“100% de esforço onde houver 1% de chance”. Este é o inspirador lema da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia, conhecida como ABRALE. A organização foi criada em 2002 por pacientes e familiares com a missão de oferecer ajuda e mobilizar parceiros para que todas as pessoas com câncer e doenças do sangue tenham acesso ao melhor tratamento. Os esforços encontram significado nos números que ainda são impactantes.
A entrevista, concedida ao Portal Cannabis & Saúde, mostra como a associação vem se posicionando na vanguarda dos debates sobre diagnóstico precoce, acesso a terapias inovadoras e até mesmo no diálogo sobre o papel da Cannabis medicinal no suporte oncológico.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o país deverá registrar cerca de 704 mil novos casos de câncer por ano entre 2023 e 2025. Embora os tipos mais comuns sejam mama, próstata, cólon e reto, pulmão e estômago, os cânceres hematológicos, como linfomas e leucemias, representam um desafio particular pela complexidade do diagnóstico e do tratamento. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) reforçam que o diagnóstico tardio eleva a mortalidade e aumenta em até 30% os custos do tratamento, criando um cenário ainda mais crítico para países que enfrentam desigualdades como é o caso do Brasil.
“Oferecer ajuda e mobilizar parceiros para que todas as pessoas com câncer do sangue no Brasil tenham acesso ao melhor tratamento”
Com o objetivo de entender as ações da ABRALE e quais são as perspectivas em relação ao uso de Cannabis medicinal como aliada no tratamento do câncer, conversamos com a Dra. Catherine Moura, CEO da organização. Segundo a profissional, o combate ao câncer no Brasil exige respostas estruturais e políticas.
Além disso, Dra. Catherine observou que a ABRALE, ao longo de sua trajetória, tem se consolidado como uma das principais vozes da sociedade civil organizada em defesa da equidade, da inovação e da dignidade no tratamento oncológico.
Uma atuação mostra que a luta contra o câncer vai muito além da busca pela cura: trata-se também de assegurar qualidade de vida e acesso justo para todos os pacientes
Diagnóstico tardio e desigualdade regional
Segundo a Dra. Catherine, a jornada do paciente até chegar ao diagnóstico de linfoma ou leucemia pode ser marcada por inúmeros entraves. A falta de conhecimento sobre os sinais e sintomas, tanto por parte da população quanto dos profissionais de saúde, faz com que muitos quadros sejam confundidos com outras condições clínicas. Isso retarda a suspeita inicial e compromete a rapidez do encaminhamento ao hematologista, especialista fundamental para confirmar a doença e iniciar o tratamento adequado.
Para a profissional, embora a ciência tenha avançado e novos exames tenham ampliado a assertividade diagnóstica, o Brasil ainda enfrenta obstáculos sistêmicos. Ela reforça que as barreiras existentes, sobretudo no SUS, tornam a descoberta da doença um processo prolongado e desigual.
Acesso a terapias inovadoras e barreiras regulatórias
A oncologia hematológica vive um momento de inovação sem precedentes, com terapias como a CAR-T Cell e medicamentos-alvo transformando perspectivas de tratamento. Segundo a CEO da ABRALE, a entidade tem desempenhado um papel central no advocacy, levando as demandas dos pacientes aos gestores públicos, participando de consultas públicas, câmaras técnicas e discussões junto à Conitec e à ANS. O objetivo é garantir que os tratamentos, sejam eles convencionais ou inovadores, cheguem a todos os pacientes de forma célere e equitativa.

Além da atuação política, a ABRALE também promove o empoderamento do paciente, estimulando sua participação ativa nos processos de decisão e reforçando a importância da mobilização social como força para assegurar direitos.
Políticas públicas e equidade no cuidado
A ABRALE defende que o Brasil avance na implementação efetiva da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer, que, apesar de já aprovada, ainda apresenta lacunas de execução. Para a Dra. Catherine Moura, é urgente reduzir desigualdades regionais ampliando a rede de centros de referência, descentralizando o tratamento, acelerando a avaliação e incorporação de novas tecnologias, e fortalecendo programas de diagnóstico precoce. Também é essencial investir na capacitação de profissionais em regiões carentes de especialistas e assegurar financiamento sustentável para garantir acesso contínuo às terapias inovadoras.
Cannabis medicinal como suporte oncológico
Nos últimos anos, a cannabis medicinal tem ganhado espaço nos debates oncológicos como terapia complementar. Pesquisas internacionais reunidas pelo National Cancer Institute apontam que os canabinoides podem auxiliar no manejo de sintomas como dor, náuseas induzidas por quimioterapia, ansiedade e insônia, melhorando a qualidade de vida de pacientes em tratamento.
A ABRALE tem se mostrado aberta ao debate. No Congresso Todos Juntos Contra o Câncer, organizado pela própria associação, a Cannabis medicinal já foi pauta de mesas de discussão.
Segundo a Dra. Catherine, o posicionamento institucional é claro: a Cannabis pode ser um tratamento de suporte importante no manejo dos sintomas e dos efeitos colaterais advindos do tratamento oncológico, mas sua indicação deve ser sempre feita pelo médico responsável. A entidade, portanto, reforça que a Cannabis não substitui as terapias convencionais, mas pode agregar qualidade de vida ao longo da jornada oncológica.
