Comportamentos autistas não são sempre o que imaginamos — e talvez esse seja o maior desafio para quem busca compreender o espectro do autismo de forma empática.
Quando ouvimos essa expressão, é comum que venha à mente uma lista pré-formatada de atitudes: dificuldade de socialização, movimentos repetitivos, resistência à mudança. Mas e se esses comportamentos forem mais sutis?
A verdade é que os comportamentos autistas nem sempre são óbvios. E é por isso que muitas pessoas passam anos sem entender exatamente o que está por trás de certos padrões.
A variedade de manifestações dentro do espectro é tão ampla que dificilmente dois indivíduos autistas apresentarão os mesmos comportamentos da mesma forma.
Isso nos leva a uma questão delicada: como reconhecer esses sinais sem cair em rótulos? O que diferencia um traço de personalidade de um marcador clínico?
Abaixo, vamos explorar esse território com mais profundidade. Se você convive com alguém no espectro, suspeita que possa estar ou simplesmente quer entender melhor esse universo, continue lendo.
Aqui, você aprenderá sobre:
- O que são comportamentos autistas e como se manifestam
- Por que o autismo é considerado um espectro?
- Quais são os comportamentos mais comuns no autismo?
- Quais são os comportamentos repetitivos e manias mais frequentes?
- Comportamentos autistas em crianças e adultos: como se apresentam?
- Como diferenciar TEA de outros transtornos semelhantes
O que são comportamentos autistas e como se manifestam
Comportamentos autistas são ações e interações que refletem a maneira única como o cérebro de uma pessoa atípica processa o mundo. Não é algo que a pessoa escolhe, nem um “jeito errado” de ser.
São características naturais da personalidade desta pessoa, que podem incluir desde dificuldades em manter contato visual até interesses intensos por assuntos específicos.
Você já viu alguém cobrir os ouvidos em um ambiente barulhento, mesmo quando outros não se incomodam? Isso é um exemplo de como comportamentos autistas podem surgir em resposta a estímulos sensoriais.
Sons, luzes, texturas e cheiros podem ser sentidos de forma mais intensa, gerando desconforto ou até dor.
O sistema nervoso reage de maneira diferente, e a pessoa busca alívio, seja evitando a situação, seja repetindo movimentos (como balançar o corpo ou bater as mãos) para se autorregular.
Na comunicação, esses comportamentos também aparecem. Alguns podem ter menos interesse em conversas casuais, preferindo falar sobre temas que as apaixonam, mesmo que pareçam incomuns para os outros.
Outros podem demorar mais para responder a perguntas, não por falta de atenção, mas porque processam a informação em seu próprio ritmo.
Há ainda quem use poucas palavras, mas comunique-se de forma eficaz por meio de gestos ou expressões faciais.
Os interesses restritos são outra marca dos comportamentos autistas. Para muitos, esses focos são fontes de alegria e segurança, não apenas “obsessões”. São estratégias para lidar com o mundo.
Por que o autismo é considerado um espectro?
O autismo é categorizado dentro de um “espectro” porque abrange uma variedade de manifestações. O espectro autista é como uma roda de cores, com infinitas combinações de traços.
Duas pessoas podem ter diagnósticos idênticos, mas necessidades e habilidades completamente diferentes.
Isso acontece porque os comportamentos autistas não seguem um manual. Eles se misturam com a personalidade, as experiências de vida e até o ambiente em que a pessoa está inserida.
O espectro também existe porque o autismo afeta múltiplas áreas: social, sensorial, comunicativa, cognitiva. Alguém pode ter facilidade para aprender idiomas, mas sentir pânico em lugares cheios.
A ideia de espectro surgiu para abandonar os rótulos rígidos do passado, como “Asperger” ou “autismo clássico”. Hoje, entende-se que esses termos não capturam a complexidade real da condição.
O espectro permite que as necessidades de cada um sejam vistas de forma integral, sem hierarquizar quem “sofre mais” ou “funciona melhor”.
