A regulamentação da Cannabis para fins medicinais e de pesquisa em todo o mundo permite que cientistas investiguem o impacto dos canabinoides durante a gestação. Muitas mulheres grávidas podem querer optar pelo uso de produtos à base de canabidiol (CBD), acreditando que o consumo desse canabinoide é mais seguro do que o do delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), o composto psicoativo da planta.
Nesse contexto, um estudo feito no Canadá e publicado na revista eBioMedicine alerta para os riscos do uso oral de CBD e THC na gravidez. Os pesquisadores observaram que ambos podem prejudicar o desenvolvimento fetal e causar alterações comportamentais nos bebês após o nascimento.
Os desafios estudar os efeitos da Cannabis na gestação
A realização de experimentos científicos em mulheres grávidas levanta importantes dilemas éticos, já que pode colocar em risco não apenas a saúde da mulher, mas também o desenvolvimento do bebê. A comunidade científica tem investido em alternativas ao uso de animais em pesquisas, como o desenvolvimento de modelos de laboratório, incluindo técnicas in vitro e computacionais.
No entanto, esses modelos ainda não conseguem reproduzir toda a complexidade de um organismo vivo, tornando o uso de animais necessário para o avanço da ciência. Pesquisadores buscam constantemente novas formas de minimizar o sofrimento animal e garantir a qualidade dos estudos.
Além disso, investigar os efeitos da Cannabis na gravidez em humanos é especialmente desafiador, pois o relato do próprio paciente nem sempre é livre de vieses. Também há diversos fatores que podem afetar o feto durante a gestação. Por isso, o uso de modelos animais ajuda a compreender os impactos dos canabinoides no organismo da mãe e do bebê.
Os riscos do uso de Cannabis durante a gestação
Pesquisadores investigaram os efeitos do consumo oral de óleos ricos em CBD e THC em camundongas grávidas, administrando doses de 20 mg/kg do início ao meio da gestação. O objetivo era entender como esses compostos influenciam a remodelação das artérias espirais maternas (essenciais para o suprimento de sangue ao feto), o crescimento fetal e o comportamento dos filhotes após o nascimento.
Os resultados mostraram que tanto o CBD quanto o THC prejudicaram a adaptação das artérias maternas, reduzindo o fluxo sanguíneo para o feto e resultando em um crescimento comprometido.
Além disso, os filhotes expostos ao THC ou CBD no útero apresentaram alterações comportamentais significativas após o nascimento.
- Crescimento: os filhotes de mães expostas ao THC nasceram com peso consideravelmente menor. Já os expostos ao CBD tiveram variação no peso, com muitos abaixo do esperado.
- Comportamento: os filhotes machos expostos ao THC apresentaram maior agressividade e hiperatividade, enquanto as fêmeas tiveram dificuldade em aprendizado espacial, comprometendo a orientação no ambiente.
- Metabolismo: a exposição ao THC no útero reduziu a taxa metabólica e o gasto energético nos filhotes machos. Aumentando o risco de obesidade e síndrome metabólica na vida adulta.
Impactos no cérebro e no metabolismo
Os pesquisadores observaram que tanto o THC quanto o CBD interferem na produção de proteínas essenciais para a formação de vasos sanguíneos na placenta, afetando o crescimento dos filhotes. Além disso, os compostos atravessam a placenta e chegam diretamente ao feto, impactando o desenvolvimento cerebral e metabólico.
Embora o estudo tenha sido realizado em animais, os resultados sugerem possíveis efeitos semelhantes em humanos. Em testes in vitro, as células imunes humanas expostas ao CBD e ao THC também apresentaram redução na produção de novos vasos sanguíneos.
Os pesquisadores reforçaram os riscos do consumo de produtos à base de Cannabis na gestação.
“Apesar do consumo oral de Cannabis e CBD ser percebido como mais seguro, nosso trabalho demonstra que o consumo oral de THC e CBD durante o início e o meio da gestação em camundongos resulta em complicações significativas na gravidez e consequências comportamentais na prole.
Nossos dados contribuem para o paradigma crescente de que a exposição à Cannabis durante a gravidez resulta em efeitos prejudiciais ao feto em desenvolvimento e sugere que o consumo oral não pode ser considerado seguro.”
Quando o uso de Cannabis pode ser avaliado durante a gestação
Em entrevista sobre uso de Cannabis na gravidez, a Dra. Amanda Medeiros destacou que há casos específicos em que o uso pode ser considerado, como para gestantes com epilepsia ou outras doenças graves.
“A princípio, a gente não recomenda CBD para gestantes. Mas se a gestante corre risco de vida ou se ela já faz uso do CBD, temos a opção de manter ou não.
Por exemplo, se uma paciente com epilepsia já está fazendo uso do CBD e a epilepsia está controlada, o risco de parar o uso, voltar para anticonvulsivantes alopáticos, ter todo um período de adaptação… Corre o risco dessa paciente vir a convulsionar, cair e perder o bebê. É um risco muito grande.
Então, se ela já está fazendo uso, a gente mantém o uso do CBD em patologias neurológicas graves, mas se ela não está fazendo uso do canabidiol, não é durante a gestação que ela deve iniciar.”
Utilizando medicamentos à base de Cannabis com segurança
A recomendação dos especialistas é evitar o consumo de produtos à base de Cannabis desde o início da gestação até o fim da amamentação. Estudos anteriores indicam que tanto o THC quanto o CBD podem passar para o bebê através do leite materno.
Passado esse período tão especial, é possível iniciar ou retomar um tratamento com medicamentos à base de canabinoides sob orientação médica.
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