE, cerca de 30 milhões de mulheres no Brasil estão na faixa etária do climatério e menopausa, representando quase 8% da população feminina. Os sintomas dessa fase podem comprometer significativamente a qualidade de vida das mulheres. Por isso, alternativas terapêuticas são essenciais.
Nesse sentindo, a Cannabis medicinal tem se mostrado promissora no alívio de uma série de sintomas característicos do período.
A Cannabis medicinal como aliada no tratamento dos sintomas da perimenopausa
O especialista explica que os tratamentos mais comuns para mulheres na perimenopausa incluem a reposição hormonal, como a de estrogênio, e, conforme o caso, a adequação de progesterona, ajustando-se às necessidades individuais de cada paciente.
No contexto dos tratamentos convencionais, Dr. Marconi reforça que a Cannabis medicinal tem se mostrado uma alternativa importante, especialmente para pacientes que não podem utilizar terapias hormonais. Ele detalhou que muitas mulheres têm histórico de doenças, como câncer de mama ou endométrio, o que as impede de usar a reposição hormonal convencional. Nesse caso, a Cannabis entra como uma ferramenta terapêutica bastante eficaz.
Nesse sentido, a terapia canabinoide pode ser usada tanto em combinação com terapias hormonais quanto de forma isolada, como um “arsenal terapêutico”.
A ideia é amenizar os sintomas da perimenopausa, como os fogachos e as irregularidades hormonais, proporcionando um equilíbrio nesse período.
Para além do ressecamento vaginal, o médico também destacou a eficácia da Cannabis para distúrbios do sono e ansiedade. O que oferece benefícios tanto para o controle emocional quanto físico das mulheres nessa fase da vida.
“A Cannabis tem se mostrado eficaz em equilibrar o Sistema Endocanabinoide, auxiliando no controle dos sintomas da perimenopausa. Ela pode ser associada a outras terapias, proporcionando alívio significativo”, destaca.
O potencial do THCV no tratamento da perimenopausa
Dr. Marconi também destaca a importância do THCV, um canabinoide que tem se mostrado promissor no controle de alguns sintomas da perimenopausa.
Estudos sugerem que o THCV pode ajudar no controle do apetite e na redução da glicose, além de diminuir processos inflamatórios, sendo útil no tratamento de diabetes tipo 2.
“O THCV tem demonstrado bons resultados no controle do impulso alimentar e na redução dos níveis de glicose, impactando positivamente o processo inflamatório causado pelo aumento do açúcar no corpo”, explica o médico.
Ele ressalta que o uso desse canabinoide pode aliviar sintomas como alterações no apetite. Além disso, ajuda a controlar os efeitos da glicose, melhorando a qualidade de vida durante essa fase.
Acompanhamento contínuo é fundamental
O médico esclarece, porém, que o uso da Cannabis deve ser sempre supervisionado por um profissional de saúde. Outro ponto que ele reforça: as doses devem ser iniciadas de forma gradual, para minimizar o risco de efeitos colaterais.
“Em doses elevadas, a Cannabis pode causar sonolência ou distúrbios gastrointestinais, mas esses efeitos são raros e dependem da dosagem e do tipo de canabinoide utilizado”, finaliza.
Importante!
A Cannabis medicinal pode se apresentar como uma alternativa terapêutica valiosa para as mulheres na perimenopausa, oferecendo alívio eficaz para os sintomas típicos do período.
Com o acompanhamento médico adequado e doses controladas, a terapia canabinoide tem o potencial de melhorar a qualidade de vida, proporcionando benefícios tanto no aspecto emocional quanto físico.
Porém, é fundamental que o tratamento seja personalizado para cada paciente, respeitando suas necessidades individuais e garantindo a segurança do uso dessa terapia.