Níveis de suporte e variações no desenvolvimento social e cognitivo
O autismo é um espectro, o que significa que existem muitas formas diferentes de manifestar as características. Por isso, quando alguém recebe o diagnóstico de TEA, também vem uma classificação: nível 1, 2 ou 3 de suporte.
Essa divisão não mede a “gravidade”, mas sim o quanto a pessoa precisa de apoio no dia a dia para lidar com os desafios sociais, comunicativos e comportamentais.
- Nível 1: A pessoa consegue se comunicar e ter uma certa independência, mas pode ter dificuldades em interações sociais, mudanças de rotina e interpretar normas sociais. Precisa de ajuda em situações sociais mais complexas e para lidar com imprevistos;
- Nível 2: Aqui, o suporte precisa ser mais frequente. A comunicação já é mais limitada, tanto verbal quanto não verbal, e há maior dificuldade para lidar com estímulos, mudanças e relacionamentos. Reações intensas a barulhos, toques ou frustrações são mais comuns;
- Nível 3: Envolve pessoas que precisam de apoio contínuo. Há limitações severas na comunicação e no comportamento. Muitos não falam ou usam formas alternativas para se expressar. As rotinas são rígidas e os comportamentos repetitivos muito marcantes;
Os níveis de suporte (1, 2 e 3) foram criados para guiar profissionais e famílias, mas não resumem a vida de ninguém.
No desenvolvimento social, a variação é enorme. Alguns adoram estar em grupos, mas não sabem como iniciar uma conversa. Outros preferem interações curtas e objetivas, evitando contato prolongado.
Isso não é falta de empatia. Muitos sentem as emoções alheias intensamente, mas não sabem reagir de forma esperada — como dar um abraço em alguém triste.
Cognitivamente, os mitos são muitos. Há autistas com QI acima da média, outros com dificuldade intelectual, e a maioria está entre esses extremos. O importante é entender que a maneira de aprender pode ser diferente.
Quais são os comportamentos mais comuns no autismo?
Os comportamentos autistas não são escolhas, nem defeitos: são expressões de um cérebro que processa informações de maneira diferente.
Alguns traços são tão marcantes que ajudam a identificar o espectro, mas é preciso lembrar que nenhuma pessoa autista é igual à outra.
O que parece “estranho” para alguns, é apenas uma maneira de existir, de se proteger, de se conectar.
Abaixo estão os comportamentos autistas mais comuns:
1. Dificuldade de interação social e contato visual
Vamos ser sinceros: interagir com outras pessoas pode ser cansativo para todo mundo. Mas para quem tem comportamentos autistas, isso é muito mais intenso.
É como se as regras sociais fossem um jogo complicado, sem manual de instruções. Você já tentou aprender a jogar algo só observando os outros, sem que ninguém te explicasse? É assim que muitos indivíduos atípicos se sentem.
O contato visual é um bom exemplo. Tem gente que acha que evitar olhar nos olhos é falta de interesse, mas na realidade, para muitas pessoas autistas, é uma questão de sobrevivência.
O excesso de estímulo visual pode atrapalhar o processamento do que está sendo dito, ou simplesmente causar um desconforto físico.
Alguns descrevem como “dor”, outros como uma sobrecarga que dificulta a concentração. Não é desrespeito: é uma estratégia para conseguir focar na conversa.
Os comportamentos autistas na interação social também incluem dificuldade em entender nuances. Piadas, ironias, duplos sentidos… Tudo isso pode soar confuso.
Imagine ouvir alguém dizer “estou morrendo de calor” e achar que a pessoa realmente está em perigo. É preciso um esforço consciente para decifrar o que não está sendo dito literalmente, o que pode levar a mal-entendidos.
Mas isso não significa falta de inteligência – muitas vezes, é o oposto. A pessoa pode ter uma memória incrível para fatos, mas precisar de mais tempo para decodificar expressões faciais.
Conversas casuais, como falar sobre o tempo ou perguntar “como vai você” sem realmente querer saber, podem parecer sem sentido.
