A Medical Cannabis Clinicians Society (MCCS), organização britânica formada por médicos, enfermeiros e farmacêuticos que atuam com terapias à base de Cannabis, publicou um guia de boas práticas para a prescrição de Cannabis medicinal.
O documento reúne diretrizes atualizadas para garantir a segurança, eficácia e ética na prática clínica. Desde a regulamentação do uso medicinal da Cannabis no Reino Unido, em 2018, cerca de 75 mil pacientes já receberam prescrições em clínicas privadas. No entanto, a adesão no sistema público de saúde (NHS) ainda é baixa, o que motivou a criação do guia.
A prescrição de Cannabis medicinal para pacientes britânicos
No Reino Unido, apenas médicos com registro ativo podem recomendar produtos medicinais à base de canabinoides. O acesso pelo sistema público é restrito a algumas condições de saúde, como:
- Náuseas e vômitos causados por quimioterapia;
- Rigidez muscular e espasmos decorrentes da esclerose múltipla;
- Formas raras e graves de epilepsia, como as síndromes de Dravet e Lennox-Gastaut.
Por outro lado, a prescrição de Cannabis medicinal por médicos e clínicas privadas pode incluir uma gama mais ampla de condições, como dor crônica, ansiedade e insônia, de acordo com a avaliação do especialista.
Os médicos podem prescrever tanto produtos licenciados, quanto “especiais não licenciados”, indicados para casos específicos. Nesse sentido, é importante lembrar que produtos à base de canabidiol (CBD) são amplamente vendidos como suplementos alimentares ou cosméticos, mas o uso para tratar alguma condição de saúde exige acompanhamento especializado.

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O papel da MCCS além do manual
A MCCS é uma entidade independente e sem fins lucrativos que oferece treinamento clínico, suporte técnico e acesso a evidências científicas sobre o uso terapêutico da Cannabis. De acordo com o presidente da sociedade, o neurologista Mike Barnes, o guia busca dar mais confiança aos prescritores e garantir que cada paciente receba o tratamento mais seguro e adequado.
As 14 diretrizes sobre prescrição de Cannabis medicinal:
A seguir, os principais pontos do guia:
1. Quem pode prescrever
Médicos especialistas registrados podem emitir a prescrição inicial. Depois, o acompanhamento pode ser feito por médicos generalistas, enfermeiros ou farmacêuticos, desde que sob supervisão do especialista responsável.
2. Revisão por pares
Toda nova prescrição de Cannabis medicinal deve passar por outros especialistas, presencial ou online, para assegurar que a indicação seja clinicamente adequada e devidamente documentada.
3. Tentativas prévias de tratamento
Antes de iniciar o uso de medicamentos à base de Cannabis, o paciente deve tentar ao menos dois tratamentos convencionais. A MCCS reforça que os canabinoides não são o tratamento de primeira linha, e sim uma alternativa quando os métodos convencionais não funcionam.
4. Primeira consulta detalhada
A primeira consulta deve durar no mínimo 30 minutos e incluir a análise de histórico médico completo; doenças cardíacas, hepáticas e renais; uso prévio de medicamentos e duração dos tratamentos; histórico pessoal e familiar de condições de saúde mental; comportamento de risco e uso de substâncias; contexto social e familiar; e exame de contraindicações.
Além disso, toda a avaliação deve ser registrada integralmente no prontuário.
5. Familiarização com guias e evidências
Os profissionais devem se atualizar constantemente sobre diretrizes clínicas internacionais, além das publicações e revisões da própria MCCS.
6. Contraindicações
A principal contraindicação para o tratamento com medicamentos à base de Cannabis é sobre a presença de tetrahidrocanabinol (THC). Altos teores de THC devem ser evitados para pessoas com histórico de psicose ou esquizofrenia. O CBD, por outro lado, pode ser usado com segurança nesses casos por ter efeito antipsicótico.
Outras situações que exigem cautela incluem:
- Doenças cardíacas graves;
- Gravidez e amamentação;
- Pacientes abaixo dos 21 anos;
- Uso de medicamentos com interação potencial, como varfarina e clobazam.
7. Indicações clínicas mais comuns
As condições de saúde com maior evidência científica para a prescrição de Cannabis medicinal incluem:
- Dor crônica;
- Ansiedade e transtorno do estresse pós-traumático;
- Epilepsia resistente;
- Doenças neurológicas, como Parkinson e esclerose múltipla;
- Doenças inflamatórias intestinais;
- Controle dos sintomas do câncer avançado;
- Distúrbios do sono.
8. O que pode ser prescrito
Os produtos prescritos devem ser fabricados sob padrões de Boas Práticas de Fabricação da União Europeia (EU GMP) e acompanhados de Certificado de Análise (COA) que comprove a pureza e composição de canabinoides e terpenos.
O guia desaconselha usar nomes de variedades de Cannabis, como “Gorilla Glue”, e termos como “sativa” e “indica”, consideradas imprecisas do ponto de vista clínico.
9. Plano de prescrição e dosagem: “start low, go slow”
De acordo com o guia, a regra de ouro da prescrição de Cannabis medicinal é “comece baixo e vá devagar”. A recomendação é iniciar com óleo rico em CBD e baixo em THC e aumentar a dose gradualmente conforme a resposta do paciente.
Prescrições acima de 2 g diários ou com THC acima de 25% na formulação devem passar por revisão de pares.
10. Prescrição ética
A receita deve ser feita em um formulário padronizado e o médico não pode direcionar o paciente a uma farmácia específica, nem restringir fornecedores. O paciente tem o direito de escolher onde adquirir o medicamento.
11. Transparência e ética
As tentativas de impor um fornecedor ou cobrar valores extras por determinado produto é considerada antiética e deve ser denunciada aos órgãos reguladores.
12. Treinamento obrigatório
A MCCS exige que os profissionais tenham uma formação certificada antes de iniciar a prescrição. A entidade oferece cursos mensais de três horas e mentoria para novos prescritores, promovendo atualização contínua baseada em evidências científicas.
13. Acompanhamento e cuidado compartilhado
Após a prescrição inicial, o paciente pode ser acompanhado por outros profissionais sob a supervisão do especialista. O guia define responsabilidades específicas para cada parte envolvida no tratamento.
- Especialista: inicia e revisa o tratamento
- Médico de acompanhamento: monitora resultados e efeitos colaterais
- Paciente: deve seguir corretamente as orientações e relatar reações adversas
- Gestor clínico: garante o cumprimento das normas e a segurança
14. Objetivos gerais
A publicação do guia tem como objetivo padronizar práticas clínicas, aumentar a segurança dos pacientes e melhorar a credibilidade da prescrição de Cannabis medicinal no Reino Unido. Estimulando o conhecimento, a prudência e a empatia, a MCCS visa garantir que cada paciente receba o melhor tratamento possível.

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E no Brasil, como funciona a prescrição de Cannabis medicinal?
Com diretrizes claras e linguagem acessível, o guia da MCCS representa um marco importante para o uso da Cannabis com fins medicinais. Orientando os profissionais da saúde e pacientes, oferece um caminho para o desenvolvimento de regras seguras, humanas e baseadas em evidências científicas.
No Brasil, as regras para o uso terapêutico dos derivados da planta também são claras: o uso só é permitido sob prescrição médica. Portanto, caso queira experimentar os benefícios dos canabinoides para a saúde, acesse a nossa plataforma de agendamento. Lá, você pode marcar uma consulta com profissionais experientes nesse tipo de tratamento.
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