Na noite de ontem, a médica fisiatra Dra. Lia Likier Steinberg foi a nossa convidada da live “Cannabis e qualidade de vida em pacientes com doenças crônicas”. A profissional respondeu perguntas e explicou os porquês da Cannabis representar uma nova era na medicina.
Uma história de vida com dores que encontrou alívio com a Cannabis
A médica começou a transmissão contando sua própria história de voda com dores. Aos cinco anos ela teve a primeira crise de enxaqueca, aos 14 anos teve a primeira ciática, com 17 anos operou uma hérnia de disco. “Dentro do meu contexto de sentir muita dor, eu tive a oportunidade de ir para a Holanda algumas vezes e consegui morar lá. Após certo tempo consegui encontrar realmente um alívio com a Cannabis naquele país. E isso foi um divisor de águas para a minha vida”, relata.
Porém, a prescrição para seus pacientes veio muitos anos depois. O gatilho não foram as dores, mas sim a Covid-19, especificamente a Covid longa.
“Em meus 30 anos de prática médica, sempre notei que os pacientes melhoravam, mas raramente recebia mensagens espontâneas de agradecimento. Agora, é comum receber relatos de pacientes dizendo: “Doutora, estou escrevendo para agradecer porque estou me sentindo muito melhor!” Essa mudança na dinâmica é significativa. Antes, quando um paciente melhorava de uma condição, geralmente vinha ao consultório para discutir outro problema, mas agora, muitos estão simplesmente expressando sua gratidão”.
Além disso, a médica sugere que a maior prova da eficácia do tratamento com Cannabis é o número crescente de pacientes que chegam até ela por meio de indicações de outros pacientes. A confiança gerada por essas recomendações é um testemunho do impacto positivo que a Cannabis pode ter na vida das pessoas. Leia relatos de pacientes aqui.
“Falo com as pessoas, e não com as doenças”
Segundo a médica, a Cannabis tem se mostrado uma ferramenta valiosa no tratamento de diversas condições de saúde, especialmente em doenças crônicas. No entanto, é importante ressaltar que não existe uma fórmula exata para seu uso. Cada paciente é único, e a resposta ao tratamento pode variar amplamente.
“A eficácia da Cannabis está intimamente ligada ao sistema endocanabinoide (SEC), que desempenha um papel fundamental na regulação de várias funções corporais e na modulação da dor, do humor e da inflamação”.
Para Dra. Lia, a Cannabis não é uma solução mágica, mas sim uma ferramenta poderosa que, quando utilizada de forma adequada, pode proporcionar alívio significativo e melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças crônicas. Por isso, deve ser considerada como uma nova era na medicina.
Neste sentido, a personalização do tratamento e a compreensão das necessidades individuais são fundamentais para maximizar os benefícios dessa terapia. É por isso que o acompanhamento médico é imprescindível. “A Cannabis serve como ferramenta de autocuidado e é o que mais me interessa. Pois a pessoa vai se percebendo e conquista vida plena”.
Fitocanabinoides são uma porta para sair da medicina que é apenas paliativa: Cannabis como uma nova era na medicina
“Com a Cannabis vejo que a gente consegue atuar na real causa dos problemas e que, às vezes, são antigos”. Conforme a Dra. Lia explica na live, os fitocanabinoides, compostos encontrados na planta da Cannabis como o CBD, THC, CBN, THCV e CBG, estão emergindo como uma alternativa promissora que pode transformar a forma como abordamos o tratamento de diversas condições de saúde. Para ela, tradicionalmente, a medicina tem se concentrado em oferecer soluções paliativas, ou seja, tratamentos que aliviam os sintomas sem necessariamente tratar a causa subjacente da doença.
Por exemplo, em condições como a dor crônica, a ansiedade e a inflamação, os fitocanabinoides podem não apenas aliviar a dor ou a ansiedade, mas também ajudar a regular a resposta inflamatória do corpo. Isso significa que, em vez de simplesmente tratar os sintomas, estamos potencialmente abordando a raiz do problema.