Alguns autistas preferem diálogos profundos sobre temas específicos, evitando o que consideram superficial. Quando o interesse é genuíno, a conversa flui – só que nem sempre do jeito que a sociedade espera.
2. Rigidez na rotina e resistência a mudanças
Os comportamentos autistas ligados à rigidez surgem da necessidade de previsibilidade. Quando você processa o mundo de maneira intensa, qualquer mudança inesperada pode parecer um terremoto.
Vamos pegar um exemplo simples: o caminho pra escola. Se uma criança autista sempre passa pela padaria, mas um dia a mãe decide ir pelo mercado, o caos pode se instalar.
Não é birra. É o cérebro alertando que algo saiu do script, gerando ansiedade. A rigidez funciona como um antídoto contra essa sensação de perigo. Repetir ações, horários ou rituais traz conforto, porque diminui a incerteza.
Esses comportamentos autistas também aparecem em hábitos específicos. Comer a mesma comida todos os dias, assistir ao mesmo filme repetidamente, ou organizar objetos em ordem precisa são tentativas de criar estabilidade.
A resistência a mudanças muitas vezes é interpretada como teimosia, mas tem raízes neurológicas. O cérebro autista pode ter dificuldade em transicionar entre atividades, precisando de avisos claros e graduais.
Surpresas, mesmo que positivas (como uma festa improvisada), podem desregular completamente. Preparar a pessoa com antecedência, usando cronogramas visuais ou histórias sociais, ajuda a reduzir o estresse.
Cabe lembrar que a rigidez não é algo a ser “consertado”. Em muitos casos, é uma ferramenta de autoproteção. O desafio está em equilibrar a necessidade de segurança com a realidade de que imprevistos acontecem.
Os comportamentos autistas ligados à rotina também têm um lado positivo. A capacidade de focar em detalhes e seguir padrões pode levar a habilidades impressionantes, como dominar instrumentos ou resolver problemas complexos.
3. Preferência por atividades solitárias e interesses restritos
Preferência por atividades solitárias e interesses restritos são traços muito comuns no espectro autista.
Muitas vezes, a pessoa autista se sente mais confortável sozinha porque interações sociais exigem muito esforço: interpretar expressões, entender indiretas, lidar com ruídos… tudo isso pode ser cansativo demais.
Já os interesses restritos — como dinossauros, astronomia, mapas, personagens ou até objetos inusitados — não são simples hobbies.
Eles funcionam quase como uma âncora emocional, algo que traz segurança, previsibilidade e prazer.
Esses interesses costumam ser intensos, detalhistas e duradouros. E quando alguém tenta interromper ou minimizar isso, a reação pode ser forte.
Tais características fazem parte dos comportamentos autistas repetidamente observados por profissionais e familiares.
Por isso, tentar forçar uma pessoa autista a agir “como os outros” pode gerar mais ansiedade e sofrimento. O ideal é entender o que esses comportamentos significam e criar espaços onde ela se sinta segura sendo quem é.
Quais são os comportamentos repetitivos e manias mais frequentes?
Você já parou para observar como cada um de nós tem maneiras próprias de lidar com o estresse, a alegria ou o tédio? No autismo, esses mecanismos costumam ser mais visíveis, mas também mais julgados.
Comportamentos repetitivos não são “manias” no sentido pejorativo. Na verdade, eles são estratégias de autorregulação.
É fácil rotular esses gestos como “estranhos” ou “inadequados”, mas a verdade é que, para quem os vive, são tão naturais quanto respirar. Muitas vezes, tentar suprimi-los causa mais dano do que deixá-los fluir.
