Desde jovem, apresentava diversos sintomas, mas só obtive o diagnóstico aos 20 anos, quando procurei um reumatologista devido ao cansaço extremo e às dores generalizadas. Reconheço que tive sorte por descobrir a causa tão cedo, o que facilitou o processo de adaptação e a implementação de mudanças no estilo de vida. Para quem recebe o diagnóstico mais tarde, o desafio é ainda maior. Vi isso de perto com minha mãe, que foi diagnosticada ao mesmo tempo que eu, mas já aos 44 anos.
Uma vida de luta e sofrimento
Ao longo dos últimos 20 anos, enfrentei crises graves. Houve momentos em que fiquei completamente incapacitada, sem forças para sequer me levantar da cama, nem mesmo para ir ao banheiro. A dor era enlouquecedora — tão intensa que, por vezes, desejei ter um membro amputado para, quem sabe, sentir algum alívio.
O meu maior desafio, no entanto, sempre foi a Síndrome da Fadiga Crônica, que drena completamente a energia e o ânimo, tornando impossível realizar até mesmo tarefas simples, como tomar banho. Além disso, convivi com insônia e distúrbios do sono, como pesadelos e sonambulismo. Por anos, os sonhos vívidos e o sono não reparador me acompanharam.
Aos 20 anos, iniciei meu primeiro tratamento médico, que me levou à dependência de antidepressivos, benzodiazepínicos e outros medicamentos para dormir. Mesmo assim, continuei lutando e conquistando. Estudei e trabalhei no exterior, concluí um curso técnico, duas faculdades e algumas especializações. Durante a pandemia de Covid-19, enfrentei o maior nível de exaustão da minha vida, trabalhando mais de 100 horas por semana e absorvendo a tristeza de pacientes e familiares.
Apesar de todas as dificuldades, aprendi muito. Contudo, a rotina de altos e baixos continuava: uma semana produtiva era seguida por outra de exaustão extrema, desânimo e dor, frequentemente me levando a aumentar as doses de antidepressivos.
A grande transformação
Tudo mudou quando conheci a terapia canabinoide. Até então, apesar de algum controle, eu sentia a necessidade constante de aumentar as doses dos medicamentos. Quando comecei a estudar e a usar cannabis medicinal, percebi uma transformação significativa. Após alguns meses, alcancei uma estabilidade clínica inédita.
A modulação do sistema endocanabinoide trouxe equilíbrio à minha saúde mental e emocional, reduzindo as oscilações extremas de humor e dor que antes me dominavam. Finalmente, consegui manter uma rotina dinâmica e consistente, o que me permitiu oferecer, como médica, um acompanhamento de excelência para que meus pacientes também conquistem resultados surpreendentes.
Um exemplo marcante da mudança foi perceber que não uso analgésicos indiscriminadamente há anos. Recentemente, precisei de dipirona por conta de uma gripe e me dei conta de que já não tinha nenhuma em casa. Esse pequeno detalhe é um grande marco da minha evolução.
A fibromialgia não me limita
Hoje, levo uma vida equilibrada. Acordo cedo, trabalho, faço atividade física e mantenho uma rotina de autocuidado com terapias e alimentação saudável. Embora para muitos a atividade física seja sinônimo de bem-estar, para quem tem fibromialgia, é geralmente um sacrifício. Mesmo assim, consigo realizá-la sem que ela piore meus sintomas. Além disso, finalmente desfruto de um sono revigorante.
A terapia canabinoide foi um divisor de águas na minha qualidade de vida, complementando anos de esforço e dedicação. O contraste entre o antes e o depois é impressionante — algo que nunca imaginei alcançar.
A fibromialgia tem solução
É fundamental que entendamos a importância de um cuidado diferenciado para pessoas com fibromialgia. Infelizmente, ainda há profissionais de saúde que desmerecem as queixas dos pacientes, tratando-nos como “chatos” ou exagerados. Mas a dor, a exaustão, o desânimo e a má qualidade do sono são reais.
Embora a fibromialgia ainda não tenha cura, é possível aliviar muitos dos sintomas com um tratamento adequado. E você não precisa viver dopado de medicamentos para isso. Com o suporte de um médico que se importe de verdade e um acompanhamento adequado e personalizado, é possível alcançar uma qualidade de vida surpreendente.
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