Com o fim da faculdade de medicina, sem certeza de qual especialidade seguir, Ana Caroline Santana de Lima decidiu seguir direto para o atendimento dos pacientes. Observar a profissão na prática antes de decidir quais seriam os rumos de sua carreira.
“Trabalhando, eu fiquei insatisfeita com a medicina. Sentia que era uma medicina bem industrial. Não tinha uma abordagem integrada do paciente nem tempo de qualidade com para o atendimento”, lembra.
Graças a uma colega de profissão, com quem dividia os plantões, lhe mostrou que havia alternativa. “Ela estava fazendo tratamento para ansiedade com óleo à base de Cannabis e eu fiquei super surpresa. Chocada. Na faculdade não tive nenhum contato com sistema endocanabinoide ou com produtos de Cannabis.”
“O máximo que tinha de informação sobre Cannabis era por meio da televisão, com as famílias lutando para conseguir importar óleo para pacientes com epilepsia refratária e ponto. Foi aí que decidi estudar.”
Primeiro como autodidata, depois com cursos, mas, desde o início, percebeu o potencial da Cannabis para transformar o rumo de sua profissão. “Foi paixão a primeira estudada. Eu pensei: não tem como continuar praticando medicina sem levar isso aos pacientes.”
Resultados
Já nos primeiros pacientes, a médica já começou a observar resultados positivos em seus pacientes. “Um caso de ansiedade, cujo paciente tinha uma vida de trabalho bem intensa, e deu um feedback muito interessante.”
“Ele disse que não percebeu que melhorou até que seu carro quebrou, precisou pegar transporte público, perdeu o ônibus e se atrasou para o trabalho. E ele chegou tranquilo. Se fosse antes, teria ficado esbravejando, mas conseguiu lidar com a situação de forma diferente.”
Com outra paciente, diagnosticada com uma síndrome genética rara, dores intensas e há oito anos dependendo do uso de bomba de morfina, o resultado foi ainda mais evidente. “Eu me senti muito desafiada. Me coloquei em dúvida se, de fato, eu teria condições de ajudá-la. De atender as expectativas que ela tinha.”
“Foi sensacional. Com duas semanas de tratamento, ela falou que estava com as dores controladas e sem precisar usar analgésico. Surpreendeu especialmente pelo histórico dessa paciente.”
Outra medicina
Além dos evidentes efeitos terapêuticos, Ana Caroline encontrou na Cannabis um caminho para transformar a lógica “industrial” da medicina que a incomodava.
“Sou muito grata pela Cannabis ter entrado na minha vida. A relação com o paciente muda totalmente. Por ser um tratamento que a gente precisa acompanhar mais de perto, o vínculo com o paciente é muito maior. O tempo de qualidade na consulta é bem maior.”
“É sensacional você oferecer uma alternativa para o paciente, que vem há anos com medicações alopáticas sem sucesso, ou com sucesso a custas de muitos efeitos colaterais.”
A médica explica que o perfil reduzido de efeitos colaterais da Cannabis medicinal acontece pois o organismo está “acostumado” com os principais fitocanabinoides. “O nosso corpo recebe os produtos à base de Cannabis de forma muito mais fisiológica, porque a gente tem substâncias no nosso corpo que são muito parecidas com as substâncias presentes na Cannabis.”
“Eu sempre brinco que a gente não produz Fluoxetina, a gente não produz é outros medicamentos alopáticos, mas a gente produz anandamida e 2-AG, que se parecem muito com o THC e com o CBD. Daí a explicação porque a gente recebe essa medicação de forma muito mais tranquila.”
Saúde mental
Prescritora de Cannabis a quase um ano, Ana Caroline conta que, apesar de tratar casos como Alzheimer e dor crônica, são as queixas relacionadas à saúde mental as mais corriqueiras em seu consultório.
Para propiciar um atendimento mais assertivo, decidiu a psiquiatria como especialização. “É a combinação perfeita, para que eu possa auxiliar os pacientes de maneira melhor e de forma mais global.”
No setembro amarelo, a médica explica o papel da Cannabis no combate ao suicídio. “Das pessoas que têm êxito ou tentam, 90% tem alguma questão de saúde mental. A Cannabis é uma possibilidade de tratamento, seja como adjuvante ou monoterapia, para depressão, que está super associada na incidência de suicídio.”
“Preconceito a gente só vence com a educação”
Mesmo diante a transformação que a Cannabis já proporciona na qualidade de vida de seus pacientes e em seu próprio cotidiano profissional, a médica crê que é só o começo.
“Minhas expectativas são muito otimistas. Eu acredito que enfim a sociedade está se abrindo mais para essa pauta e acredito que a gente vai ter mais incentivo financeiro para estudos e mais acessibilidade.”
Mas, enquanto a regulamentação não avança no legislativo, Ana Caroline aconselha que seus colegas de profissão busquem se informar para que não fiquem para trás. “O primeiro passo é buscar conhecer o sistema endocanabinoide. Entendam como esse sistema funciona no nosso organismo.”
“Se um estudante não tem conhecimento sobre o sistema endocanabinoide na sua formação, que procure fora da faculdade. Os pacientes estão chegando à Cannabis antes dos médicos, então é a nossa obrigação nos informar.”
“O preconceito a gente só vence com a educação. Se for uma opção da pessoa não para prescrever a Cannabis, que busque, no mínimo, compreender que a gente tem o sistema endocanabinoide no nosso corpo com implicação em diversos processos fisiológicos e patológicos do nosso organismo.”
Agende sua consulta
Pela plataforma de agendamento do portal Cannabis & Saúde, você pode agendar uma consulta com a médica Ana Caroline Santana de Lima ou com qualquer um dos mais de 200 médicos, com diversas especialidades, que têm em comum a experiência na prescrição de Cannabis medicinal.