Flapping, ecolalia, alinhamento de objetos e movimentos estereotipados
A seguir, vamos explorar alguns dos comportamentos autistas mais comuns. Você vai perceber que, por trás de cada ação, existe uma lógica que merece respeito:
- Flapping: São movimentos rápidos das mãos, como bater palmas perto do rosto ou agitar os braços. Para muita gente, parece “animação” ou “nervosismo”, mas é pura regulação sensorial. Funciona como uma válvula de escape para emoções intensas, sejam positivas ou não;
- Ecolalia: Consiste em repetir frases de filmes, perguntas ou até mesmo sons, pode parecer falta de criatividade, mas tem um papel importante. Às vezes, a pessoa está tentando processar o que ouviu. Outras vezes, é uma forma de se comunicar quando as palavras próprias faltam;
- Alinhar objetos meticulosamente: Seja brinquedos, livros ou talheres, alinhar objetos também entra nos comportamentos autistas frequentes. É uma maneira de criar ordem em um ambiente que pode parecer descontrolado. Cada item no lugar certo traz uma sensação de previsibilidade, algo vital para quem processa o mundo de forma intensa;
- Movimentos estereotipados: Balançar o corpo, girar em círculos ou andar na ponta dos pés ajudam a regular o sistema nervoso, seja acalmando, seja liberando energia acumulada.
Criticar esses comportamentos autistas é ignorar sua função. Claro, se o movimento causar dano físico, como bater a cabeça, é preciso redirecionar, mas sempre com entendimento, não repressão. A questão não é eliminar, mas garantir segurança.
Comportamentos autistas em crianças e adultos: como se apresentam?
Na infância, os comportamentos autistas costumam ser mais explícitos. Crianças não têm filtros sociais tão desenvolvidos, então expressam suas necessidades de forma direta.
Um menino que gira sem parar no parque, uma menina que só come alimentos da mesma cor, ou um adolescente que repete frases inteiras de um desenho: tudo isso são tentativas de comunicação e regulação.
Já nos adultos, esses traços podem ser mais sutis, mas não menos presentes. A sociedade pressiona para que os “comportamentos autistas” sejam escondidos, o que leva muitos a desenvolverem estratégias de camuflagem.
Um adulto que balança a perna discretamente debaixo da mesa, ou que alinha os post-its na mesa de trabalho, está usando versões “socialmente aceitáveis” dos mesmos mecanismos.
Vamos listar alguns exemplos, separando por faixa etária, mas lembre-se: cada pessoa autista é única, e os comportamentos variam conforme personalidade, contexto e acesso a suporte.
Em crianças:
- Interesses restritos intensos: Focar em um único assunto (como dinossauros ou números) por horas, recusando-se a falar de outros temas;
- Sensibilidade sensorial extrema: Tapar os ouvidos em ambientes barulhentos, recusar roupas com certas texturas, ou cheirar alimentos antes de comer;
- Dificuldade em brincadeiras simbólicas: Preferir enfileirar brinquedos a criar histórias com eles;
- Atraso ou diferença na fala: Usar frases prontas de desenhos ou filmes para se comunicar (ecolalia funcional).
Em adultos:
- Camuflagem social: Copiar expressões faciais ou gestos de outras pessoas para “passar despercebido”;
- Rituais internos: Contar mentalmente, repetir padrões de pensamento, ou seguir rotinas invisíveis (como sempre tomar café na mesma xícara);
- Burnout autístico: Crises de exaustão após anos de esforço para se adequar, levando à necessidade de isolamento prolongado;
- Interesses especializados: Transformar paixões de infância em carreiras ou hobbies altamente técnicos (como programação ou colecionismo).
Sinais sutis que passam despercebidos por anos
Você já conheceu alguém que parece “desligado” em conversas, mas se transforma quando fala de um assunto específico? Ou aquela pessoa que sempre evita tocar em certas texturas, como lã ou etiquetas de roupa?
Esses detalhes, muitas vezes vistos como “manias”, podem ser comportamentos autistas que escapam ao radar por anos.
A questão é que o autismo não se resume a traços óbvios, como não falar ou balançar o corpo. Existem sinais tão sutis que até profissionais não conseguem perceber.
