Um dia foi a tecnologia de laserterapia. No começo era visto com desconfiança na odontologia, mas logo passou a ser amplamente adotada. Um cenário que se repetiu com a toxina botulínica, utilizada na harmonização orofacial, e que ocupou boa parte da programação científica da 40ª edição do Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo (CIOSP).
Um caminho que, dentro da odontologia, a Cannabis medicinal começa a trilhar. “Você percebe que o interesse está borbulhando. Então precisamos entrar mais a fundo nessa porta da pesquisa científica específica para a odontologia”, afirmou o cirurgião-dentista João Paulo Colesanti Tanganeli.
Tanganeli é presidente do Grupo de Trabalho de Canabinoides do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo. Para o presidente da entidade, Braz Antunes Mattos Neto, a criação do grupo de trabalho demonstra a abertura do CROSP para a utilização da medicina canabinoide.
“O Conselho é uma autarquia federal, a maior do Brasil na nossa profissão, e só o fato de criarmos o grupo de trabalho para discutir o tema é sinal de entendimento de que o tema precisa ser debatido tecnicamente e cientificamente com os profissionais da odontologia”, afirmou Braz em entrevista exclusiva ao portal Cannabis & Saúde..
“É a primeira câmara técnica de conselho regional de odontologia instalado no Brasil e chama muita atenção. Demonstra que o maior conselho regional está se posicionando, querendo discussão.”
Desmistificar a Cannabis
O presidente do CROSP conta que a demanda para o uso da Cannabis medicinal partiu de fora da entidade. “Eu convivo com algumas pessoas que começaram a me contar que estão tratando com canabinoide para o sono, outros por terem filhos especiais. Comecei a receber mais informações de fora para dentro.”
“Até que alguns profissionais começaram a me procurar no CROSP achando que eu não ia aceitar por ser maconha. Mas não tem nada disso. Estamos pregando o estudo científico justamente para desmistificar a Cannabis. Se é bom para o paciente, porque não vamos estudar? O profissional da saúde existe para tirar o sofrimento, dor, angústia do paciente. Então eu acho que nós temos que nos debruçar e estudar o tema.”
Para Braz, a criação do grupo de trabalho é fundamental para municiar o CROSP de informação em discussões no Conselho Federal de Odontologia. “Estamos em uma crescente. O processo está um pouco mais atrasado devido ao preconceito, então o papel do nosso conselho é externar tudo aquilo que for bom para as pessoas.”
Fica até surpreso
Tanganeli corrobora a opinião do presidente da entidade. “Ver em um congresso com essa amplitude (CIOSP) eles abrirem espaço para a gente falar de canabinoide mostra a importância que isso está tendo para a odontologia.”
Inaugurado em setembro de 2022, o grupo de trabalho ainda está em sua fase inicial. O primeiro objetivo é lançar uma publicação com um consenso sobre o uso de canabinoides na odontologia.
“Vou te falar, a gente até fica meio surpreso, porque os resultados são realmente muito interessantes. Em curto prazo, com doses baixas, os resultados na odontologia têm sido muito interessantes”, finalizou Tanganeli.
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