Na live Borderline e Bipolaridade: Como a Cannabis Pode Ajudar?, a médica Dra. Cinthia Valadão abriu a conversa com um relato pessoal que rompeu a barreira entre clínica e vivência.
“Tive o diagnóstico de TDAH e bipolaridade tipo 2. A Cannabis foi a melhor medicação ansiolítica da minha vida. Senti uma plenitude tão grande que percebi: precisava compartilhar isso com meus pacientes. Além de prescritora, sou também paciente de Cannabis”, contou, estabelecendo uma conexão imediata entre sua trajetória e a prática médica.
A frase, mais do que um depoimento pessoal, traduz um movimento crescente: médicos que não apenas estudam a Cannabis, mas que também vivenciam seus efeitos como pacientes
Esse cruzamento entre ciência e experiência confere legitimidade e empatia, aproximando profissionais de saúde das angústias que seus próprios pacientes enfrentam.
O peso dos transtornos
“Os transtornos de personalidade borderline e afetivo bipolar possuem características distintas, apesar de apresentarem sintomas semelhantes. Diferenciar entre eles é um desafio clínico que exige observação cuidadosa do histórico do paciente”, pontuou.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) afeta cerca de 40 milhões de pessoas no mundo, sendo considerado uma das dez maiores causas de incapacidade global. O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), por sua vez, atinge entre 1,6% e 5,9% da população geral, de acordo com a American Psychiatric Association (APA), e está fortemente associado a comportamentos autodestrutivos e tentativas de suicídio.
Ambos representam condições de alta complexidade, que frequentemente exigem acompanhamento multiprofissional, uso de medicações e intervenções terapêuticas.
“O paciente com bipolaridade enfrenta um sofrimento invisível, marcado por crises cíclicas que nem sempre são compreendidas pela sociedade. Já no borderline, a dor é contínua que afeta vínculos e a autoestima”.
TAB x Borderline: diferenças fundamentais
Apesar de apresentarem sintomas que se confundem, como impulsividade e alterações de humor, bipolaridade e borderline são transtornos distintos.
O TAB é um transtorno de humor episódico, caracterizado por fases bem definidas de mania, hipomania e depressão. Entre os episódios, o paciente pode experimentar períodos de relativa estabilidade. Já o TPB é um transtorno de personalidade, em que a instabilidade emocional é quase contínua, marcada por padrões persistentes de impulsividade, medo de abandono, relacionamentos instáveis e sensação crônica de vazio.
Essa diferenciação é essencial para o tratamento. Enquanto o TAB responde melhor a estabilizadores de humor e, em alguns casos, à Cannabis de forma controlada, o borderline costuma exigir psicoterapias específicas, como a Terapia Comportamental Dialética (DBT), podendo se beneficiar de fitocanabinoides como suporte para reduzir impulsividade e ansiedade.
Cannabis e bipolaridade: cautela e acompanhamento médico
A médica fez questão de reforçar as nuances no uso da Cannabis para pacientes com TAB:
“O uso de Cannabis no tratamento do transtorno afetivo bipolar requer cuidado com o THC, já que pode agravar episódios de mania e psicose nos casos de bipolaridade tipo 1. Eu sou tipo bipolar 2 e uso o THC assistido, com acompanhamento médico. Porém, de fato, o CBD é a molécula mais indicada pelos seus efeitos estabilizadores de humor e ansiolíticos.”
Pesquisas confirmam essa necessidade de atenção. Uma meta-análise publicada no Frontiers in Psychiatry (2023) analisou cinco estudos prospectivos com 13.624 indivíduos e concluiu que o uso indiscriminado de Cannabis pode aumentar em até 2,6 vezes o risco de episódios maníacos em pacientes bipolares tipo 1. Por outro lado, estudos clínicos destacam que o CBD apresenta efeitos protetores, podendo auxiliar no sono, na ansiedade e na estabilização do humor em casos mais controlados.
Borderline: esperança em novos tratamentos
Se no TAB o uso precisa ser monitorado, no borderline não é diferente e os resultados são mais animadores.
“Tenho visto relatos consistentes no consultório. A Cannabis ajuda a dar estabilidade emocional, reduz a ansiedade e favorece a adesão às terapias convencionais. Não é uma cura milagrosa, mas é um suporte real para quem enfrenta uma dor psíquica constante”, relatou a médica.
A ciência acompanha essa percepção. Pesquisadores do Reino Unido e da Colômbia publicaram em 2023 um estudo que testou produtos à base de Cannabis em pacientes borderline. O trabalho concluiu que tanto o THC quanto o CBD contribuíram para reduzir sintomas como impulsividade e estresse emocional, além de melhorar indicadores de bem-estar. A publicação ganhou destaque no setor de saúde mental por apontar um novo horizonte para um transtorno historicamente de difícil manejo.
Estudo: Cannabis é eficaz no tratamento do transtorno de personalidade borderline
“A Cannabis tem mostrado eficácia em sintomas relacionados ao transtorno borderline, regulando neurotransmissores e reduzindo compulsões. É uma alternativa complementar, mas não substitui os tratamentos convencionais”, frisou Dra. Cinthia.
Diferenças do uso da Cannabis em relação aos alopáticos
Na comparação entre fármacos tradicionais e fitocanabinoides, a médica trouxe reflexões importantes:
“Os alopáticos são fundamentais, mas frequentemente vêm acompanhados de efeitos colaterais. Já a Cannabis, quando bem indicada, pode reduzir a carga medicamentosa e minimizar os efeitos adversos. Além de ser segura. Não se trata de excluir o que já existe, mas de integrar. A Cannabis amplia as possibilidades terapêuticas e devolve qualidade de vida ao paciente.”
Esse caráter personalizável — com ajuste de doses, combinações de moléculas e formas de administração — se mostra como um diferencial importante frente ao modelo tradicional, que muitas vezes aplica protocolos uniformes sem contemplar a singularidade do paciente.
Cannabis e o futuro da saúde mental
Encerrando a live, Dra. Cinthia fez uma defesa da medicina mais humanizada:
“A Cannabis representa uma medicina que acolhe, que respeita a singularidade de cada paciente e que se conecta com a vida real. O futuro da saúde mental passa por terapias mais individualizadas e menos engessadas. E os fitocanabinoides como o THC e o CBD podem ser protagonistas desse caminho.”
A nossa conversa na live mostrou que a Cannabis medicinal não é uma solução única nem uma cura, mas surge como um vetor de inovação em um campo que ainda carece de abordagens eficazes para condições como o TAB e o TPB. O fio condutor da fala da médica é claro: mais ciência, mais cautela e mais humanidade no tratamento da saúde mental.
É, de fato, uma revolução. Se você quer ser paciente, o primeiro passo é consultar com um profissional prescritor de Cannabis medicinal.
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