A Associação Brasileira de Saúde Mental, conhecida como ABRASME, tem se posicionado como uma voz ativa e diferenciada no debate sobre a Cannabis no Brasil. Ao promover o conhecimento científico, a Associação desafia os estigmas associados a tratamentos com a planta.
Ao contrário de outras associações, como a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a ABRASME adota uma perspectiva aberta e baseada em evidências sobre o uso da Cannabis, incluindo-a em suas linhas de estudo e nas iniciativas que realiza. “Atuamos como um contraponto a ABP e nos consideramos uma entidade antiproibicionista. Para nós que viemos do campo, que construímos a história da luta antimanicomial, não tem como você ser antimanicomial e ao mesmo tempo proibicionista. A proibição em si de uma substância não garante a efetividade nas políticas públicas, inclusive, do ponto de vista da promoção de saúde”, pontua Leo Pinho, vice-presidente da ABRASME, com quem conversamos.
Construir conhecimentos sobre Cannabis: um dos objetivos da ABRASME
Segundo Pinho, a Cannabis tem se tornado um tema central nos congressos e fóruns bianuais organizados pela ABRASME, eventos que focam em saúde mental e direitos humanos. Para ele, a inclusão reflete o compromisso da associação em promover uma discussão informada e abrangente sobre as diferentes dimensões da Cannabis, tanto no contexto terapêutico quanto em outras áreas.
“A ABRASME tem prestado atenção a diversas pesquisas nacionais e internacionais sobre as aplicações. E também ouvido muitas instituições que atuam nas dimensões do uso da Cannabis. Até porque buscamos construir propostas sobre bases de evidências. E aí, já existem evidências, estudos, inclusive, experiências de políticas públicas muito exitosas na nossa nessa área”, destaca.
Além disso, a influência da ABRASME se estende além do campo acadêmico e científico. A associação integra o Conselho Nacional de Direitos Humanos e o Conselho Nacional de Drogas (CONAD), participando ativamente do Grupo de Trabalho sobre Cannabis medicinal. Como pontuou Leo Pinho, vice-presidente da ABRASME, a associação busca uma regulamentação “efetiva” por parte do Congresso brasileiro.
“Não é de hoje que já há estudos, usos e evidências da Cannabis para uso medicinal. Temos atuado em parceria com entidades e organizações da área de redução de danos para um avanço no Brasil da regulamentação do uso da Cannabis para fins terapêuticos e medicinais”.
Neste sentido, Pinho explica que através de eventos, publicações e parcerias estratégicas, a associação busca desmistificar crenças negativas e impulsionar a pesquisa sobre os potenciais terapêuticos da planta, contribuindo para uma abordagem mais racional e baseada em evidências no país. “Outro diferencial importante da ABRASME é a sua abrangência, reunimos profissionais de diversas áreas e não nos limitamos à psiquiatria”.
E, segundo o profissional, se posiciona como um importante contraponto no debate sobre a Cannabis no Brasil, defendendo o conhecimento, a regulamentação e a desconstrução de estigmas para uma abordagem mais justa e eficaz em relação à saúde mental e ao uso de substâncias.
Cannabis para a saúde mental
Para Pinho, é necessário atenção em relação ao debate em torno do uso da Cannabis e seus efeitos na saúde mental. Por ser um tema complexo e multifacetado, é carregado de nuances e interesses. Mas permeia diferentes frentes da nossa vida. Um dos assuntos que conversamos foi sobre o Burnout. Aqui no Brasil houve quase 500 mil afastamentos em 2024. O aumento alarmante de 68% nos afastamentos devido ao esgotamento mental reflete o impacto do estresse ocupacional nos trabalhadores.
“O crescimento destes problemas é o desenvolvimento de inseguranças em relação aos trabalhos das pessoas. A combinação de contratos insalubres, inseguros, com jornadas exaustivas, que não dão a possibilidade de ter outra parte da vida social garantida. Por exemplo, a jornada 6 por 1. E faz com a pessoa não consiga ter uma vida social, cultural, esportiva, e com a família. Este panorama cria situações de burnout”, avalia Pinho.
Cannabis pode atuar no tratamento do Burnout?
A utilização do Canabidiol, o CBD, tem se mostrado promissora no tratamento da síndrome de burnout, frequentemente causada por estresse crônico no ambiente de trabalho. Estudos recentes indicam que o CBD pode proporcionar alívio significativo dos sintomas de burnout: com reduções observadas em torno de 25% nos sintomas de burnout, 60% na ansiedade e 50% na depressão, conforme indicou este estudo realizado pela USP.
Somente em 2024, o Brasil registrou 472.328 licenças médicas, maior número dos últimos 10 anos. Este aumento de 68% em comparação ao ano anterior revela a gravidade da crise e o impacto direto dessa condição na vida dos trabalhadores e no desempenho das empresas.
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Nesta linha, a Cannabis tem mostrado eficácia no tratamento de diversas condições de saúde mental, incluindo burnout.