Recentemente, o periódico científico Journal of Natural Products publicou uma análise de um canabinoide menor ainda pouco explorado: o canabiciclol (CBL). Os canabinoides são compostos químicos encontrados na Cannabis que vêm despertando grande interesse da comunidade científica devido aos seus efeitos terapêuticos.
Nesse contexto, investigar as propriedades do CBL amplia nosso conhecimento sobre a composição da planta e pode também contribuir para o desenvolvimento de novos tratamentos.
Cannabis: canabinoides maiores e menores
A Cannabis é uma planta quimicamente complexa, produzindo mais de 100 compostos quase exclusivos, chamados de canabinoides. Entre eles, os mais conhecidos e abundantes na planta são o canabidiol (CBD) e o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), amplamente utilizados no tratamento de diversas condições de saúde.
Além do CBD e do THC, a planta também produz outros compostos em quantidades menores, que por isso são conhecidos de canabinoides menores. Muitos deles possuem características singulares e interagem com o nosso organismo de maneira diferente dos compostos mais populares da Cannabis.
O canabigerol (CBG), por exemplo, é um canabinoide menor que tem atraído a atenção de pesquisadores nos últimos anos por sua ação específica com receptores organismo. Ele apresenta efeitos neuroprotetores, anti-inflamatórios e analgésicos, e já faz parte da composição de alguns medicamentos disponíveis no mercado.
Outro canabinoide menor que vem ganhando destaque é a tetrahidrocanabivarina (THCV), que pode reduzir o apetite e tem potencial para auxiliar no tratamento de distúrbios metabólicos, como diabetes, além da compulsão alimentar.
O que é o canabiciclol (CBL)?
Diferente de outros canabinoides, o canabiciclol não é produzido diretamente pela planta. Ele se forma a partir da transformação de um outro canabinoide, o canabicromeno (CBC), por meio de processos como exposição ao calor e à luz. Curiosamente, segundo o estudo, havia canabiciclol em uma amostra de Cannabis de 2.700 anos atrás encontrada na China.
O estudo revelou que o CBL tem pouca afinidade com os receptores CB1 e CB2 do sistema endocanabinoide. No entanto, pode influenciar um neurotransmissor importante: o receptor de serotonina 5-HT1A.
Os receptores 5-HT1A desempenham um papel essencial em diversas funções cerebrais, como regulação do humor, sono e apetite. Sua ativação está associada à redução da ansiedade, equilíbrio emocional e à sensação de relaxamento. Além disso, também modula a liberação de outros neurotransmissores.
Em testes laboratoriais, o canabiciclol atuou como um modulador alostérico do receptor 5-HT1A. Isso significa que ele não ativa o receptor diretamente, mas aumenta a eficácia da serotonina nesse processo — como um dimmer que ajusta a intensidade da luz, em vez de apenas ligar ou desligar.
Essa característica pode abrir caminho para novas abordagens terapêuticas mais específicas e com menos efeitos colaterais comuns à ativação dos receptores CB1 e CB2, como sedação ou efeitos psicoativos.
Efeitos ansiolíticos do canabiciclol
Outros canabinoides da Cannabis também interagem com o receptor de serotonina 5-HT1A, porém de maneiras diferentes:
- CBD: atua como agonista parcial do receptor 5-HT1A, ou seja, ativa o receptor, porém com menor intensidade que a serotonina. Essa interação pode ser responsável por alguns efeitos ansiolíticos e redutores de estresse do CBD.
- THC: sua interação com o receptor 5-HT1A pode variar dependendo da dose e de outros fatores. Em doses baixas, o THC pode ter efeitos ansiolíticos, porém em doses mais altas pode intensificar a ansiedade em algumas pessoas.
Além dos canabinoides, alguns medicamentos ansiolíticos e antidepressivos também atuam nos receptores 5-HT1A, como buspirona, tandospirona e vilazodona.
Perspectivas futuras para o CBL
Um dos principais desafios para o uso do canabiciclol é a sua produção em grande escala, já que ele é derivado de um outro canabinoide encontrado em quantidades muito pequenas. O estudo destacou um método eficiente para sintetizar o CBL usando um catalisador chamado montmorilonita, que teve um rendimento de 60%. Além disso, o CBL demonstrou boa estabilidade em temperaturas entre 25°C e 40°C, facilitando o seu armazenamento em temperatura ambiente.
Com mais pesquisas, o CBL pode se tornar um componente promissor no desenvolvimento de novas terapias para a saúde mental.
Como iniciar um tratamento à base de Cannabis
Os compostos da Cannabis mais estudados pela ciência já são amplamente utilizados no tratamento de condições relacionadas à saúde mental, como:
Desde 2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamenta o uso de derivados da Cannabis para fins medicinais e faz exigências para adquirir os produtos. Portanto, se você deseja incluir medicamentos com canabinoides na sua rotina de cuidados, é fundamental ter o acompanhamento de um profissional da saúde.
Durante a consulta com o médico, ele irá avaliar sua condição e discutir as necessidades. Caso seja necessário, ele irá recomendar um produto, formulação e dose mais indicados para o seu caso.
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