Nos últimos anos, um novo tipo de produto derivado de Cannabis se espalhou pelos EUA e Brasil: o delta 8 THC. Comercializado sobretudo em balas, gomas e outros comestíveis, esse canabinoide se popularizou por ser vendido legalmente em muitos estados norte-americanos — mesmo onde a Cannabis é proibida — graças a uma brecha na lei americana de 2018 que permitiu a comercialização de derivados do cânhamo.
Mas, afinal, como o delta 8 THC age no corpo humano? Ele é realmente mais seguro do que o delta 9 THC?
Um estudo publicado recentemente por pesquisadores norte-americanos buscou respostas para essas perguntas. A equipe comparou, em condições controladas, os efeitos dos dois compostos em adultos saudáveis.
Trata-se de um dos estudos mais completos já realizados com o delta 8 THC, trazendo novas informações sobre riscos e benefícios desse composto da Cannabis.
O que são delta 8 e delta 9 THC
Tanto o delta 8 quanto o delta 9 THC são canabinoides, substâncias produzidas naturalmente pela planta Cannabis. Quimicamente, suas estruturas são muito semelhantes; no entanto a planta produz quantidades pequenas de delta 8. Por isso, a produção dele costuma ser em laboratório a partir de outros compostos presentes no cânhamo, principalmente o canabidiol (CBD).
Ambos atuam no cérebro por meio dos mesmos receptores, conhecidos como CB1, parte do sistema endocanabinoide. A ativação dos receptores CB1 gera os efeitos psicoativos típicos da Cannabis rica em delta 9 THC, como euforia, relaxamento e alterações na percepção. Porém, segundo estudos anteriores, o delta 8 seria menos potente.
O estudo com comestíveis canábicos
Os pesquisadores testaram os dois tipos de THC em voluntários adultos, todos com pouca ou nenhuma exposição recente à produtos à base de Cannabis. Em cinco sessões diferentes, cada participante ingeriu um brownie contendo:
- 10 mg de delta 8
- 20 mg de delta 8
- 40 mg de delta 8
- 20 mg de delta 9
- Placebo
Em seguida, os cientistas analisaram o sangue, monitoraram os batimentos cardíacos e aplicaram testes cognitivos, além de entrevistar os participantes sobre como estavam se sentindo.
Efeitos menos potentes que os do delta 9
Os efeitos do delta 8 THC foram claramente dose-dependentes — ou seja, quanto maior a dose, mais intensos os efeitos. Os principais resultados foram:
- Na mesma dose, os efeitos do delta-8 são mais fracos do que os do delta 9.
- A dose de 40 mg de delta 8 causou efeitos muito semelhantes aos 20 mg de delta 9.
- O delta 8 causou menos efeitos negativos (como ansiedade ou confusão) que o delta 9.
- Ambos produziram efeitos agradáveis semelhantes (bem-estar, relaxamento e mudanças na percepção).
Outro achado relevante do estudo foi a descoberta de que tanto o delta 8 quanto o delta 9 são convertidos pelo fígado no mesmo metabólito ativo: o 11-hidroxi-THC (11-OH-THC), responsável por boa parte dos efeitos psicoativos quando ingeridos por via oral.
No entanto, o corpo produz menos 11-OH-THC após o consumo de delta 8, o que pode explicar por que os efeitos do delta 8 são menos intensos.
Uso medicinal do delta 8
O delta 9 THC já é parte do tratamento de sintomas como dor crônica, náuseas em pacientes com câncer, perda de apetite em pessoas com HIV/Aids e espasmos musculares associados à esclerose múltipla. Ele é o ingrediente ativo de medicamentos como o dronabinol, aprovados pelas agências reguladoras dos EUA.
Como o delta 8 atua nos mesmos receptores no corpo, pesquisadores acreditam que ele também possa ter aplicações medicinais — especialmente em pacientes sensíveis aos efeitos do delta 9. Em relatos informais, pessoas têm usado o delta 8 para aliviar sintomas de ansiedade, insônia, depressão e dor.
Apesar disso, os autores alertam: ainda faltam pesquisas clínicas que comprovem a segurança e eficácia do uso medicinal do delta 8. Embora muitos tenham o vejam como uma versão “mais leve”, doses elevadas podem causar efeitos desagradáveis, como taquicardia e episódios de ansiedade.
Além disso, outro risco está na forma como esses produtos são vendidos nos EUA — em embalagens coloridas, semelhantes a doces, muitas vezes com rótulos imprecisos. Isso aumenta o risco de consumo acidental por crianças e adolescentes.
Alerta das autoridades americanas sobre uso do delta 8
Antes da publicação deste estudo, a FDA — agência responsável pelo controle de medicamentos nos EUA — já havia emitido um alerta sobre cuidados com o uso de produtos com delta 8. Os principais pontos do comunicado foram:
- Produtos com delta 8 não tiveram segurança avaliada pela FDA.
- Entre 2020 e 2022, a agência recebeu relatos de 104 pessoas que consumiram delta 8 e sentiram efeitos indesejados, como tremores, desorientação, náuseas e ansiedade.
- Delta 8 THC tem efeitos psicoativos e intoxicantes.
- Produtos com delta 8 frequentemente possuem resíduos de produtos químicos usados na obtenção do canabinoide.
- Produtos com delta 8 devem ser mantidos fora do alcance de crianças e animais de estimação.
Como utilizar medicamentos à base de Cannabis legalmente
No Brasil, o uso de medicamentos à base de Cannabis deve ser feito com o acompanhamento de um profissional da saúde. O médico deve avaliar a condição de saúde do paciente e seu histórico para recomendar o produto com a formulação mais adequada para o tratamento.
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