Leia na íntegra a entrevista com Dra. Catherine:
Quais são os principais obstáculos que a ABRALE ainda identifica para reduzir o tempo entre suspeita, diagnóstico e início do tratamento nos casos de linfoma e leucemia no SUS, especialmente em localidades mais remotas ou de menor infraestrutura?
“Como entidade que oferece apoio ao paciente e atua em defesa dos seus direitos no âmbito das políticas de saúde, notamos algumas questões que fazem com que o diagnóstico, especialmente dos cânceres onco-hematológicos, ainda aconteça de forma tardia no Brasil.
A primeira delas é a falta de conhecimento sobre os sinais e sintomas apresentados pelas doenças, por parte da sociedade e também dos profissionais de saúde. Alguns sintomas são comuns a outras condições de saúde, e muitos especialistas acabam demorando para entendê-los como possibilidade de neoplasia hematológica.
A dificuldade de navegação nos centros de tratamento, especialmente do SUS, também é um problema importante. O paciente encontra entraves entre a primeira consulta com o médico e o encaminhamento ao especialista de Hematologia, que fará o diagnóstico corretamente e indicará o tratamento adequado.
Nas localidades mais remotas, há também a falta de especialistas na Onco-Hematologia, de centros especializados no tratamento destas patologias, além de dificuldade de locomoção“.
Segundo o Observatório de Oncologia o diagnóstico tardio do câncer eleva os custos de tratamentos, vocês entendem que o diagnóstico certeiro ainda é um desafio no Brasil?
“A ciência vem evoluindo cada vez mais e hoje há uma grande quantidade de exames que facilitam o processo de diagnóstico e com maior assertividade. No caso dos cânceres do sangue, por exemplo, um simples hemograma já pode constatar a presença das células doentes e levar a suspeição inicial.
Mas sim, o diagnóstico ainda é um desafio. Como mencionado acima, existem inúmeras barreiras que tornam o processo de descoberta da doença um problema, especialmente no sistema público de saúde“.
Como a ABRALE tem contribuído para garantir o acesso a terapias inovadoras, novos medicamentos ou insumos de tratamento, e quais são as principais barreiras regulatórias ou logísticas que os pacientes enfrentam atualmente?
“Aqui na Abrale fazemos um trabalho de advocacy e levamos as demandas dos pacientes aos gestores públicos e às instâncias regulatórias. Temos uma participação ativa nas consultas públicas, câmaras técnicas e discussões com a Conitec e ANS, que objetivam o acesso ao tratamento, seja este inovador ou não.
Também trabalhamos com o nosso público o empoderamento e a importância da participação social. Entendemos que o trabalho colaborativo e a voz de toda a sociedade unificada trazem mais força para que todos os pacientes tenham seus direitos garantidos“.
Em sua visão, quais políticas públicas deveriam ser priorizadas para tornar o tratamento de linfomas e leucemias mais equitativo em todo o Brasil?
“É fundamental que o Brasil avance em políticas públicas que garantam a implementação efetiva da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer, já aprovada, mas ainda com lacunas na execução; reduzam desigualdades regionais, ampliando a rede de centros de referência e descentralizando o tratamento; acelerem a avaliação e incorporação de novas tecnologias, diminuindo a distância entre o registro na Anvisa e a chegada ao SUS; fortaleçam programas de diagnóstico precoce, para que os pacientes cheguem mais cedo ao tratamento; invistam na formação e capacitação de profissionais de saúde, sobretudo em regiões onde há carência de especialistas; assegurem financiamento sustentável, para que o acesso às terapias inovadoras seja contínuo e não dependa de iniciativas pontuais“.
Como a ABRALE observa o uso de cannabis medicinal no contexto do tratamento ou suporte a pacientes com linfoma ou leucemia — há diretrizes da associação que abordam seu uso para manejo de sintomas, qualidade de vida ou efeitos colaterais de tratamento, e quais critérios a ABRALE considera essenciais para que esse uso seja seguro e eficaz?
“Recentemente, fizemos algumas vezes a discussão sobre o uso de cannabis medicinal no Congresso Todos Juntos Contra o Câncer, organizado pela Abrale. Também já abordamos o tema em nossos canais de comunicação.
Entendemos que este é, sim, um tratamento de suporte para os pacientes, quando falamos em manejo de sintomas e efeitos colaterais advindos do tratamento e isso melhora a qualidade de vida ao longo da jornada oncológica. Mas, claro, nosso posicionamento é que o paciente sempre fale com seu médico antes de utilizar qualquer terapêutica de suporte. Somente o especialista está capacitado para indicar qualquer terapia, seja convencional ou complementar“.
Siga a ABRALE nas redes sociais aqui.
Iniciando um tratamento com Cannabis
Aqui no Brasil, o uso medicinal da Cannabis é possível desde que tenha a prescrição de um médico ou dentista. Esse é o tipo de profissional mais indicado para analisar o seu caso e recomendar o produto e dosagem mais adequados para você.
Acessando a nossa plataforma de agendamentos você pode marcar uma consulta com um profissional da saúde experiente na prescrição desse tipo de tratamento. Acesse já e escolha um entre mais de 300 opções de médicos e dentistas de diversas especialidades.

















