Ao longo da história recente do esporte, incontáveis atletas profissionais foram punidos pelos seus próprios clubes, pelas ligas esportivas ou até mesmo pelas leis por consumirem maconha. O caso mais recente foi o da corredora Sha’Carry Richardson, grande sensação do atletismo estadunidense e que ficará de fora dos 100 metros rasos nas Olimpíadas de Tóquio por causa de um baseado.
A punição reacendeu o debate sobre a Cannabis no esporte. Cada vez mais ligas esportivas estão liberando o uso das substâncias presentes na planta, já que os benefícios dos canabinoides são cada vez mais sentidos por atletas.
“O atleta se recupera mais rápido, claro, junto com a fisioterapia. Mas é importante no tratamento da ansiedade pré-competição. Tomando o CBD ele vai dormir melhor, diminui a ansiedade, e também melhora a inflamação, assim melhora a recuperação muscular. Além disso, tem estudos que falam da importância do CBD na prevenção das lesões a nível do sistema nervoso central”, explica o médico Dr. Wellington Briques, diretor global para assuntos médicos da canadense Canopy Growth, uma gigante da Cannabis.
“Quando a gente tem movimentação do cérebro dentro da caixa craniana e tem uma batida, o cérebro continua em movimento. Ele bate e volta. e onde bateu pode causar uma inflamação, uma concussão. E pode ter uma lesão nisso. E o CBD tem um papel na recuperação, melhora na neuroplasticidade e também como neuroprotetor”, conclui.
Assista nossa live com o Dr. Wellington Briques
Mas antes de continuarmos falando sobre esse movimento sem volta da Cannabis no esporte, vamos lembrar de alguns exemplos que mostram quão graves essas situações eram vistas no mundo dos esportes profissionais.
Começamos essa lista lembrando de um caso brasileiro, o do Giba. Em 2003, o campeão mundial de vôlei pela seleção brasileira testou positivo para Canabis sativa. O doping foi escândalo para o atleta, que cumpriu suspensão de oito jogos no Campeonato Italiano daquele ano e colocou sua imagem à disposição para campanhas antidrogas.
Em 2004, o corredor Ricky Williams foi suspenso da Liga Nacional de Futebol (americano) por 4 jogos após teste positivo para maconha. Pouco depois, foi suspenso por um ano inteiro, após testar positivo de novo.
No ano de 2009, o nadador ouro olímpico Michael Phelps foi suspenso por 3 meses depois que uma imagem dele fumando, supostamente maconha, em um cachimbo viralizou.
Em 2015, Jon Singleton, na época uma das principais estrelas da Major League Baseball, foi rebaixado e suspenso por 100 jogos depois de testar positivo para maconha três vezes. Nos anos seguintes, lutadores notáveis do UFC, como Cynthia Calvillo, Nick Diaz, Niko Price, Curtis Blaydes e Abel Trujillo foram todos suspensos após teste positivo para maconha.
Também em 2018, o bicampeão mundial de skate e maior nome desse esporte no Brasil, Pedro Barros, testou positivo para maconha, mas recebeu uma pena mais branda, de 6 meses, e não 2 anos.
Os esportes profissionais são um bom exemplo de como o tratamento e as opiniões sobre o uso de Cannabis estão em constante mudança. Com a educação continuada sobre a planta e seus benefícios, vemos uma flexibilização nas leis e regulamentos sobre seu uso por até mesmo empresários para seus funcionários.
As restrições estão diminuindo
É somente na última meia década que a indústria de esportes profissionais dos EUA começou a flexibilizar as restrições e penalidades sobre o consumo de Cannabis. Veja o cenário atual para a maconha várias ligas esportivas profissionais americanas:
NFL (futebol americano)
Em 2019, a NFL anunciou várias políticas para entender melhor a Cannabis e seus componentes, incluindo pesquisas sobre como produtos como comestíveis, óleos e vaporizadores poderiam ajudar os jogadores como potenciais ferramentas de gerenciamento da dor. O Comitê de Gestão da Dor se reuniu com fabricantes de canabidiol para aprender mais sobre seu potencial, efeitos e benefícios.
Em 2020, a NFL e a associação dos atletas concordaram com um novo Acordo de Negociação Coletiva de 10 anos que incluiu uma mudança positiva no que diz respeito ao tratamento do uso de Cannabis pelos jogadores. Segundo o acordo, os jogadores não podem mais ser suspensos por teste positivo para THC. Além disso, durante as primeiras duas semanas do campo de treinamento, o limite aumentou de 35 nanogramas de THC para 150 nanogramas.
NBA (basquete)
Embora o consumo de maconha ainda seja proibido pela National Basketball Association, os testes de drogas com a erva para a atual temporada de 2020-2021 foram interrompidos devido à citação das “circunstâncias incomuns da pandemia”.
Em circunstâncias normais, se um jogador da NBA der positivo para Cannabis pela primeira vez, deverá participar de um programa de tratamento antidrogas. Posteriormente, o jogador recebe uma multa pela segunda violação e uma suspensão de cinco jogos sem pagamento pela terceira violação.
MLB (beisebol)
Em dezembro de 2019, a Major League Baseball anunciou que havia chegado a um acordo com a associação dos atletas para remover a Cannabis, o THC e o CBD da lista de drogas da liga. A partir de fevereiro de 2020, de acordo com a MLB, “a conduta relacionada à maconha será tratada da mesma forma que a conduta relacionada ao álcool”, que inclui avaliação obrigatória, tratamento voluntário e disciplina potencial dependendo da conduta (a entidade advertiu os jogadores para não comparecerem para praticar ou jogos intoxicados).
Além disso, naquele mesmo ano foi anunciado que os jogadores da Minor League Baseball não seriam mais testados para maconha e a erva seria retirada da lista de substâncias proibidas. Os jogadores com teste positivo serão admitidos em um programa de tratamento de abuso de substâncias, mas não serão suspensos de nenhum jogo.
NHL (hockey)
A National Hockey League não classifica mais a Cannabis como uma substância proibida, mas continua a testar os níveis de THC. Se o teste de um jogador da NHL testar positivo, não haverá punição. No entanto, se forem detectados níveis anormalmente altos de THC, os médicos da liga recomendam o tratamento.
UFC
Em 14 de janeiro de 2021, o UFC e a Agência Antidoping dos Estados Unidos anunciaram que não puniriam mais os atletas com teste positivo para THC. Anteriormente, os atletas eram testados antes de uma luta. Agora, com a nova mudança, os lutadores com teste positivo não serão punidos. E em julho de 2021, a comissão atlética de Nevada, estado onde fica Las Vegas e onde ocorrem as principais lutas de boxe e UFC, decidiu que não irá mais punir atletas que testarem positivo para maconha.
Desvantagem dos atletas brasileiros
Para o Atleta Cannabis, uma comunidade de esportistas amadores e profissionais que usa e divulga os benefícios dos canabinoides na prática esportiva, os atletas de países como o Brasil, onde o acesso a produtos de Cannabis é mais caro e burocrático, estão em desvantagem competitiva com relação aos adversários dos Estados Unidos e Canadá, por exemplo. Nesses países, produtos com CBD são vendidos sem qualquer restrição, enquanto no Brasil há necessidade de prescrição médica, mesmo se for por atletas.
Veja nossa live com o pessoal do Atleta Cannabis.