Diferente de outras pessoas que entrevisto para as matérias do portal Cannabis & Saúde, para Liliam Cristina o diagnóstico tardio de autismo com 48 anos veio como um alívio. Segundo ela, não era nada fácil viver o que chamou de ilusão de neurotipia e há três anos sua realidade mudou. E mesmo apresentando sinais do autismo desde criança, o caminho até o seu diagnóstico certeiro não foi rápido e nem fácil. E ela passou por inúmeros diagnósticos incompletos até 2021.
“Muitos exames clínicos, laboratoriais e de imagem, consultas, buscas de profissionais e avaliações depois, veio a confirmação do diagnóstico tardio de TEA em dezembro de 2022. Eu passei 2022 e 2023 mergulhada em pesquisas e me embrenhando no que chamamos de ‘comunidade autista’ dentro do Instagram”, relata no seu perfil “Quando me vi autista” que já acumula pouco mais de 18 mil pessoas que ela não considera seguidores mas companheiros de caminhada na causa autista.
Para ela o diagnóstico foi um impacto e foi uma libertação. Viu que não estava tudo resolvido com o diagnóstico de autismo tardio começou um grande trabalho e um novo aprendizado de vida. E na rede social, Liliam criou um perfil criativo onde une desabafos, conteúdos e a sua arte como designer.
O que você diria para quem recebeu um diagnóstico tardio de autismo?
Para Liliam, após o diagnóstico, o mais importante foi o autoconhecimento e a busca por informações. “E se tratando da Cannabis a gente ouve tanta coisa, então não é diferente com o autismo. Principalmente se tratando de adultos, principalmente, e ainda mais no diagnóstico tardio e de mulheres autistas”, explica.
O estigma que envolve o autismo, especialmente no contexto feminino e adulto, pode fazer com que muitas pessoas tentem mascarar suas dificuldades, o que só gera mais sofrimento e invalidação. Para ela não cabe negar: “o diagnóstico é um caminho sem volta. Respira e vai. Só vai”.
Além disso, Liliam alerta para o perigo de um comportamento comum entre aqueles que não receberam apoio ou diagnóstico adequados ao longo da vida. “Nessa de mascarar, a gente acaba se perdendo da gente mesmo e acabamos invalidados de todo jeito”, afirma. A falta de compreensão por parte dos outros pode tornar o processo ainda mais difícil, por isso ela reforça a importância de estudar e buscar entender a condição para não ser desvalorizado. “Estude para que você não seja desrespeitado e invalidado”, é o conselho de Liliam, que acredita que o conhecimento é a chave para não cair em falsas expectativas ou tratamentos inadequados.
Autismo e Cannabis: a experiência positiva de Liliam
Assim como não há retorno após o diagnóstico, não há chances de retrocessos em relação à Cannabis medicinal no Brasil como uma opção terapêutica, especialmente no tratamento de condições de saúde mental.
“A Cannabis me libertou de processamentos desnecessários do meu cérebro. Eu ficava ensaiando o que eu deveria falar com as pessoas para ser compreendida e aceita, como eu responderia, como eu me comportaria, e agora, com o tratamento, tudo isso está fluindo de forma muito natural sem a preocupação prévia com o que vão pensar sobre mim e eu tenho certeza que são as conexões que estão mais fortalecidas por conta do tratamento com a Cannabis”, relata.
Embora o uso de fitocanabinoides seja mais comumente associado a doenças como dor crônica, esclerose múltipla e epilepsia, o autismo, em suas diversas formas, tem emergido como uma área de crescente interesse.
Para Liliam usar Cannabis no tratamento foi como um antes e um depois em sua vida
Para Liliam, a introdução da Cannabis em sua vida, com o devido acompanhamento médico, foi uma verdadeira transformação. “É como atravessar um portal saindo da ilusão da neurotia e abraçando plenamente a nossa atipicidade”, reflete.
Para ela, a transição para a terapia canabinoide foi um processo holístico. “Não invalido os tratamentos convencionais, que para mim, não foram completos, mas a terapia canabinoide tem me ajudado de forma mais equilibrada”. “.
A experiência de Liliam foi além do alívio físico, já que ela sofre de fibromialgia também: trouxe melhorias significativas nos aspectos comportamentais e cognitivos do autismo, especialmente na socialização e na aceitação das próprias estereotipias
A rigidez cognitiva, um dos maiores desafios do TEA, também foi amplamente atenuada com o uso da Cannabis medicinal. “Melhorou muito”, declara Liliam, com um olhar que transmite gratidão.
A terapia canabinoide, segundo ela, não apenas aliviou sintomas das comorbidades que carrega, mas também proporcionou uma nova visão sobre si mesma, contribuindo para um maior bem-estar emocional e psicológico. A vida, como Liliam bem disse, só anda para frente e em sua experiência a Cannabis tornou este caminhar mais leve.