Defendendo a pele como um “espelho da saúde geral”, o médico Dr. Carlos Barcaui, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), avalia, com cautela, a inserção do CBD, composto derivado da Cannabis, no arsenal terapêutico da dermatologia. Segundo ele, há interesse da SBD sobre a terapia canabinoide, em especial o Canabidiol.
Porém, apesar do entusiasmo crescente, Dr. Barcaui faz questão de observar que há um caminho a ser percorrido em relação à consolidação do uso do CBD na área dermatológica. Ele aponta, por exemplo, que congressos importantes, como o aguardado Congresso Brasileiro de Dermatologia de 2025, a ser realizado em setembro no Rio de Janeiro, podem, no futuro próximo, ser palco de discussões mais aprofundadas sobre a Cannabis medicinal, inclusive quanto à segurança e eficácia do CBD para doenças de pele.
O uso do CBD na dermatologia
O interesse pelo Canabidiol tem base em evidências que vêm sendo publicadas na literatura médica. Diversos estudos, especialmente os voltados à psoríase, sugerem que o CBD tem propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras relevantes. Pesquisas pré-clínicas indicam que o composto é capaz de inibir a proliferação de queratinócitos, as células responsáveis pela formação das típicas placas da psoríase.
Um dos trabalhos mais recentes publicados no PubMed, “Cannabidiol-loaded hydrogel microneedle patches inhibit TRIM14/TRAF3/ NF-κB axis for the treatment of psoriasis”, por exemplo, detalha como o uso de adesivos com CBD pode modular vias inflamatórias ligadas ao desenvolvimento da doença, reforçando o potencial terapêutico da substância.
Neste ínterim, enquanto a pesquisa avança e as prescrições de Cannabis medicinal crescem gradualmente no Brasil, produtos à base de Cannabis, em sua maioria importados devido a diversidade de formulação e vias de administração, têm sido a alternativa para quem busca novas formas de terapia dermatológica.
Além disso, histórias de pacientes que relatam melhora significativa nos sintomas de doenças cutâneas com fitocanabinoides têm ganhado destaque. Esses relatos contribuem para fortalecer o interesse de quem busca alternativas após frustrações com medicamentos convencionais. Ainda assim, especialistas enfatizam a importância do acompanhamento médico antes de iniciar qualquer abordagem com CBD, priorizando a segurança e a personalização do cuidado, diante de um cenário ainda em evolução no país.
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Cannabis na dermatologia e a importância do diálogo com a SBD
Manter um diálogo aberto com instituições fundamentais para a saúde e a segurança dos pacientes brasileiros é um compromisso central do portal Cannabis & Saúde. Buscar perspectivas dessas entidades sobre o avanço da terapia canabinoide no país enriquece o diálogo e amplia o acesso à informação responsável.
Sempre guiados pela luz da ciência, nós relatamos como associações de profissionais da saúde e grupos de pacientes acompanham o crescimento do uso medicinal da Cannabis como aliada nos tratamentos de diversas condições. E é com muita honra, que desta vez, com exclusividade, o Dr. Carlos Barcaui, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), falou com o portal Cannabis & Saúde.
Quais são os principais desafios da área da dermatologia no Brasil?
A Dermatologia brasileira é uma especialidade consolidada, com mais de 100 anos de história na defesa da formação qualificada e da assistência segura à população. Ainda assim, enfrentamos desafios importantes. O principal deles é a ampliação do acesso da população aos dermatologistas, especialmente nas regiões mais remotas do país. Também buscamos garantir que o atendimento seja feito por profissionais com título de especialista, assegurando qualidade e segurança. Além disso, lidamos com a necessidade constante de atualização frente ao avanço das tecnologias diagnósticas e terapêuticas, e com o combate à atuação de não médicos em procedimentos invasivos, o que representa riscos reais à saúde da população.
Quais doenças dermatológicas são mais observadas na população nacional?
A pele é um espelho da saúde geral, e mais de 3 mil doenças podem acometê-la. No Brasil, observamos com frequência dermatoses inflamatórias como dermatite atópica e psoríase, além de doenças infecciosas como micoses, hanseníase e infecções virais. Doenças como acne, melasma, alopecias e câncer de pele também são extremamente prevalentes. Há ainda uma alta demanda por cuidados dermatológicos estéticos, que também exigem conhecimento especializado e abordagem ética.
Qual a relevância da atualização profissional no Congresso Brasileiro de Dermatologia?
O Congresso da SBD é o maior encontro científico da Dermatologia na América Latina e uma referência em atualização médica. O evento é uma oportunidade única para que os dermatologistas brasileiros tenham acesso ao que há de mais atual em diagnóstico, terapêutica e pesquisa na especialidade. Também é um espaço de troca entre profissionais, estímulo à formação continuada e à defesa de uma prática ética e segura. Em setembro, no Rio de Janeiro, teremos um programa científico de excelência, preparado com muito cuidado para abranger as diversas áreas da Dermatologia.
A Cannabis medicinal será abordada no Congresso da SBD?
A programação científica do Congresso da SBD é elaborada com base em evidências e no rigor técnico que norteia a prática médica. As terapias baseadas em Cannabis ainda estão em fase de investigação em muitas de suas aplicações dermatológicas. Caso surjam estudos consistentes com evidência clínica robusta e aprovação regulatória, o tema poderá ser abordado de forma crítica e científica nos eventos da SBD, como ocorre com qualquer novo recurso terapêutico. A Sociedade acompanha com responsabilidade e cautela as publicações científicas sobre o tema.
Como o senhor vê a evolução do uso de moléculas da Cannabis, como o CBD e o THC, na Dermatologia?
As propriedades farmacológicas de compostos como o Canabidiol (CBD) têm despertado o interesse da comunidade científica em diversas especialidades, inclusive na Dermatologia. No entanto, ainda são necessários mais estudos clínicos controlados, com metodologia adequada, para que possamos estabelecer com segurança sua eficácia, indicações específicas, formas de uso e possíveis efeitos adversos. A SBD entende que qualquer substância proposta como terapêutica deve passar pelo crivo da ciência e pela regulamentação das autoridades competentes. O mais importante é garantir que os pacientes recebam tratamentos seguros, baseados em evidências e conduzidos por profissionais habilitados.
𝗜𝗺𝗽𝗼𝗿𝘁𝗮𝗻𝘁𝗲: O acesso legal à Cannabis medicinal no Brasil é permito mediante indicação e prescrição de um profissional de saúde habilitado. Caso você tenha interesse em iniciar um tratamento com canabinoides, consulte um profissional com experiência nessa abordagem terapêutica.