Um exemplo são crianças que não fazem birras, mas entram em colapso silencioso, mordendo a própria mão ou se isolando. Ou adultos que parecem calmos, mas estão em pânico interno porque a rotina do trabalho mudou.
São reações que não gritam “autismo”, mas estão ligadas a como o cérebro processa estresse.
Comportamentos autistas também incluem padrões de fala peculiares. Alguém que fala num tom monocórdico, como se estivesse lendo um manual, ou que interrompe conversas para trazer dados aleatórios sobre um tema de interesse.
São detalhes que, isolados, parecem irrelevantes. Mas quando se repetem, formam um padrão. O problema é que a sociedade tende a normalizar isso como “timidez” ou “excentricidade”, especialmente em pessoas com alto QI.
E tem a questão sensorial disfarçada. Aquele colega que sempre usa roupas largas, mesmo no calor, pode estar evitando costuras que arranham.
A criança que recusa comer alimentos misturados (como arroz com feijão) não é “chata”: está lidando com uma sensibilidade. Esses comportamentos autistas são invisíveis.
O desafio é que, sem reconhecer esses sinais, muitos indivíduos autistas passam a vida se perguntando por que se sentem tão deslocados.
E é aí que começa outra confusão: sintomas que se sobrepõem a outros transtornos, como TDAH ou ansiedade social.
Como diferenciar TEA de outros transtornos semelhantes
Os comportamentos autistas muitas vezes se misturam com sintomas de outros diagnósticos, e é fácil cometer erros. No TDAH, por exemplo, a desatenção é comum, mas costuma vir com hiperatividade motora.
Uma criança autista pode parecer desatenta porque está focada em um interesse restrito, ignorando o ambiente. Já no TDAH, a desatenção é difusa, pulando de estímulo em estímulo.
Outra diferença está na comunicação: autistas podem ter dificuldade em entender metáforas, enquanto pessoas com TDAH geralmente compreendem, mas se distraem no meio da explicação.
Transtornos de comunicação, como o TDL (Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem), também geram confusão. Crianças com TDL podem querer interagir, mas não conseguem formar frases coesas.
Já em comportamentos autistas, a dificuldade está na reciprocidade: a pessoa até fala bem, mas não percebe quando o outro está entediado ou não ajusta o tema da conversa.
Essas nuances mostram que o diagnóstico não é uma lista de sintomas, mas uma análise de como a pessoa funciona no dia a dia. E mesmo assim, a linha é tênue.
Por isso, muitos acabam recebendo diagnósticos errados antes de descobrir o autismo, especialmente quando outras condições, como TDAH, estão presentes.
TDAH, transtornos de comunicação e ansiedade social
Imagine passar a vida fazendo tratamento para ansiedade, mas nenhum remédio funciona. Ou ser diagnosticado com TDAH, mas as estratégias padrão não ajudam.
Essa é a realidade de muitas pessoas, cujos comportamentos autistas são mascarados por condições coexistentes.
No TDAH, a impulsividade e a dificuldade de organização são marcantes. Um autista pode ter problemas similares, mas por motivos diferentes.
Por exemplo: esquecer compromissos não é por desatenção, mas por hiperfoco em uma atividade. A agitação motora no TDAH é constante, já no autismo, pode surgir apenas em situações de sobrecarga sensorial.
Transtornos de comunicação, como a gagueira ou o mutismo seletivo, também se confundem com autismo. A questão é que, no autismo, a comunicação não-verbal é afetada junto com a verbal.
Alguém com mutismo seletivo pode usar gestos ou expressões faciais normalmente. Já um indivíduo autista pode ter dificuldade em coordenar olhar, gestos e fala, mesmo quando consegue se expressar.
A ansiedade social merece atenção especial. Muitos atípicos desenvolvem fobia social após anos de tentativas mal-sucedidas de interagir.
A diferença é que, no autismo, a raiz do problema está na dificuldade de ler dicas sociais, não no medo de ser julgado.
Uma pessoa autista pode não perceber que está sendo rude, enquanto alguém com ansiedade social sabe as regras, mas teme não as cumprir.
