Primeiro dentista prescritor de Cannabis no Brasil, Guilherme Martins defende a inclusão dos canabinoides como matéria básica na faculdade
A história do dentista Guilherme Arthur Martins com a Cannabis medicinal começou como paciente. Sofrendo com lombalgia, estava no Canadá em visita à filha, no ano de 2016, quando foi acometido por uma intensa crise de dor nas costas. “Estava insuportável.”
Buscou os medicamentos alopáticos que já estava acostumado, mas encontrou dificuldade de acesso aos remédios controlados no país norte-americano. No entanto, desde 2001, a Cannabis para fins medicinais é liberada por lá e, por sugestão de um colega, resolveu experimentar.
“Eu fui meio desacreditado à consulta com um médico prescritor e sai com indicação de CBD com THC”, lembra. “No primeiro dia, a dor continuou, mas se tornou suportável. No terceiro, eu já estava completamente sem dor e pude voltar a fazer minhas atividades. Caminhar pelas ruas de Vancouver.”
Dentista prescritor de Cannabis
O resultado extremamente satisfatório o levou a querer conhecer mais sobre as propriedades medicinais da Cannabis. “Eu comecei a pesquisar mais as aplicações dentro da odontologia até que, em 2018, já tendo estudado bastante sobre os fitocanabinoides, uma paciente com dor orofacial, muito ansiosa e com algumas crises de bruxismo veio até mim.”
Com problemas renais e gastrite, a paciente não podia utilizar os medicamentos convencionais, como anti-inflamatórios. Por outro lado, ela já havia realizado o tratamento com Cannabis no exterior e solicitou que seguissem por esse caminho.
“Quando eu dei entrada na Anvisa, em 2018, foi de forma até despretensiosa. Eu pedi uma autorização e consegui a primeira autorização para a prescrição como cirurgião dentista no Brasil. A gente começou a utilizar e logo vi os resultados clínicos.”
Desde então começou a prescrever a Cannabis medicinal para seus pacientes. “De lá pra cá a gente evoluiu muito na questão dos fitocanabinoides e já acumulamos um arsenal terapêutico tremendo para tratar as patologias dentro da odontologia.”
“Os fitocanabinoides menores também, entre eles o CBG e o CBN, só tem agregando cada vez mais na qualidade de vida e bem-estar dos pacientes.”
Redução de alopáticos
De acordo com Martins, o primeiro benefício é uma menor necessidade do uso de medicamentos alopáticos. “Cada vez mais vem diminuindo o uso frequente de benzodiazepínicos, que muitas vezes a gente usa no pré-operatório dos pacientes. A própria prescrição excessiva de anti-inflamatórias não esteroides hoje têm diminuído muito no consultório e a gente sabe da capacidade anti-inflamatória do canabidiol.”
Desde os anos 2020 faz parte da Sociedade Brasileira de Estudo da Cannabis Sativa (SBEC). “Hoje, juntamente com um outro colega também dentista, a gente vem pesquisando muito essas aplicações dele Odontologia. A gente já tem uma Sociedade Brasileira de Odontologia Canabinoide, que foi um grande avanço.”
Dessa forma, busca difundir o uso da Cannabis medicinal entre os dentistas, um universo que engloba menos de 2% dos profissionais no Brasil. “Essa terapêutica, que de nova não tem nada, está sendo muito difundida. Eu falo que é uma questão de tempo mesmo para ter a gente ter mais dentistas prescritores. Meu papel é justamente difundir cada vez mais essa terapêutica que tem crescido de forma exponencial no Brasil.”
Apesar de salientar que não se trata de uma panaceia indicada para todos os males, o dentista lista os benefícios da Cannabis em sua profissão. “Não vai resolver qualquer patologia, mas veio para agregar principalmente em bem-estar e qualidade de vida, principalmente dos que sofrem com ansiedade extrema, que leva ao bruxismo noturno ou de vigília, e dor crônica da região orofacial, que o tratamento é um grande desafio.”
O sistema endocanabinoide
De acordo com Martins, os benefícios se devem à característica do próprio sistema endocanabinoide. “É o responsável por trazer a homeostase de todos os demais sistemas do organismo. Seja digestório, sistema nervoso, sistema esquelético, circulatório do nosso organismo.”
“Isso não é ensinado na faculdade, então o que a gente tem como opção é fazer cursos. Trazer essa formação para os profissionais de saúde de uma forma geral. Não só médicos, como dentistas”, continua.
“A gente produz os dois principais endocanabinoides. A anandamida e o 2AG são inerentes ao nosso corpo. Muitas vezes, os pacientes deixam de produzir esses endocanabinoides, que a gente chama de síndrome da deficiência clínica de produção de endocanabinoides. O que a gente faz como profissional é repor com os fitocanabinoides da planta.”
Desconstruir má informação
Com quase 200 prescrições já concedidas pela Anvisa, o dentista prescritor de Cannabis afirma que a falta de conhecimento de seus colegas é a principal barreira para que mais pacientes sejam beneficiados pelo tratamento canábico.
“Muitas vezes deixam o paciente à deriva, sem saber que pode ser utilizado. O paciente chega no final da linha, quando já tentou de tudo, ele vai atrás da Cannabis, sendo que muitas vezes pode ser até a primeira escolha. Quando eu comecei, muitos médicos disseram que é coisa de louco. É o pré-conceito. Primeiramente a gente tem que desconstruir a informação errada para poder construir essa informação correta. É uma coisa educacional mesmo.”
Sua luta é para que a Cannabis medicinal seja ensinada já na universidade. “A gente tem buscado, por meio da Sociedade Brasileira de Odontologia Canabinoide, fazer do sistema do endocanabinoide uma matéria dentro da própria fisiologia. Uma matéria básica para o aluno saber que isso existe.”
Agende sua consulta
Quem busca um tratamento com Cannabis medicinal, pode agendar agora mesmo uma consulta com o dentista Guilherme Arthur Martins. Ele é um dos quase 200 profissionais da saúde, entre médicos e odontologistas, listados na plataforma de agendamento do portal Cannabis & Saúde.
Basta acessar e preencher um pequeno formulário para marcar sua consulta.