O Laboratório de Cannabis Medicinal e Ciência Psicodélica (LCP), da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), está com inscrições abertas para um estudo clínico inédito que investigará os efeitos terapêuticos de compostos à base de Cannabis em pacientes com sequelas de acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico.
A iniciativa, considerada pioneira, é a primeira a aplicar essa abordagem em pacientes humanos com histórico de AVC.
Em entrevista exclusiva ao portal Cannabis & Saúde, o coordenador do estudo, Francisney Nascimento, destacou o ineditismo e a relevância científica da pesquisa. “Até o momento, não existem estudos clínicos conhecidos que tenham testado o uso de Cannabis em pacientes humanos que sofreram AVC isquêmico”, afirma. “A motivação vem justamente dessa base sólida de estudos com modelos animais, que já demonstraram efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e neuroprotetores.”
Quem pode participar?
A pesquisa busca voluntários que tenham sofrido um AVC isquêmico há pelo menos um ano e que apresentem sequelas motoras ou neurológicas decorrentes. Serão selecionadas 20 pessoas para participar do estudo, que terá duração de seis meses e começará em junho de 2025. Os encontros serão presenciais na sede da UNILA, em Foz do Iguaçu (PR), com acompanhamento mensal feito por uma equipe especializada.
Segundo Nascimento, o estudo será realizado em modelo aberto e de braço único. “Todos os participantes receberão o tratamento com o composto de Cannabis e serão monitorados clinicamente mês a mês. Nosso objetivo é analisar a evolução dos sintomas e entender como o produto atua no processo de reabilitação.”
Efeitos esperados e uso do fitocomplexo
O composto utilizado contém tanto o Canabidiol (CBD) quanto o Tetrahidrocanabinol (THC), além de outros canabinoides presentes na planta. “A ideia é aproveitar os efeitos múltiplos dessas substâncias, como ação neuroprotetora, anti-inflamatória e anticonvulsivante”, explica o pesquisador.
A dosagem será definida por titulação, partindo de valores intermediários e ajustando conforme a resposta individual. “Vamos trabalhar com faixas que já sabemos ser seguras, com base em estudos anteriores com doenças neurológicas como Alzheimer”, afirma. “Mas, como ainda não há dados clínicos específicos para AVC, vamos adaptar conforme a evolução de cada paciente.”
Critérios clínicos e protocolos de avaliação
Durante o acompanhamento, os pacientes serão avaliados com base em sintomas específicos, como dificuldades de fala, memória, coordenação motora, locomoção e espasticidade. “Vamos utilizar instrumentos clínicos internacionalmente reconhecidos, com escalas padronizadas para marcha, cognição, comunicação e função motora”, detalha.
Impacto regulatório e expectativas
Caso os resultados sejam positivos, a UNILA pretende avançar para estudos de maior robustez, como ensaios clínicos randomizados com placebo. Além disso, o estudo pode gerar evidências clínicas que subsidiem médicos e autoridades regulatórias.
“Queremos que este estudo sirva como referência para prescrição mais segura e, futuramente, para o registro oficial de medicamentos voltados ao tratamento das sequelas do AVC.”
Por fim, o pesquisador destaca o propósito maior da pesquisa: “Nosso objetivo é oferecer uma alternativa terapêutica baseada em ciência, que possa melhorar a qualidade de vida de pacientes com sequelas neurológicas e, ao mesmo tempo, abrir caminho para novos medicamentos à base de Cannabis no Brasil.”
Importante!
O uso terapêutico de canabinoides tem ganhado destaque como uma opção no tratamento de diversas condições. Mas, para isso, é fundamental que essa abordagem seja conduzida com responsabilidade e acompanhamento de um profissional capacitado na área.
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