Comportamentos autistas também se misturam com transtornos obsessivo-compulsivos (TOC). Contudo, no autismo, a repetição de ações (como alinhar objetos) visa trazer conforto, não evitar catástrofes.
O que complica ainda mais é a coexistência de diagnósticos. Estima-se que até 70% das pessoas autistas tenham TDAH, e muitos também lidam com ansiedade.
Seja qual for o diagnóstico, o que importa é ouvir como a pessoa experiencia o mundo. Autismo, TDAH, ansiedade – todos merecem estratégias que respeitem sua forma única de existir.
Canabidiol no TEA: o que já se sabe sobre seus efeitos no comportamento
Um estudo de caso de 2022 acompanhou um menino de 9 anos, diagnosticado com TEA não verbal, que apresentava comportamentos autistas intensos.
Sua família relatava explosões emocionais (como gritos e agressividade), automutilação (bater a cabeça contra a parede), dificuldades graves de comunicação e distúrbios do sono (acordava múltiplas vezes por noite).
Esses sintomas comprometiam a capacidade da criança de interagir na escola e em casa, sobrecarregando os cuidadores.
O pediatra sugeriu iniciar um protocolo de tratamento com um óleo de espectro completo com 20 mg de CBD (Canabidiol) e <1 mg de THC por mililitro.
Após 8 semanas de terapia, essa formulação foi capaz de promover os seguintes benefícios:
- Redução de 70% nas crises de violência (de 10 para 3 episódios semanais);
- Automutilação quase eliminada (de 15 para 2 ocorrências semanais);
- Sono consolidado (dormia 8 horas ininterruptas, contra 3–4 antes);
- Melhora na comunicação não verbal (passou a apontar para objetos desejados);
- Interações sociais mais frequentes (iniciou contato visual breve e brincou ao lado de colegas).
A fórmula de espectro completo foi importante, pois incluía canabinoides secundários (como CBG e CBC) e terpenos que potencializam os efeitos terapêuticos. Não houveram efeitos adversos, apenas sonolência leve.
Mecanismos explicados
O CBD se liga indiretamente aos receptores CB1 no sistema endocanabinoide do corpo, modulando a liberação de neurotransmissores.
No autismo, há evidências de excesso de glutamato, que desencadeia irritabilidade e hiperexcitabilidade. O CBD reduz essa atividade, acalmando circuitos cerebrais ligados às explosões.
Já o THC, em doses mínimas, ativa parcialmente o CB1, estimulando a plasticidade sináptica, área responsável pelo planejamento e interação social. Isso pode explicar a melhora na comunicação não verbal do paciente.
O Canabidiol também ativa receptores 5-HT1A, associados à regulação do humor e ansiedade. Em pessoas autistas, desequilíbrios nesse sistema estão ligados a comportamentos repetitivos e rigidez.
A estabilização da serotonina ajuda na flexibilidade cognitiva, permitindo que o paciente se adapte a mudanças sem colapsos.
Este fitocanabinoide da Cannabis também aumenta a disponibilidade de anandamida (um endocanabinoide), reduzindo a urgência de comportamentos autodestrutivos.
Já o THC em microdosagens ajusta a fase REM, essencial para a recuperação neural. A combinação regulou o ciclo circadiano do paciente, melhorando a qualidade do sono e, consequentemente, o humor diurno.
Terpenos como mirceno (analgésico) e limoneno (ansiolíticos) presentes no óleo de espectro completo amplificam os efeitos do CBD e THC.
Conclusão
Comportamentos autistas não são barreiras intransponíveis, mas sinais de um cérebro que opera com regras próprias.
E é possível melhorar a qualidade de vida do indivíduo atípico sem apagar essas características.
A chave está em intervenções que respeitem a neurodiversidade, agindo nas raízes biológicas dos desafios, não apenas nos sintomas.
Se você busca alternativas para apoiar alguém com autismo, agende uma consulta na plataforma do Cannabis & Saúde.
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