Potencial terapêutico do CBD e do THC no tratamento de doenças psiquiátricas já tem comprovação evidenciada por pesquisas científicas
Evidências científicas pré-clínicas comprovam que o Canabidiol (CBD) e o Tetrahidrocanabinol (THC) são capazes de atenuar respostas relacionadas à ansiedade, depressão e esquizofrenia.
As bases farmacológicas e neurobiológicas dessa ação fazem parte do panorama exposto no estudo “Evidências científicas da associação de Canabidiol e Tetrahidrocanabinol na ansiedade, na depressão e na esquizofrenia”, da pesquisadora em Farmacologia Sarah Vignoto Vry, da Universidade Federal de Santa Catarina.
Em linhas gerais, a pesquisa identificou que ao analisar cientificamente o potencial terapêutico da planta, dosagens maiores de CBD em relação ao THC podem ter uma ação terapêuticas eficaz para tratar distúrbios psicológicos.
O objetivo da pesquisa foi levantar estudos experimentais em animais de laboratório e humanos que testaram a combinação de CBD e THC em respostas
associadas com a ansiedade, depressão e/ou esquizofrenia.
Tudo começa na década de 1960
A investigação do potencial terapêutico da Cannabis remonta à década de 1960, com a descoberta do THC em 1964. As pesquisas se sucederam privilegiaram os canabinoides isolados. Mas somente em 2005 foi lançado um medicamento composto por CBD e THC, o Sativex, usado para pacientes com esclerose múltipla.
O estudo destaca que a associação entre o CBD e o THC tem sido uma proposta de estratégia clínica com intuito de maximizar os efeitos terapêuticos do CBD e minimizar os efeitos psicoativos indesejáveis do THC. Para a pesquisadora, os mecanismos de interação funcional entre os dois componentes são complexos e ainda não foram completamente esclarecidos.
Moléculas foram isoladas e combinadas
A hipótese do trabalho é que seria necessário ter CBD em concentração igual ou maior do que a do THC, para fins medicinais, relacionados aos distúrbios psiquiátricos. As duas moléculas foram avaliadas de forma isolada e combinada.
De acordo com o estudo, há 113 fitocanabinoides presentes na Cannabis, sendo que o CBD é considerado o segundo mais relevante, já que é desprovido de efeitos psicomiméticos (psicoativos) que alteram a percepção, pensamentos e humor.
A pesquisadora aponta que a proporção de CBD:THC – com possível utilidade terapêutica – demonstra ser oposta àquela usada com finalidade recreativa, ou seja, uma que contém CBD em concentração igual ou maior do que a do THC.
Fitocanabinoides interagem com neurotransmissores
Segundo as análises apresentadas pela pesquisa, os fitocanabinoides possuem ação importante no córtex pré-frontal do cérebro – que controla a função cognitiva e o processamento afetivo – pois é nesse local onde o Sistema Endocanabinoide interage com múltiplos sistemas neurotransmissores importantes.
Há evidências científicas pré-clínicas de que o CBD é capaz de atenuar respostas relacionadas à ansiedade, depressão e esquizofrenia induzidas pelo THC em animais de laboratório e humanos.
Entretanto, as bases farmacológicas e neurobiológicas dessa ação ainda precisam ser melhor esclarecidas, de acordo com a pesquisadora.
Um dos aspectos ainda a ser esclarecido é qual seria a proporção de CBD e THC mais eficaz para atenuar sintomas psiquiátricos.
A resposta está no Sistema Endocanabinoide
O Sistema Endocanabinoide é composto por endocanabinoides (canabinoides produzidos pelo corpo humano que se assemelham aos fitocanabinoides da Cannabis), receptores e enzimas que ajudam a regular funções do organismo humano como sono, humor, memória, apetite e sensação de dor.
Esse sistema biológico descoberto nos anos 90 é capaz de interagir com os compostos químicos ativos da Cannabis, como o CBD e o THC regulando o Sistema como um todo. Estudo clínicos e pré-clínicos indicam que disfunções no Sistema Endocanabinoide podem estar relacionadas à patologias como depressão, ansiedade e esquizofrenia.
Conclusão
Ansiedade, depressão e esquizofrenia podem ser tratadas com Cannabis
Em resumo, a administração do CBD para a ansiedade reduziu os efeitos ansiogênicos e aversivo do THC em roedores e humanos na maioria dos estudos analisados. Com relação à esquizofrenia, os achados demonstram que o CBD associado ao THC possui propriedades neuroprotetoras e anti-psicóticas, já
descritas em estudos pré-clínicos e clínicos prévios.
Apesar de os mecanismos desse efeito ainda não são serem bem compreendidos, várias linhas de pesquisas sugerem que o sistema dopaminérgico está particularmente envolvido nos mecanismos de ação do CBD, bem como no sistema canabinoide endógeno (regulação da produção dos endocanabinoides).
Dessa forma, ao modular uma gama de funções fisiológicas do organismo humano, o Sistema Endocanabinoide também entra em homeostase (equilíbrio) suprimindo várias condições patológicas.
Distribuído em todo cérebro e medula espinhal, o Sistema Endocanabinoide tem papel importante em muitos processos fisiológicos regulatórios como inflamação, regulação do apetite, metabolismo, equilíbrio de energia, termogênese, desenvolvimento neurológico, função imune, função cardiovascular,
digestão, plasticidade sináptica, aprendizagem, dor, memória, movimento, comportamento psicomotor, ciclos de sono/vigília, regulação do estresse e emoção.
Como conclusão a pesquisa indica que há evidências científicas pré-clínicas de que o CBD é capaz de atenuar respostas relacionadas à ansiedade, depressão e esquizofrenia induzidas pelo THC em animais de laboratório e humanos. Por outro lado, o estudo reconhece que é preciso mais estudos científicos para aprofundar o tema.
O estudo pode ser acessado no link:
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/214413
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