Um estudo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) revelou avanços no uso de medicamentos à base de Cannabis no tratamento do Parkinson com. O estudo clínico investigou o uso de dois compostos da planta — o canabidiol (CBD) e o ∆9-tetrahidrocanabinol (THC) — e teve resultados promissores no alívio dos sintomas da condição.
A farmacêutica Ana Ruver, doutora em farmacologia pela UFSC, liderou a pesquisa no Laboratório Experimental de Doenças Neurodegenerativas (LEXDON), em um trabalho considerado pioneiro no Brasil.
Em entrevista, Ana falou sobre os resultados e como esses dados podem abrir caminho para tratamentos mais eficazes e seguros para pacientes com Parkinson.
“Um estudo com uma metodologia validada como essa dá suporte para que mais profissionais tenham segurança para acompanhar seus pacientes e prescrever com mais segurança.”
Do cuidado familiar à pesquisa científica
O interesse de Ana pela Cannabis surgiu de uma experiência pessoal: ao acompanhar o tratamento de seu avô, diagnosticado com Alzheimer. Com o uso de CBD, o idoso recuperou autonomia e estabilizou o quadro, despertando na neta o desejo de investigar o potencial terapêutico dos canabinoides.
Na época, as evidências científicas dos benefícios do tratamento com Cannabis eram mais robustas para o Parkinson do que para o Alzheimer. Inspirada pela experiência do avô, Ana desenvolveu um projeto de pesquisa focado na eficácia dos compostos da planta no tratamento do Parkinson.
O Parkinson é a segunda condição neurodegenerativa mais prevalente, atrás apenas do Alzheimer. Estudos indicam que os compostos da Cannabis podem complementar o tratamento ao reduzir a inflamação cerebral, proteger os neurônios e melhorar a comunicação entre as células nervosas. No entanto, ainda faltavam estudos amplos em humanos.
Estudo traz resultados promissores com Cannabis em pacientes com Parkinson
No total, 68 pessoas com Parkinson participaram da pesquisa. Elas foram divididas em dois grupos: um recebeu um placebo, e o outro, um medicamento contendo 50 mg de CBD e 5 mg de THC. Ao longo de seis meses, os pesquisadores monitoraram os sintomas e os possíveis efeitos colaterais.
Os resultados surpreenderam: pacientes que usaram a combinação de CBD e THC relataram melhorias significativas nos sintomas motores — como tremores e rigidez muscular. Além disso, também foram observados benefícios no sono e bem-estar geral.
Homens e mulheres reagiram de forma distinta ao tratamento
Um dos achados mais interessantes do estudo foi a diferença na resposta entre homens e mulheres. Ana explicou as observações feitas no ensaio clínico.
“Todos os participantes apresentaram melhora. Porém, os homens que receberam os canabinoides já estavam significativamente melhores com 30 dias de uso, e essa melhora se manteve ao longo dos seis meses. Algo inédito.
Para as mulheres, esse efeito surgiu com 90 dias e também se manteve por seis meses.”
Apesar dessa diferença no tempo de resposta, as mulheres apresentaram um ganho específico na flexibilidade — um efeito que não foi observado entre os homens. Além disso, elas reduziram o uso de medicamentos para dormir.
De acordo com a pesquisadora, a explicação pode estar nos hormônios.
“A literatura mostra que há uma diferença na expressão de receptores canabinoides influenciada pelo pelos hormônios, especialmente o hormônio feminino. Agora precisamos investigar se realmente tem alguma questão hormonal que está influenciando nesse sentido.”
Como o estudo pode transformar o tratamento do Parkinson no Brasil
Esse é o primeiro estudo brasileiro com um número significativo de participantes e longa duração que analisou o uso conjunto dos dois compostos mais conhecidos da Cannabis em pessoas com Parkinson. Ana Ruver acredita que esses resultados podem guiar médicos, pacientes e políticas públicas.
“Estudos como o nosso impactam desde o profissional da saúde, que vai ter um algo mais palpável para conseguir guiar o seu acompanhamento, mas também auxilia para que novos estudos surjam com registro de novos medicamentos.”
Os tratamentos atuais para o Parkinson visam aliviar sintomas e melhorar a qualidade de vida, porém seus efeitos tendem a diminuir com o tempo, além de causar reações adversas. Por isso, medicamentos à base de Cannabis surgem como uma alternativa promissora para complementar as abordagens convencionais.
Nova etapa: pacientes do grupo placebo também receberão Cannabis
Após os seis meses iniciais, o estudo avança para uma nova etapa. O grupo que havia recebido placebo na primeira parte passará a usar o medicamento ativo, e os pesquisadores vão monitorar todos os participantes por mais dois anos.
Ana explicou a importância de investigar os efeitos do tratamento com o medicamento à base de Cannabis no longo prazo.
“Entramos agora na fase de farmacovigilância. Nós já vimos quais são os efeitos terapêuticos matematicamente por conta do grupo placebo. Agora, seguimos uma etapa de dois anos, onde a gente vê efeitos tardios e se esses pacientes vão apresentar mais efeitos terapêuticos não vistos até o momento.”
O que dizem os pacientes: como a Cannabis transformou a vida de José
Na sessão “História dos pacientes”, apresentamos recentemente a história de José Piauhy, diagnosticado com Parkinson após um transplante de medula. Além dos tremores típicos da doença, José sofreu com distúrbios do sono e perda de equilíbrio, o que impactou a qualidade de vida dele e dos seus familiares.
A inclusão de medicamentos à base de Cannabis foi um marco no tratamento, como relatou sua esposa, Deise.
“Muita gente ainda tem preconceito porque não conhece, falta informação. Eu faço questão de mostrar como a Cannabis ajudou o José. Não é só sobre o Parkinson — é sobre ter paz, voltar a dormir, caminhar com firmeza e viver com mais dignidade” afirma Deise.
Leia a história completa do José Piauhy clicando aqui.
Como começar um tratamento com Cannabis para Parkinson
Para incluir medicamentos à base de Cannabis no tratamento do Parkinson, é fundamental ter o acompanhamento de um profissional de saúde experiente nesse tipo de prescrição. É importante fazer uma análise cuidadosa da condição, principalmente dos outros remédios que o paciente toma para prever interações medicamentosas.
Além disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) exige uma receita para adquirir os medicamentos de forma legal e segura. Então, o primeiro passo é marcar uma consulta na nossa plataforma de agendamento. Lá, você encontra centenas de profissionais da saúde preparados para avaliar o caso e, se necessário, recomendar a formulação e a dosagem adequadas.
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