“O CBD é um potente anti-inflamatório que atua na cascata da inflamação e ele pode ser uma boa opção para a dermatite de contato, por exemplo”.
Doenças crônicas e Cannabis
As doenças crônicas, que incluem condições como diabetes, hipertensão, artrite, doenças cardíacas e distúrbios neurológicos, afetam milhões de pessoas em todo o mundo. As doenças crônicas não transmissíveis matam cerca de 41 milhões de pessoas por ano, segundo a OMS. Isto corresponde a 71% das mortes no mundo todo.
No Brasil, estas doenças são responsáveis por aproximadamente 1,8 milhões de internações anuais no Sistema Único de Saúde. Os dados são do relatório “Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas e Agravos não Transmissíveis no Brasil 2021-2030”, que tem como base dados de 2019.
Existem vários tipos de doenças crônicas, como as do coração. De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 14 milhões de pessoas têm alguma doença cardiovascular. E as doenças crônicas impactam significativamente a qualidade de vida, levando a incapacidades, limitações físicas e mentais, e perda de independência.
Já que as condições são frequentemente caracterizadas por sintomas persistentes e debilitantes que impactam significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Nos últimos anos, as moléculas da Cannabis tem ganhado destaque como uma opção terapêutica para o manejo dessas doenças, oferecendo uma alternativa aos tratamentos convencionais.
“Cada situação é única e os pacientes também. Hoje encontramos no mercado canabinoides como o CBD que é a grande vedete com efeito neuroprotetor e anti-inflamatório que muitas vezes conseguimos desmamar pacientes de remédios fortes para dormir, tenho pacientes que conseguiram fazer isso”.
O que são doenças crônicas?
As doenças crônicas são condições de saúde que duram por um longo período, geralmente mais de três meses, e podem ser progressivas. Elas podem resultar em complicações graves e exigem um gerenciamento contínuo. Os sintomas podem variar amplamente, incluindo dor, fadiga, inflamação, e problemas de mobilidade, que podem afetar a capacidade do paciente de realizar atividades diárias.
A médica pontua que não existe receita pronta para tratamentos com fitocanabinoides. Porém, há diferenças nos tratamentos.
“Tem pessoas com problemas gravíssimos que penso que vai precisar de 100 mg e com 10 mg a pessoa fica ótima. Já tem outras situações de problemas que teoricamente não são tão graves, não tão incapacitantes e às vezes precisam de doses muito mais altas”.
Para a médica, um dos usos mais comuns da Cannabis em pacientes com doenças crônicas é o alívio da dor. “Nem sempre o paciente fica livre de outras medicações, mas muitas vezes sim. E consegue alcançar qualidade de vida”, pontua.
“Pacientes relatam que os problemas vêm. Mas eles já não afetam tanto e isso é tudo na questão de doenças autoimunes”
Por fim, a médica explica que a Cannabis representa uma alternativa promissora no manejo de doenças crônicas, oferecendo alívio para sintomas que muitas vezes são difíceis de tratar com medicamentos convencionais. À medida que a pesquisa sobre os fitocanabinoides avança, espera-se que mais evidências surjam, apoiando seu uso e ajudando a moldar o futuro do tratamento de doenças crônicas.
Igualmente, a médica compartilhou que, nos anos 80, quando ainda era recém-formada, conhecia colegas mais experientes que eram relutantes em aceitar a cirurgia por laparoscopia. Hoje, no entanto, aqueles que não realizam esse tipo de procedimento estão em desvantagem no mercado. Para ela, a lógica em relação à terapia canabinoide seguirá um caminho semelhante.
𝗜𝗺𝗽𝗼𝗿𝘁𝗮𝗻𝘁𝗲: O acesso legal à Cannabis medicinal no Brasil é permito mediante indicação e prescrição de um profissional de saúde habilitado. Caso você tenha interesse em iniciar um tratamento com canabinoides, consulte um profissional com experiência nessa abordagem terapêutica.